Progresso
Dentro da lanchonete, Franco assistia aos noticiários: “Chegamos a um aumento na economia”, dizia a moça do telejornal.
Naqueles dias não havia mais noticias ruins na TV e nem em lugar algum.
Foi constatado que boas noticias resultam em trabalhadores felizes que dão mais de sua energia ao emprego.Até mesmo o número de rebeldes e revolucionários diminuiu, e os que restavam eram incompreendidos até mesmo por seus ex-companheiros de ideologia.
Porque afinal, tudo estava indo bem. O que haveria de reclamar?
- Quero mais um cappuccino – disse Franco, irritado ao ver um jovem manchar de tinta a parede do outro lado da calçada: “Temos olhos, mas não enxergamos” – mas o que ele quer dizer com isso?! – murmurou sem paciência. Ele estava com fome, como sempre.
- As crianças ainda usam drogas, mas são apenas as pobres – disse o balconista – eu vi isso ontem no noticiário.
- Isso é bom.
Franco olhou ainda mais um pouquinho e viu um edredom abandonado no chão, perto da tal parede recém pixada.
- Ainda estragam coisas, podendo fazer algo mais útil com elas – reclamou.
Ele pegou o seu cappuccino e seu sanduíche, saindo da lanchonete e andando em direção ao seu carro.
Então ele viu algo perto daquele monte de pano, mas pareceu deixar de lado. Não era importante.
Antes de começar a dirigir, Franco jogou seu sanduíche do lado de fora do carro, e passou acidentalmente por cima dele.
Enrolado no edredom havia um garoto de corpo mirrado, mas ninguém parecia querer enxergá-lo.
Há essa hora o jornal anunciava: “Fome zero em nosso país! Viva a República!”