A CORTEZÃ VIRGEM Cap. VIII
A CORTEZÃ VIRGEM – Cap. VIII
Por isso minha querida, se você estiver na mesma situação que eu, fuja daqui, não estrague a sua vida neste mundo podre, aonde nós teremos que sorrir quando por dentro estaremos chorando! Mas creia uma coisa, não serei uma cortesã barata! Eles terão que pagar o meu preço, e creia que será muito caro. A madama terá que me aturar.
Terá que implorar que eu fique por que vou conquistá-los, farei eles se arrastarem aos meus pés, e exigirei que ela me trate como deve como tratava a Joice. Não foi para isso que vim para cá substituir a Joice? Então ela terá uma substituta á altura; ela verá! Do contrário, farei como Joice fez; a abandono e ela perde a galinha de ovos de ouro!
Mas você está sabendo que eu necessito disso, e você não. Eu não tenho nada mais a perder, ao contrário de você. Por isso não se submeta, vai embora para sua família. Nada vale mais do que a família, por mais pobre que ela seja. Pelo menos temos dignidade. Mas eu não tive a mesma oportunidade que você! Ter uma família!...
Sabe, quando você chegou, me animou muito, e pensei: “Ainda bem que tem aqui uma menina mais ou menos da minha idade. Acredito que ela seja uma desafortunada como eu. Mas quando a madama disse que você deveria ir morar com Joice, fiquei muito triste. Mas agora, creia que estou contente, por que sei que Joice não é igual á madame Dez! “Ela tem coração!” Pode até ser que você fique trabalhando para ela, sem, contudo; tomar parte nas suas atividades. Será muito bom para você!
- Sabe, Jaade, eu vim para aqui, para vencer. Eu também tenho pais, irmãos que necessitam da minha ajuda. Quando vim para cá, eu sabia que ia enfrentar uma situação delicada, mais estava disposta a tudo, mas agora estou com medo. Mesmo por que, quando estive na minha terra, fui quase expulsa.
- Expulsa da sua terra?
- É sim. E pensei que tivesse sendo vítima de incompreensão dos meus pais e parentes. Mas não foi nada disso, eu fui vítima de pessoas inescrupulosas que me arrastaram para cá com segundas intenções.
- Como assim, Jessika, você disse que veio por que quis! Queria ajudar seus pais!
- Em parte, é verdade. Mas fui obrigada a vir. Alguém preparou uma armadilha, e eu caí direitinho!
- Armadilha?!
- Sim, uma armadilha! Eu vim para substituir a Joice na casa da madama Dez. Eu não sabia o que a Joice fazia, mas quando cheguei você já estava. Alguém tinha enviado você, então “Dez”, mandou que eu ficasse com Joice.
- Ah! Então foi isso? Minha tia!... Ela me paga, e muito caro! - Mas você não é obrigada ficar, Jessika, mas eu sim!
- Eu sei... Eu vou ficar!
- E se ela exigir que você faça companhia a alguém de seus relacionamentos?
- Eu farei, mas como virgem que sou!
- Virgem? Você é virgem?!
- Sim, eu sou!
- Meu Deus, Jessika, eu tenho pena de você! - Principalmente quando souberem disso!
- Quem souber?
- Os nossos algozes!
- Eu estarei preparada.
- Joice sabe disso?
- Não sei, acredito que sim, pelo medo que eu apareça para os seus convidados. Apesar de que hoje foi o primeiro dia que teve este tipo de reunião, e ela me disse que eu não aparecesse de maneira nenhuma!
- E você passava despercebida se não fosse o idiota do Alberto; ninguém sabia da sua existência!
- Não, Jaade, tem um cavalheiro que me conheceu. Fomos apresentados pela Joice. Um cavalheiro muito simpático. Parece que é médico!
- Médico? Já sei de quem se trata. É o Rogério. Dr. Rogério. É realmente muito simpático, mas é um admirador da Joice.
- Calma menina, apenas disse que ele é simpático, um verdadeiro cavalheiro!
- Não se agaste meu bem. Joice não gosta dele assim. São apenas amigos e ele é o seu médico particular!
Médico particular é? Eu acho que vou ficar doente!
- Não seria mal! Ele é uma das boas coisas que ainda existe neste lamaçal!
- E Joice, o que você acha dela?
- Não sei. Eu não tive muito contato com ela, mas me parece uma ótima pessoa. Muito humana. É uma das suas maiores virtudes, é ser exatamente humana, e isso você terá oportunidade de constatar.
- Diga-me uma coisa Jaade, por que você se surpreendeu quando eu disse que era virgem? Você não é?
- Não. Se eu fosse, faria como você pretende fazer!
- E a madama Dez sabe?
- Claro que sim! Se eu soubesse que ela não tinha certeza, eu poderia tirar vantagem disso. Mas acredito que ela sabe tudo ao meu respeito!
- Mas só nós temos certeza do que somos! Como ela pode garantir isso?
- Quem me enviou deverá ter-lhe dado a minha fixa!
- Bem, agora eu vou descer, antes que façam algazarra lá embaixo. Alguém poderá querer subir!
- Eu vou espiar da sala ao lado.
- Não Jessika, não faça isso. Pode embaraçar a Joice, se alguém a ver. Ela disse que você está enferma!
- Está bem, eu fico aqui torcendo para que você se divirta bastante!
Naquela noite, Jessika não dormiu bem. Pesadelos vieram povoar seu sono com os personagens já conhecidos.
Joice foi vê-la depois da reunião. Vendo-a dormindo, não quis acordá-la.
No dia seguinte, as duas conversaram longamente, sem tocarem no assunto. Percebia-se o embaraço que havia. Ambas tinham vontade de falar sobre a reunião, mas não sabia como começar. Por fim, Jessika disse: - Eu dormi, e não vi quando você foi se deitar!
- Eu vim vê-la, mas você já estava dormindo, não quis acordá-la. Dormia calmamente!
- Fez muito mal, Joice, eu esperei o quanto foi possível, mas por fim o sono me venceu. Eu queria saber como foi a sua reunião!
- Um horror! Nunca me cansei e me aborreci tanto!
- Por que não acabou com a reunião, se estava ruim assim?
- Eu não podia. Eles vão embora quando desejam. Tive até muita sorte por que Rogério estava, e os levou embora.
- O senhor Rogério é muito gentil, não é?
- Realmente! É uma ótima pessoa! Espere um pouco. Pareceu-me um tom de simpatia; estou certa?
- Não entendi senhorita?
- Senhorita?! Ah! Então existiu realmente algo diferente mesmo!
- Sim Joice, eu achei o senhor Rogério muito simpático mesmo.
- Ele é minha salvação ás vezes. É a única pessoa que se pode confiar, e procurá-lo numa emergência, Por que os outros...
- Jaade disse que ele é médico!
- É sim. Um bom médico. Eu me consulto sempre com ele, quando necessito. Por que você gostaria de consultar com ele?
- Não; eu estou ótima de saúde. Só você não achou!
- Eu não quis expor você. Estes rapazes não são o que podemos dizer; confiáveis. São terríveis!
- Eu gostaria de participar de uma reunião desta. Pareceu muita divertida!
- Algumas são, mas a de ontem foi a que se pode chamar de torturante!
- Pensei que você gostasse destas reuniões.
- Engana-se minha cara, eu as detesto!
- Então por que as faz, se a aborrece tanto?
- Escute menina, nem tudo na vida é como desejamos. Muitas coisas ás vezes fazemos, e as quais detestamos; por necessidade, ou por compromisso, e não existe nada pior na vida, que fazer algo que não gostamos, e que somos obrigadas a fazer!!
- Acredito Joice, por que no momento estou fazendo!
- Você está me dizendo que não está contente aqui?
- Não propriamente estar aqui. Mas ficar dependendo de você para tudo, para viver. Comer, vestir, me abrigar na sua casa com este conforto, sem puder fazer nada para ajudá-la.
- Mas de certa forma você está trabalhando, me ajudando com a sua presença que é muito necessária para mim. Por enquanto, até você se preparar para me substituir. E este preparo eu poderia chamar de disciplina, por que não será fácil para você se não se disciplinar, que é á base de tudo no meu ramo de negócio.
Olha querida ninguém vai para uma faculdade; sem antes passar pêlos cursos secundários. E você está fazendo estes cursos para depois me substituir.
- Substituir você nos seus serviços?!
- Sim; isso mesmo!
- Joice; precisamos conversar! Você não sabe de uma coisa ao meu respeito!
- Mais uma vez você se engana, Jessika!
- Tem certeza?
- Tenho! Você está se referindo a sua virgindade, não é mesmo?
- Mais ou menos isso!
- Mas o serviço que eu quero que você faça, não implica. E se você não sabe, eu vou defender este seu estado físico com todas as minhas forças.
- Joice, eu sou uma menina do interior, mas sou uma mulher. E em todos os lugares do mundo, as mulheres são iguais; e não podem fazer um serviço deste sendo virgem, não é mesmo?
- Não para o seu serviço. Não tem importância quanto você ser virgem ou não! Isso só depende de você. E é o que chamo de disciplina. Você não se expor principalmente quando eu estiver aqui com os meus amigos.
- Muito bem, e como posso substituí-la sem comparecer nas reuniões, sem receber seus freqüentadores?
- Mas não é isso que eu quero que você faça; apenas cuidar dos negócios. Eu poderia contratar um homem para isso e estaria resolvido, mas eu lhe pergunto: - “Eu ficaria a vontade, tendo um homem aqui comigo?”
- Você tem razão! É muito difícil fazer o seu serviço tendo um homem aqui. Seria um transtorno!
- Realmente!
- Mas não é da maneira que você está vendo. O transtorno seria durante o dia, por que ele trabalharia somente no horário comercial!
- Joice, e quanto tempo eu vou permanecer aqui sem ser vista?
- Você já foi vista, por alguém e a desejou! Então vai ser muito difícil mantê-la escondida, principalmente por que Alberto a viu. E não foi só o Alberto, mas Rogério também!
- Mas Rogério não é inconveniente, ele é diferente!
- Não se engane minha cara, todos os homens são iguais quando se trata de uma mulher bonita!
- Você está dizendo que ele é igual aquele capadócio?
- Não! Rogério é um homem, apenas isso que quis dizer!
- Você gostou dele Jessika?
- É um homem muito bonito e gentil, mas é só como o vejo.
- Pensei que você tivesse gostado dele!
- E gostei! Mas o Dr. Rogério não é homem para mim, e depois Joice eu não estou aqui para estes assuntos. Não quero, não posso, e não devo me envolver emocionalmente com ninguém! Principalmente com um homem como o Dr. Rogério, por muitos motivos, eu jamais me envolveria!
- Não? Por que não?
- Por que é um homem casamenteiro, e ele é apaixonado por você, não entende isso?
- Claro que entendo, mas é como você disse, ele não é homem para mim também! Mas para você, ainda é tempo se gosta dele!
- Você se sobreestima, Joice, minha cara amiga! Sabe o que penso, é que vocês se amam!
- Nós nos amamos?! Que piada! Eu não amo ninguém. Eu não posso amar!
- Não pode ou não quer?
- Não posso; e deixemos este assunto, ele me aborrece!
- Desculpe-me não era minha intenção...
- Sabe o que mais me aborrece, é você se desculpando a cada coisa que fala. Afinal, quando você vai se considerar minha verdadeira amiga? E os amigos não pedem desculpas quando imitem uma opinião! Por que não é você que me aborrece, mas o assunto. Por isso vamos falar de outra coisa. Sobre você!... Saiba, que por algum tempo não vou fazer reunião. Quero aproveitar o tempo para preparar-lhe, pois vou viajar, e quero que você tome conta de tudo aqui.
- Eu tomar conta de tudo?! Tudo o que, Joice?
- Tudo o que tenho: “Meus imóveis, meus negócios, tudo o que possuo. Eu vou mandar fazer uma procuração para você.”
Procuração?! Você enlouqueceu de vez! Você acha que eu posso dirigir seus negócios; sozinha?
- Claro que não, mas tenho o meu advogado que ficará a sua disposição, se houver alguma coisa que você não conseguir resolver!
- Você não pensa que vou aceitar uma loucura desta! Só pode estar brincando. Não acredito que você tenha coragem de fazer uma coisa desta comigo e com você!
Agora é você que está se superestimando, minha cara. Eu sei que você se sairá bem.
Os dias se passaram e Joice ia piorando seu estado de saúde. Só o seu fiel amigo Rogério sabia o que estava se passando com ela. E era por isso que Joice fazia questão da aproximação de Jessika e Rogério. Ela sabia que era quase impossível, mas não custava tentar!
Mas como falar com Jessika do seu estado de saúde sem ela se apavorar? Mas ela precisava saber do contrário não ia aceitar o encargo o que não seria nada fácil, e só assim Joice tinha certeza de que ela não se negaria. Uma noite, depois de uma grande reunião, da qual Jessika tomou parte pela primeira vez; de propósito para que ela conhecesse em parte sua vida.
Nem precisa dizer o sucesso que Jessika causou principalmente sendo ela uma menina do interior, e virgem. Isso deixou a turma enlouquecida. Quem não queria ter uma virgem na sua cama? Isso sempre foi um ponto de honra para os coronéis; era para eles um prato cheio!
Mesmo a madama Dez, bem que gostaria de reavê-la, mas Joice não abria mão dela agora, nem mesmo em troca da Jaade, até sendo esta mais bonita, e com mais classe, formada em magistério!
Jaade seria até mais útil que Jessika. Mas agora é tarde;, Joice já acostumou com ela e deixou amadurecer a idéia de deixá-la no seu lugar. E depois gostava muito dela, pela sua meiguice e honestidade, sincera e determinada, e sabia o que queria, e defendia seu ideal; o casamento dentro dos seus princípios morais. Naquela noite entre todos os amigos da Joice, só Rogério, não se entusiasmou com Jessika, o que foi notado pela Joice, que percebeu a decepção da menina.
Não era muito tarde quando Joice disse aos participantes que a reunião deveria terminar não mais das vinte e três horas. Acusou não está passando bem, e precisava descansar, e pediu para que o Dr. Rogério a examinasse.
Claro que não era motivo de saúde, queria ficar á sós com ele e Jessika! Tentar uma aproximação? Não, não era este o motivo. Ela queria conversar
com os dois depois que os outros foram embora protestando é claro, por terminar tão sedo a reunião, principalmente tendo uma novata, presente.
Quando ficaram as sós, Joice disse: “Meus amigos queridos, tenho uma notícia um pouco desagradável para lhes dar.”
- Notícia desagradável? Não me assuste, Joice!
- Eu notei em você toda a noite muita tristeza e preocupação, disse Rogério!
- Você não está bem, perguntou Jessika assustada!
- Você sabe Rogério, do meu estado de saúde, e eu estou propensa a fazer uma viagem para o exterior. Resolvi fazer aqueles exames que você mesmo me aconselhou. O que você acha?
- Acho ótimo. O que você já deveria ter feito á muito tempo!...
- Exterior?! Você pretende viajar para o exterior? E os seus negócios aqui? Os seus amigos, a casa, tudo?
- Nós já conversamos sobre isso, Jessika!
- Mas eu pensei que isso não fosse para agora! Eu não estou preparada para substituí-la aqui!
- Está sim. Fique tranqüila. Rogério estará protegendo-a, e a ajudando-a no que for possível. E depois eu tenho o melhor advogado da Bahia!
Jessika subiu para o seu quarto, e Rogério perguntou: - Que idéia é essa, e que brincadeira de viagem para o exterior?
- Não é brincadeira, Rogério. Não foi você mesmo quem me aconselhou procurar um especialista em São Paulo?
Pois bem. Procurei e aqui está o diagnóstico.
O médico pegou o papel, examinou cuidadosamente. Ele já sabia, ou melhor, desconfiava desta possibilidade dela estar com esta doença muito adiantada, mas tinha esperança de que o seu pré-diagnóstico, não se confirmasse.
- Então é verdade?
- É, meu amigo! Estou condenada, E é por isso que tenho um pedido muito importante para pedir a você.
- O que você quiser!
- Mesmo? Não tem medo que eu lhe peça em casamento?
- Não, não tenho! Eu não mereço tanta felicidade!
- Você não se casaria comigo, principalmente com esta idéia de ter uma doença incurável?
Mas eu poderia lhe pedir em casamento para outra pessoa.
- Você sempre brincando; até numa hora desta!
- Desculpe-me meu amigo. Estou brincado é claro. Mas peço a sua proteção para Jessika. Ela vai precisar muito de você. De um amigo de confiança, assim como o é meu!
- Você sabe que pode sempre contar comigo, não sabe?
- Claro, querido, claro que sei!
- Quando pretende viajar?
- Em pouco tempo. Será o necessário para adaptar Jessika aqui.
- Diga-me, Joice; ela deverá continuar com o mesmo sistema de vida da casa?
- Não sei. Dependerá somente dela, não a obrigarei a isso. A casa poderá ficar fechada se ela quiser se não se achar competente para continuar.
- Sua governante fica?
- Não, ela irá comigo!
Rogério foi embora e Joice subiu para dar boa noite a Jessika, e a encontrou em prantos.
- Você está chorando, minha querida, o que foi que houve?
- Não, não estou chorando. Mas quero lhe dizer uma coisa. Eu vou embora, não vou ficar aqui sozinha sem você.
- Mas eu preciso querida. É necessário que eu faça esta viagem; é uma questão de saúde. Você sabe que é impossível este tratamento aqui no Brasil!
- Joice, pense bem. Como eu posso substituí-la? Você sabe que eu sou... - Eu sei Jessika, mas eu não estou obrigando você ficar com a casa aberta