A CORTEZÃ VIRGEM Cap, X

A CORTEZÃ VIRGEM Cap. X

envolver com aquele menino, ele era uma criança!... Meu Deus, como é que um guri deste pode balançar a minha cabeça! De uma moça como eu, na minha idade!

- Da sua idade? E que idade você tinha, Jessika?

- O dobro da idade dele, ou um pouco menos, talvez!

- E o que aconteceu depois?

- Eu menti. Não tinha ninguém me esperando, e eu não ia sair mais tarde, apenas não queria vê-lo.

Era fim de temporada escolar! Então consegui me manter á distância, não dando oportunidade para uma nova tentativa dele; muito embora ele não tenha feito nenhuma proposta, ou falado em namoro.

Começaram as férias. Eu fui para minha terra, e fiquei um mês.

Aproveitei que estava de férias do meu emprego, e viajei.

Mesmo perto do homem que eu amava; este sim, um amor impossível.

Eu continuava pensando naquele pirralho. Mas acredite, eu tinha saudades dele, mas não me passava pela cabeça outra coisa senão uma grande amizade!

Eu gostava dele, mas como companheiro. Como um amigo muito querido. Meu Deus, eu já tinha terminado o penúltimo ano de magistério. Eu comecei tarde os meus estudos. Estava atrasada, mas tinha muita vontade de me formar!...

Um dia eu recebi uma carta dele dizendo que estava com saudades, e esperava que eu não demorasse voltar!

Eu não respondi sua carta, e pensei: se ele perguntasse, diria que não a recebi.

Naquele ano eu demorei voltar. Eu estava com vontade mesmo de mudar de serviço, e se eu fosse despedida, não teria importância! Mas quando voltei, continuei trabalhando no mesmo emprego, e um dia ele apareceu e disse que precisava falar comigo. Gelei! Mas procurei me manter calma, como se nada tivesse acontecendo.

Num Domingo eu estava em casa, não tinha vontade de sair. Então ouvi uma buzina. Não sei por que pensei que fosse ele. Corri para o portão. Era ele. Você não imagina a satisfação que tive ao vê-lo.

Sabe, Joice, eu não entendia aquele sentimento. Não entendia por que fiquei tão feliz. Eu estava como uma menina; como aquelas garotas do primário, do ginasial.

Era como se aquele fosse o meu primeiro amor. Tive medo que ele percebesse!

Ele desceu do carro, e perguntou-me: - Você vai sair Jessika?

- Não, pôr que?

- Eu preciso fazer uma visita, e não queria ir sozinho. Quer ir comigo?

- Não sei Helhinho, estou esperando uma visita, não sei que horas ela vem!

- É o seu amigo?

- É sim!

- Está bem. Então eu vou sozinho, obrigado!

- Eu tive tanta pena dele, que quase gritei para ele me esperar. Mas consegui conter-me e pensei: “Isso é uma loucura”! Isso não está acontecendo comigo!

Recomeçaram as aulas, e felizmente ele não voltou!

Fiquei sabendo que ele havia trocado de horário, tinha passado para o horário de urno! Eu não sei se fiquei contente com isso. Afinal, era isso mesmo que eu queria ficar longe dele. Mas por que não estava contente? Por que fiquei triste?

Depois daquele dia que ele veio me convidar para ir fazer aquela visita, não o vi mais. Com o passar do tempo, eu pensei menos nele, e recomecei minha vida pacata que estava ficando tumultuada.

Tudo teria terminado bem, se o destino não tivesse nos pregado uma peça.

Numa tarde de Domingo, eu estava no ponto do ônibus quando ele passou. Eu rezei para que ele não tivesse me visto. Mas ele deu a volta; e me perguntou para aonde eu ia. Quis menti, mas depois pensei: - Eu não vou continuar me escondendo dele para sempre, é melhor esclarecer tudo de uma vez, e mostrar-lhe que é impossível este relacionamento da maneira que ele pretende. Mas a verdade, eu estava com saudades dele, e depois, acredito que tenha esquecido as coisas que me falara.

Antes que eu falasse, ele abriu a porta do carro, e eu entrei. Ele partiu como se não quisesse me dar chance de me arrepender!

- Para aonde você vai, perguntou-me sem olhar para mim.

- Vou visitar o meu amigo, ele está doente!

- Doente? Mas não é grave, espero!

- Não sei, eu soube que ele sofreu um acidente!

- Que pena eu não tenha sofrido também um acidente. Assim você iria me visitar!

- Não brinca com isso Helhinho!

- Realmente não se pode brincar com a saúde, é a coisa mais preciosa que podemos desejar!

Helhinho ficou calado, e eu fiquei com medo que ele falasse alguma coisa.

Meu Deus! Pensei: “Se ele falar em namoro comigo?“

Terei coragem de dizer o que pensei na hora que aceitei que ele me levasse ver o meu amigo? Ele é apenas um menino!

Chegamos à casa do meu amigo. Ele perguntou-me: - Quer que eu a espere, você vai demorar? Não. Creio que não! Por que você não vem comigo, ele gostaria de conhecê-lo. Eu falo muito de você para ele.

- Está bem, eu vou com você, se não se importa!

- Claro que não me importa, e depois é muito bom receber visitas!

Meu amigo ficou muito contente em vê-lo, e disse: - Eu tinha muita vontade de conhecê-lo. Jessika disse que gosta muito de você, que é o seu melhor amigo!

- Eu fico contente com isso, por que gosto muito dela, mas você é o seu preferido!

- Amigo, retrucou Jessika!

- Não acredito nisso, eu sou apenas um dos bons amigos dela, por que Jessika sabe escolher seus amigos, e você figura entre os melhores!

- Obrigado, e muito bom saber isso!

Continuamos conversando. Eu notava certa impaciência por parte do Helhinho. Então perguntei: - “Você está com pressa, quer ir embora?”

- Não Jessika, eu espero, não tenho mesmo aonde ir. Mas eu resolvi ir embora. Despedi do meu amigo, que me pediu que voltasse visitá-lo, por que deveria passar muitos dias de cama. Pediu ao Helhinho, que se fosse possível viesse também quando eu fosse visitá-lo. Ele disse: Se Jessika me convidar eu virei.

Fomos embora. Logo que saímos começou chover muito forte. Percebi que Helhinho se atrapalhara um pouco na direção. Era uma situação nova para um motorista novo de carteira, mas ele não queria demonstrar, mas cada vez a chuva aumentava de intensidade. O limpador de para brisa não estava vencendo a quantidade de água que descia.

Pensei pedir para ele parar, pois estava com medo, mas tive receio que ele se melindrasse. Então Helhinho disse:

- Você não se importa se eu parar um pouco. A chuva está muito forte! - É melhor mesmo, respondi, e fiquei mais aliviada!

Paramos, e a chuva cada vez mais forte. Então ficamos conversando sobre tudo, menos sobre o que sentimos um pelo outro. Num certo momento ele pegou na minha mão, como se estivesse lendo os traços.

- Você sabe o que significa estes traços da mão, perguntei-lhe!

Sei! Olha aqui nesta linha está dizendo que vai aparecer na sua vida um grande amor!

- Mesmo? Perguntei-lhe, brincando!

Aqui diz perfeitamente. Um grande amor, mas um amor proibido.

- Logo um amor proibido você vai arranjar para mim?

- Não. Não sou eu quem está inventando; são as linhas do destino!

- E ele é bonito?

- Bem, algumas pessoas dizem que é!

- Você o conhece?

- Muito!

- Então diga ele que não demore muito me procurar, por que estou a sua espera. Brinquei!

Então ele levou a minha mão até os lábios e a beijou demoradamente e com muito carinho.

- Estremeci! Retirei minha mão da dele ainda tentando brincar: “Você sabe que sou uma moça quase comprometida. Estou à espera do homem das linhas da minha mão”!

A chuva havia passado; mesmo assim Continuamos conversando, mas comecei a temer aquela aproximação. Então disse: - Olha a chuva já passou!

- É verdade, eu nem notei!

Ele pôs o carro em movimento, e sem comentário partimos.

Quando saímos à chuva recomeçou com a mesma intensidade de antes, ou até mais. Então comentei: - Ela não está querendo nos deixar ir embora!

- Mas nós vamos embora assim mesmo. Não quero prende-la mais. Você deve estar com pressa.

- Não, eu não estou com pressa, mas se você acha que não tem perigo!

- Perigo, não, mas eu não gosto de dirigir com chuva. Embaça os vidros do carro.

- Se você quiser parar, eu não me importo, não estou com pressa.

Ele parou num lugar aonde não oferecia perigo. Era uma avenida muito larga, e arborizada, mas tinha boa visibilidade para os outros carros que passavam!

Minutos depois a chuva parou, e desta vez foi em definitivo. O céu em poucos minutos ficou muito claro e azul.

Então ele brincou: “Não vou confiar nela, vamos esperar mais um pouco.”

- É isso mesmo, ela está brincando conosco!

Conversamos sobre muitos assuntos; nada importante!

- Eu estava olhando para fora do carro, quando ele disse: “Uma moeda pelo seu pensamento”!

- Eu não estava pensando em nada que valha uma moeda furada, disse brincando!

- Então; diga-me no que pensava!

- Não me lembro, por que não tem importância!

- Mas você ficou triste de repente!

- Não. É impressão sua!

Ele pegou no meu queixo e fez com que eu olhasse para ele, e vi dentro dos seus olhos algo estranho. E sem que eu pudesse evitar, mesmo por que eu não queria evitar, nos beijamos!

Foi um beijo longo, com muita suavidade. Eu me entreguei aquele beijo com muito amor! Eu não entendia a minha atitude. Mas depois tentei evitar sem nenhuma resistência outros beijos, mas não foi possível, por que eu estava gostando.

Foi uma tarde de loucura, pensei!

Mas para que não continuasse aquela loucura, eu disse-lhe: “Vamos embora!”

Vamos, disse ele sem protestar.

No dia seguinte, ele me procurou. Saímos. E quando ele tentou me beijar, eu disse:- Escute Helhinho, por favor, não vamos deixar que aconteça o que aconteceu ontem, está bem?

- Por que Jessika, você não gostou?

- Entenda uma coisa, eu gostei do que aconteceu ontem, mas foi “Ontem”. Mas não deve acontecer mais. Você não vê que isso não tem sentido, que não é possível?

- Por que não Jessika, você não é livre, eu também!

- Livres? Realmente, livres demais!

Olha, Helhinho, você deve pensar numa garota da sua idade. Você não vê que tenho mais do que o dobro da sua idade. Não vê que está errado? E eu não quero sofrer... Mais do que estou!...

- Mas você sabe que eu a amo!

- Eu sei meu querido! E eu também gosto de você, mas isso não pode ser. Por favor, leve-me para casa.

- Jessika, eu...

- Helhinho; vamos embora, por favor!

Sem nenhuma resistência, ele pôs o carro em movimento. Fomos até a minha casa sem falar. Quando nos despedimos, dei-lhe um beijo na face, e depois disse: desculpe.

Nem sei como pude dizer isso, por que a minha vontade era beijá-lo como ele havia me beijado!

Passaram alguns dias, e eu não estava bem comigo mesma. Tinha saudades dele; muita saudade. Precisava vê-lo, mas o bom senso me dizia que deveria me manter longe dele para não sofrer!

Um dia, eu sair mais cedo do serviço; tinha algo a fazer na cidade, não me lembro o que. Ia passando pela rua, nem precisa perguntar em quem estava pensando. Então ele passou de carro, bem perto de mim não parou e nem olhou.

Fiquei pensando! Será que ele não me viu? Não é possível! Eu estava atravessado á rua, até corri para atravessar na frente do carro. Na verdade eu não tinha visto que era ele. Só depois é que reconheci o carro, mesmo por que os carros do ano tinham quase sempre a mesma cor, mas o dele chamava a atenção, por isso o reconheci!

Não sei por que eu me senti desprezada. Ele passar por mim, quase me atropelar e nem parar! Afinal não ficamos de mal.

No sábado seguinte, havia uma festa no colégio. Então ele passou por mim cumprimentando-me apenas com um aceno de cabeça. Fiquei ainda mais aborrecida. Cheguei perto dele e disse: - “Passe na minha casa amanhã”!

Depois que falei, fiquei detestando-me, pelo disparate que acabara de fazer!...Que loucura, meu Deus! Por que fui fazer uma coisa desta. Mas no fundo eu estava tão feliz, que não via a hora de chegar o dia seguinte!

Daí para frente eu não evitei mais os encontros. Me entreguei àquele romance louco, como os próprios loucos que amam! Já não podia mais ficar sem vê-lo!

Foi aí que comecei receber aquelas cartas estranhas, da minha casa.

Que não tinha nada a ver com o que eu escrevia. Mas estava chegando o dia do meu aniversário, e de meu pai. Então resolvi viajar. Helhinho me propôs: “Vamos nos encontrar, até que você vá embora. Mas seria bom que você não voltasse mais!”

- Eu não voltar? Você quer isso mesmo?!

- Você sempre disse que gostaria de voltar para sua terra em definitivo! É uma oportunidade par resolvermos este problema!

Eu também achei que era uma solução! Apenas não entendi bem a atitude dele. Era como se quisesse ver livre de mim. Havia terminado o encanto de criança pelo brinquedo que desejava tanto. Mas apesar de tudo era mesmo a solução e o fim daquele romance que iria me fazer sofrer muito mais do que estava sofrendo!

Os dias que antecederam a minha partida foram terríveis!

Eu já havia marcado os dias por lei na firma para deixar o serviço. Ele me implorou que eu ficasse mais uns dias. Apesar da vontade de ficar mais uns dias perto dele, percebi que era uma imprudência ficar, prolongar mais aquele sofrimento para ambos!

Viajei no dia marcado. Ele não quis me acompanhar até a estação.

Parti muito triste, mas pensei: “Esta é realmente a solução. Tentava me convencer disso a fim de aliviar o meu sofrimento”. Mas os acontecimentos que ocorreram na minha casa; precipitou as coisas. Voltei para São Paulo apenas para arrumar as minhas coisas, e vir para aqui. O resto você sabe!

- Claro minha querida, por que tudo foi devidamente controlado por nós. Até mesmo o reencontro, quando ele passou por você e fingiu que não a viu.

Lício Guimarães
Enviado por Lício Guimarães em 03/02/2013
Reeditado em 03/02/2013
Código do texto: T4121360
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