A CORTEZÃ VIRGEM - Cap VII
ACORTEZÃ VIRGEM – CAP VII
Creia que fiquei triste quando Dez disse que gostaria de ficar com você.
- Meu Deus, Joice, como vocês podem traçar o destino de uma pessoa! Não percebem que poderia estar alterando minha vida, como alteraram os meus princípios morais diante da minha família e da minha cidade?
- Espere um pouco Jessika, nós não obrigamos ninguém a nada, como não estou obrigando você a ficar comigo.
- Então, quando Dez me encontrou em São Paulo, não foi por acaso!
- Claro que não. Mas nós percebemos que não seria fácil trazê-la para aqui devido os seus princípios morais e religiosos. Você jamais aceitaria.
Então tivemos a idéia de deixá-la mal com sua família e com o povo da sua cidade. Uma decepção muito grande poderia fazer você nos procurar.
O mesmo nós fizemos em São Paulo. Fazendo você se apaixonar por aquele garoto, e ele por você.
O Helhinho foi instigado para lhe conquistar.
- Mas vocês não pensaram que aquele menino pudesse ser prejudicado?
- Ele é uma criança; apesar da aparência. E logo a esqueceria. E foi o que aconteceu, não foi?
- Não sei. Espero que sim! Mas se eu não fosse uma moça virgem, fosse uma aproveitadora, da maneira em que ele ficou apaixonado, eu poderia ter aproveitado a situação. E espero também que ele não tenha sofrido o que eu sofri.
- Nós não tememos que você aproveitasse dele por que nós a conhecíamos, e sabíamos que você não faria isso. Ao contrário, você fez exatamente o que esperávamos que fizesse. Então você ia ficar sem ambiente nos dois lugares, e terminaria como terminou. Procurando por nós
- Nós tivemos a ajuda de uma pessoa de lá, o que isso não vem ao caso agora!
- Claro que eu desejo saber quem foi.
- Não, Jessika, você não ficará sabendo. Pelo menos por enquanto.
- Vocês tiveram ajuda da Magda, não foi?
- Não, não foi sua irmã. Nós tentamos implicá-la, fazer você pensar que foi ela!
- Mas vocês vão me fazer pecar, por que eu a acuso, e tinha quase certeza de que foi ela, e continuo pensando!
- Mas não foi, acredite em mim!
Você não foi aquele ano visitar seus pais; então escrevemos aquelas cartas, colocando todo veneno possível. Interceptávamos as suas cartas, e substituía por outras, daquela que você leu!
Jaade já estava morando com ela. Dez ficou atrapalhada quando você resolveu procurá-la. A sobrinha dela manifestou o desejo de ficar; ela concordou, e forçou um pouco a sua vinda para minha casa. E se você quer saber eu fiquei triste quando a vi com Dez; e não a teria comigo. E quando disse que você era minha, estava dizendo a verdade.
- Você é a pessoa que quero ao meu lado como companhia, e será minha substituta diante dos meus negócios.
- E quais são eles, Joice? - Com o tempo você irá se inteirando deles, por que são muitos. Agora você sabe de tudo, eu não queria que você soubesse logo, temia sua reação e pudesse me deixar.
- Que idéia, Joice, eu estarei com você para qualquer coisa. Pode contar sempre comigo!
- Obrigada, meu bem, não é qualquer pessoa que se pode confiar nossos negócios. E creia que confio muito em você. Posso?
- Até a mais difícil missão!
- E agora você aceita aqueles aposentos? Você já não é mais minha hóspede, e sim uma funcionária!
- Está bem Joice, eu gosto muito de você!
Elas ficaram conversando até muito tarde. Jessika começou especular mais sobre a vida dela. Então ela disse: “Com o tempo você ficará sabendo de tudo sobre a minha vida, está bem?”
Isso foi um meio de cortar o assunto, sem magoá-la.
Jessika acordou muito tarde no dia seguinte, o que normalmente não acontecia, por que estava ainda acostumada com a vida em São Paulo. Acordar cedo para ir para o trabalho. Muito diferente de Salvador. Mesmo em férias ela não conseguia ficar na cama até tarde, mas a confiança que teve em Joice deu-lhe muita segurança para o futuro, mesmo por que Joice disse que ela não seria obrigada a fazer nada que não quisesse. Naturalmente ela a queria como secretária particular, coisa que sabia fazer muito bem, por que era o que fazia em São Paulo.
Durante o café pouco falaram a mesa. Joice parecia muito preocupada, ou triste! Com aparência de que não dormiu bem á noite!
Ela percebeu que Jessika ia perguntar-lhe o que estava havendo, ela interrompeu desviando a conversa.
- Não gostava de conversar quando não estava bem. E isso foi muito bom para Jessika que começou entende-la. Não perturbá-la quando estiver neste estado de ânimo.
Joice percebeu o embaraço da menina, e a convidou para um passeio no jardim.
Jessika ficou calada esperando que ela falasse, não queria tira-la do seu estado meditativo. Deveria estar com algum problema, e quando se está assim, nada melhor do que o silêncio. Então respeitou! Isso fez com que ela ganhasse alguns pontos no conceito da Joice, que percebeu que ela é inteligente e a entendeu!
Depois de dar quase uma volta inteira no jardim. Joice rompeu o silêncio que já estava incomodativo para ambas.
- Jessika, nós vamos ter uma visita hoje á noite, mas a sua presença pode ser dispensável se não quiser participar! Poderá permanecer nos seus aposentos, mandarei servir o seu jantar lá em cima. Mas se quiser poderá jantar conosco!
- Joice, eu lhe disse que estarei com você para tudo o que você quiser. Se você estiver com problema, eu quero participar dele, ajudá-la resolver se possível!
- Não, eu não estou com problema, apenas estarei em serviço.
- Bem, se é assim, eu não quero atrapalhar, eu ficarei no quarto!
- Você não me entendeu, Jessika, eu estarei em serviço, e você não atrapalha, apenas não quero escandalizá-la.
- Porque me escandalizaria? Você é uma mulher, e eu não sou uma criança. Entendo bem estas coisas; e depois preciso ir me acostumando. Não vou ser sua secretária, sua companheira?
- Mas até que ponto você estará disposta a ser minha companheira?
- Não entendi Joice. Eu acho que estarei disposta a fazer qualquer coisa que você quiser!
- Até fazer companhia a uma visita minha?
- Claro, conte comigo!
- Posso lhe fazer uma pergunta um pouco indiscreta?
- Você me disse um dia que as perguntas indiscretas, poderão correr o risco de não serem respondidas. Mas creia que responderei qualquer uma. Não há pergunta indiscreta entre amigos, não é verdade? Então pergunte o que quiser saber!
- Algo sobre você. É muito importante que eu saiba.
- Fale Joice, o que você quer saber sobre mim?
Sabe, no meu trabalho, neste tipo de vida, é difícil para uma moça virgem. Não que tenha que fazer algo que não queira, é que eu não vou ficar a vontade na sua presença, sendo você virgem!
- Joice, eu posso me assentar a uma mesa, e não me servir das iguarias que nelas existirem desde que as mesmas me sejam prejudiciais, mas nem por isso deixo de sentar-me á mesa!
Uma enfermeira ás vezes é virgem, e nem por isso deixa de cuidar de um paciente masculino. Fazendo curativos, dando banho, e outras coisas. A sua virgindade, não será atingida se ela não quiser!
- Eu sei Jessika, apenas eu temo não conseguir ser a mesma com a sua presença.
- Está bem, Joice, quando você tiver algum jantar assim eu me ausento, ou fico nos meus aposentos. Não vou atrapalhar você. Por favor, esteja á vontade. Como já disse: “Eu sou virgem, mas não sou criança”!
- Você não tem medo de ser tentada por alguém?
- Não, não tenho! Você me defende, não é mesmo? E depois, Joice, nós somos tentadas em qualquer lugar, em qualquer tipo de trabalho. Nunca há de faltar aquele que deseja a nossa virgindade, ou aquilo que lhe proporciona prazer, não é mesmo? Fique tranqüila, eu não tenho medo, sei me cuidar muito bem. Eu não serei motivo de preocupação para você. E se acontecer, creia que a culpa não foi sua; não foi o lugar ou o ambiente. Foi a minha cabeça, a minha vontade!
Quanto a minha virgindade!... Você também já foi. E não morreu quando a perdeu!...
- Mas senti muita falta dela um dia!
- Mas continua vivendo, e linda como ninguém!
- Está bem, você fica nos seus aposentos esta noite. Não desça em hipótese nenhuma, está bem?
- Está bem, mas se precisar de mim mande chamar!
Naquela noite Jessika ficou nos seus aposentos, mas a tentação era grande de ver o que acontecia, o que Joice poderia fazer neste jantar, que era proibido para uma moça virgem!
- Meu Deus, será ela uma... Não pode ser! Mas se preocupa tanto com a minha virgindade, é por que o que faz, só pode ser o “Servilismo”! Ela tem razão, eu não posso participar dos seus jantares. Mas eu não tenho nada com isso. Posso muito bem trabalhar para ela durante o dia e a noite ficar confinada aos meus aposentos, ou sair. Não sou obrigada participar do seu trabalho. Eu faço o meu, é pronto. O fato é que não posso perder esta oportunidade, este trabalho! Aonde eu ia conseguir um emprego como este? Com este conforto! O que ela fizer, não é da minha conta. Se ficar inibida com a minha presença, poderei passar a noite fora nos dias de função. Ou ficar até tarde fora e entrar pela área de serviço sem ser vista por ninguém, principalmente por ela! Assim eu continuo com o meu emprego, que preciso muito dele, e ela fica mais á vontade!
Mas na solidão do seu quarto, como se estivesse com medo de alguma coisa, ou de fazer algo errado; tinha dúvida se estava certa. Morando naquela casa que pelo visto; havia tudo que vinha contra os seus princípios morais. Contra tudo o que aprendeu desde criança, e preservou até hoje. Agora estava naquela casa aonde dependerá só dela continuar sendo o que é! Mas isso seria possível? Até quando poderia continuar á distância, daquele antro? Ou mesmo até quando poderia permanecer incógnita naquela casa aonde é freqüentada por gente muito importante, e não demorará ser descoberta. Então aí será impossível manter-se afastada. Poderá criar uma situação difícil para Joice. Pensar que ela está escondendo-á para alguém muito importante. Afinal ela não é tão feia. Ao contrário, ela é muito bonita. Muito bonita mesmo!
Então ela pensou: “O melhor é ir embora. Este não é o meu lugar!” Não é o que pensei em conquistar para mim um dia. Mas Joice me protegerá, tenho certeza disso. Ela é uma pessoa decente. Acredito que ela não está fazendo nada de imoral, de condenável, é apenas minha imaginação. Se ela não quer que eu apareça, é por que não estou ainda preparada para ser apresentada nesta sociedade podre em que vive. De gente que só pensa no prazer, na futilidade que a vida lhe oferece.
Prefiro confiar nela!
Naquela noite, Jessika não ouviu nada, mesmo por que jantou nos seus aposentos, e depois foi colocar o seu quarto da maneira que gosta, e não demorou adormecer pelo cansaço dos acontecimentos do dia.
Joice pediu aos seus convidados para não fazer muito barulho, acusando que uma parenta estava adoentada, e aproveitou para comunicar-lhes que deveria se ausentar uns dias de Salvador, e pediu que comunicassem aos demais amigos da sua ausência!
Muitos não queriam admitir que ela se afastasse por muito tempo, mas ela disse que esta parenta que estava aí com ela estava passando muito mal, talvez precisasse ser levada para fora do estado ou do país, mas não seria por muito tempo. Tudo teria saído a contento se não fosse á indiscrição de um amigo da Jaade que conheceu Jessika naquela festa.
Então ele perguntou: - Joice, por certo não se trata daquela boneca que estava na festa com a Jaade!
- Sim, é realmente ela! Está aqui para tratamento de saúde!
- Tratamento de saúde? Pois ela me pareceu muito bem, e que saúde!...
- Não seja indiscreto, Alberto. Esta menina não está á disposição dos famintos como você!
- Faminto, eu?
- Sim, você mesmo, parece um índio rastreador!
- Ora, ora, disse um companheiro da Joice. Está escondendo esta raridade para quem Joice? É uma encomenda especial?
- Meu Deus, como vocês são! Apenas uma parenta que veio do interior para tratamento mesmo!
Por que não nos apresenta, aqui tem médico, tenho certeza de que o Dr. Rogério não se fará de rogado, ele a examinará; não é Rogério?
- É como disse Joice, você é muito indiscreto, não respeita os segredos dos outros!
- Não se trata de segredo, Rogério. Ela é apenas uma menina, e não é do nosso meio. Por favor, não insistam!
- Está bem, está bem! Nós a desculpamos, por enquanto é claro!
A sineta tocou. E neste instante umas vozes alegres, e sem nenhuma cerimônia entrou de porta á dentro. Um grupo chefiado pela Jaade!
Ainda bem que vocês chegaram isto aqui estava parecendo um velório, disse Alberto inconveniente como sempre!
- Desde quando as reuniões de Joice se parecem com um velório, disse Geraldo amigo de Alberto e de Jaade! Logo agora que temos gente nova! Esta menina precisa tomar parte do nosso grupo. É a Segunda pessoa que enaltece as qualidades dela.
- Esperem um pouco, vocês não estão se referindo a Jessika, disse Jaade. E por falar nela, onde ela está Joice?
- Repousando! Ela precisa de muito repouso. É conselho médico, por que o estado dela inspira cuidados, não é Jaade?
- Sim, eu pensei que ela tivesse melhorado; estava preocupada com ela. Posso vê-la Joice?
- Claro querida, ela está nos seus aposentos, mas se estiver dormindo, não a incomode, por favor.
- Por que não apresenta aos seus amigos, Joice? Nós gostaríamos de conhecê-la, insistiu ainda Alberto.
Rogério que tudo ouvia num canto, disse: - Joice disse que a moça não está em condição, por que insiste Alberto? Não sabe respeitar nem a saúde das pessoas?
- Desculpe-me cavalheiros, não se agaste por uma coisa tão insignificante.
Prometo que na próxima reunião, se Jessika estiver aqui, e estiver bem, eu apresento a vocês, combinados!
Jaade subiu para ver Jessika, que ao vê-la se alegrou e quis descer com ela. - Nem brincando! Você descer, e enfrentar aqueles idiotas que estão lá
embaixo! Nem pense nisso. Está muito difícil a Joice convencê-los que você está doente e não pode descer!
- Eu doente, mas que idéia!
- Jessika, a Joice sabe o que está fazendo. Acredite, e fique quietinha aí.
- Eu não entendo por que não posso comparecer nestas reuniões!
- Por que você não pode! É por que...
- Jessika espera; você termina por descobrir!
- Você é mais nova de que eu, e já está junto com eles, não está?
- Sim, estou, mas... Olha Jessika, eu não posso lhe dizer nada. Joice por certo lhe explicará tudo, está bem?
- Não sei. Mas isso me parece muito estranho!
- Realmente, querida, esta não é a vida que serve para você.
- E serve para você, Jaade?
- Não, e não pertenço a este tipo de mulheres!
- Sabe Jaade, eu cada vez entendo menos. Você aqui participando de uma reunião que é proibida para mim, e ainda você diz que não é este tipo de mulher. Você poderia me explicar melhor, Jaade?
-Não, não posso! E depois eu não sei o que você está fazendo aqui. Joice disse que você está em tratamento de saúde, e é isso que vai ser. O que todos devem saber compreende? Por favor, querida, não complique a vida da nossa amiga que precisa muito de você; que por teimosia pode complicar a vida dela e a sua também!
Agora eu vou descer, antes que seus aposentos sejam invadidos por pessoas que não devem vê-la!
- Eles se atreveriam?
- Por certo que sim. Pode acreditar!
- E Joice não poderia impedi-los?
- Claro que não. Eles são amigos dela, e muito íntimos.
E gente desta laia, não tem escrúpulos, abusam sempre da amizade. Não tem limite, a não ser quando Joice se irrita. Então eles temem perder a sua amizade. Mas ela não quer tomar esta atitude, será prejudicial aos seus negócios.
- Que tipo de negócio?
- Você compreenderá com o tempo.
- E você o que faz na casa da madama Dez?
- Da minha tia? Nada por enquanto. Eu vim substituir a Joice, mas é muito difícil! Joice é insubstituível. Assim dizem todos os seus amigos; e não vai ser alguém como eu que vai cobrir a falta dela.
- É; cada vez eu entendo menos. Ela é uma cortesã?
- Não. Ela tem uma casa para receber amigos para se divertirem!
- Uma casa de aturação, como se diz em São Paulo?
- Se quer denominar assim. Mas tem uma diferença muito grande. As moças não recebem amigos no quarto.
Mas é mais ou menos isso, uma casa de divertimentos.
- Eu já imaginava! - Eu não queria que você ficasse sabendo por meu intermédio, mas, por favor, não comente com Joice.
- Fique tranqüila; agora é mais fácil; eu sei do que se trata. Vai depender somente de mim, aceitar ou não o emprego!
- Emprego?
- Sim. Joice disse que eu vou trabalhar para ela.
- Ela já designou o que você vai fazer?
- Não!
- É, talvez você tenha mais sorte de que eu.
- Mais sorte por quê? Você não está gostando de morar com sua tia?
- Não, Jessika, eu não estou gostando. Ela não é minha tia!
- Não? Então o que você está fazendo lá?
- Olha minha amiga, era você quem ia ficar lá. Ia substituir a Joice. Mas depois eu fui enviada por um parente dela, para trabalhar na casa.
É isso que a senhora que me enviou pensa. Não sabendo na realidade o que tenho que fazer!
- Por que você não vai embora?
- Embora?! E para onde? Para aquela vida desgraçada que vivia? Condenada a ser quando no máximo uma vítima a mais para se entregar aos caprichos daqueles coronéis, enquanto sou nova e bonita, e sem lucro nenhum. Quando eles se enjoarem, o máximo que conseguiria é ser uma ajudante de cozinheira, ou na ponta de uma rua! Aqui, pelo menos tenho
possibilidade de ganhar dinheiro como Joice; e um dia fazer minha independência financeira, e ajudar os meus pais e irmãos que são tantos; passando necessidade!