CORTEZÃ VIRGEM Cap.V

A CORTEZÃ VIRGEM – Cap. V

- É sim. Ele é um bom jardineiro, e gosta muito do que faz. E é supervisionado pela Amelia.

- Amelia, quem é Amelia?

- Minha governanta! Eu não a apresentei? Que falha esta minha, não?

- Ah! Sim; aquela senhora que supervisiona também a sua vida!

- Como? O que você falou?

- Nada Joice, desculpe-me.

- Está bem, está bem, eu desculpo, mas o que você falou? Olha Jessika, ás vezes nós dizemos coisa que pensamos que queríamos dizer, por que não deveriam ser ditas! Mas eu não entendi. O que você disse realmente?

-Você disse que a senhora Amélia supervisiona o serviço do jardineiro. E eu falei que ela supervisiona a sua vida também... Desculpe-me, eu estou sendo injusta, mesmo por que eu não a conheço e como também não conheço nada sobre sua casa, muito menos a sua vida. Eu não deveria ter feito este comentário idiota! Eu não sei por que o fiz; talvez por vê-la sempre ao alcance de suas vistas!

- É. É isso mesmo! Você não conhece mesmo. Mas vai conhecer em breve.

- Eu vou conhecer? E por que deveria?

- Nada, nada. Olha devemos voltar. Você precisa ir embora, eu tenho alguns afazeres, e preciso ficar sozinha. A minha governanta a acompanhará até a casa de Dez!

- Joice, eu...

- Desculpe-me, outro dia, está bem?

- Senhorita, eu não posso ir embora sem antes desfazer este mal entendido!

- Que mal entendido Jessika? Não houve nenhum mal entendido; apenas eu preciso ficar sozinha.

Joice disse isso e deu por encerrada a visita.

A governanta disse carinhosamente. Vamos indo, está ficando tarde, e á esta hora começa esfriar, e você não está vestida apropriadamente.

O sono foi chegando e Jessika adormeceu. Acordou com barulho de gente que chegava para tomar o trem. Mas ouviu alguém dizer: “Ela chegou aqui ontem, e não era muito tarde. Ajeitou-se ali; e dormiu.”

Jessika sentiu a aproximação de alguém.

Abriu os olhos e viu um policial que se aproximava dela, então se ajeitou para contar a sua história e pedir ajuda para chegar à casa da madame mas não foi necessário por que neste momento ela viu a figura de uma moça, e reconheceu imediatamente. Era Jaade que desesperada foi ao seu encontro. Então ela contou o ocorrido, que havia saído da casa da Joice e quis ir para casa a pé, mas como não conhecia nada, o único lugar que achou seguro foi á estação. Então Jaade disse:- Por que você acha que eu a encontrei? Por que faria o mesmo se me encontrasse nesta situação.

As duas moças foram para casa de Dez, e lá encontrou Joice desesperada, cheia de remorso e ao mesmo tempo aborrecida com ela, por ter feito tal coisa. Poderia ter acontecido qualquer coisa de ruim.

Mesmo sem dar satisfação para Dez, Joice disse: Jessika apanhe suas coisas e vamos para casa!

Jessika não entendeu. Ficou olhando para a madama que não dizia nada. Não tomava nenhuma atitude para impedir que a Joice a levasse da sua casa assim sem dar satisfação.

Jessika foi ao quarto, acompanhada de Jaade. E esta lhe disse: Sorte sua, depois eu a procuro. Ela não entendeu como não estava entendendo nada.

Afinal quem é esta mulher; moça; menina! Quem é ela? E o que vou fazer na sua casa?

Então pensou: Neste momento eu não tenho condição de raciocinar. Estou muito cansada, e a minha cabeça roda. Acredito que com um bom banho e um bom descanso, vou conseguir pensar o que fazer da minha vida.

Jessika ia pensando e nem percebia que a carruagem rodava velozmente. Que em poucos minutos chegaram á casa da Joice.

Durante toda viagem Joice não trocou uma só palavra com ela; olhava para ela com um misto de dó e de insatisfação!

Quando entraram em casa, Joice apenas disse a uma das moças: Acompanhe a senhorita aos seus aposentos.

Jessika naquele momento pensou em dizer-lhe: “Eu não vou para lugar nenhum, quero ir embora para minha casa. Por favor, me levem até a estação! Mas não conseguiu dizer nada. Ficou parada olhando para Joice que se afastava e não conseguiu conter as lágrimas. Chorava convulsivamente. Então Joice ouviu, e voltou correndo e a levou para os seus aposentos. Deixou que ela chorasse.”

Era natural! Passar uma noite assentada numa estação de trem sem conhecer ninguém, com fome, com medo. Era demais para qualquer pessoa o que fará para uma menina como Jessika, sensível como é!

Depois de alguns minutos, ela foi se acalmando, e olhando para Joice, e disse: - Desculpe-me! Por favor, me desculpe! Joice assentou na cama onde ela estava, colocou sua cabeça no colo e disse colocando o dedo nos lábios dela.

Não se agaste, descanse. Ficaram ali alguns minutos sem falar, depois Joice ajeitou-a no travesseiro e retirou-se.

Mandou servir um bom café, e depois deu ordem para não incomodá-la. Á vigiasse apenas. Quando ela acordasse para avisá-la.

Já passava da hora do almoço e Jessika ainda dormia. Então Joice foi ao seu quarto e percebeu que a menina não estava bem. Mesmo dormindo soluçava. Pensou em chamar um médico, mas foi aconselhada pela Amelia que não o fizesse, que logo ela estaria bem.

Então Amélia com sua longa experiência mandou que Joice saísse do quarto. Abriu as cortinas e disse: - Vamos acordar isso não é hora de estar dormindo. Vem ver o sol como brilha, e você enfiada nesta cama. Vamos, vamos, para o banho, pegou no braço dela e quase que a arrastou delicadamente é claro.

Levou-a até o banheiro a ajudou a se despir, e disse: Já lhe preparei um banho. A banheira está cheia. Se quiser mais água quente tem na jarra. Eu estou aqui fora.

Jessika não sabia o que falar, e pensava: Eu devo estar sonhando, ou estou na casa de loucos.

Então a senhora disse: não precisa ter pressa, o almoço hoje está atrasado.

Jessika entrou na banheira e ficou pensando: o que irá acontecer agora? Naturalmente Joice está aborrecida comigo e vai me chamar a atenção. Mas esta senhora?... Meu Deus; realmente estou vivendo um pesadelo, ou um sonho maravilhoso; ou será que eu ainda não acordei;

não é possível! Depois do almoço, Joice pegou no braço de Jessika e foram para o jardim. Então Jessika disse: Joice desculpe o que eu falei, eu...

Querida, esqueça o que falamos. Esqueça o dia de ontem, ele já passou e não volta mais. O que aconteceu, aconteceu; não se pode fazê-lo voltar; mas podemos começar onde ele terminou!

As duas moças continuaram o passeio. Jessika ficava encantada a cada canto do jardim. Surpreendia-se a cada flor apresentada pela Joice.

Neste momento apareceu um senhor, que ao longe observava as moças.

Joice deu um sinal com a mão chamando-o.

- A senhorita me chamou?

- Chamei sim Silas! Esta é Jessika. Vai ficar uns dias conosco. Assim espero.

- Olá senhorita!

- Meu nome é Jessika. Por favor, só Jessika!

- Obrigada senhorita é bonita como seu nome!

- Eu já disse que dispenso o, senhorita!

- Está vendo, Silas, a nossa hóspede é exatamente como eu lhe disse!

- Realmente, Joice, você estava com razão!

Jessika não estava entendendo nada. Principalmente o tratamento do Silas para com ela. No mesmo momento em que ela a tratou por senhorita, logo em seguida a chama pelo nome com tanta intimidade. Assim também foi aquela serviçal que brincou com ela com se fosse uma companheira, uma serviçal como ela!

Joice acudiu! Parece ter adivinhado o pensamento dela.

- Olha Jessika, este é o meu melhor amigo. Não queira me roubar!

- Ora Joice, não assuste a menina. Creio que ela não está entendendo nada do que estamos falando! - Realmente Silas; eu me surpreendo a cada atitude de Joice. Quanto roubá-lo dela, isso me parece impossível; por que notei que vocês se gostam muito; mas posso tentar! Quem sabe?...

- Tente, para ver o que lhe acontece!... Mas não é para menos. Quando eu nasci, Silas já cuidava deste jardim com a mesma eficiência e amor!

- Você tem razão. Nós nos gostamos muito, e creia que devo muito a ele!

- Não diga tolice, menina. Você sabe que eu, quem devo muito a você!

- E quem é você? Perguntou Jessika.

- Quem sou eu?

- A melhor pessoa do mundo, atalhou Joice antes que ele tivesse oportunidade de responder!

Neste momento uma vós se fez ouvir!

- Joice você se esqueceu que precisa sair? Esqueceu do compromisso?

- Não Amelia, eu não esqueci. Por favor, desfaça este compromisso. Eu não pretendo sair. Eu tenho visita, não está vendo?

- Não me esqueci, mas este compromisso não pode ser adiado!

- E por que não? Olha, desfaça qualquer compromisso até segunda ordem. Não estou para ninguém!

- Você enlouqueceu Joice, você não pode!

- Engana-se, minha cara, eu posso! Por favor, cumpra as minhas ordens.

- Como queira... Esta menina! Ainda...

A senhora saiu resmungando. Não deu para ouvir as últimas palavras, mas sabe-se que foram de descontentamento.

- Não ligue para ela disse Joice. Ela resmunga assim mesmo, mas é uma boa pessoa, creia!

Jessika esperava que Joice iniciasse a conversa que lhe propora, mas, por mais que esperasse, ela não falou nada. Então começou a impacientar-se, o que fora notado por ela.

- Está preocupada com alguma coisa, Jessika? Não está gostando daqui, da minha companhia?

- Claro que estou gostando, principalmente da sua companhia. Você é maravilhosa!

- Vamos fazer uma coisa. Deixemos de rasgar sedas, está bem?

- Não entendi Joice!

- Olha querida você gosta de mim, eu gosto de você, e não estamos fazendo favor nenhum, uma para outra. Por isso, tratemo-nos como amigas! Está bem assim?

- Não Joice não está bem. Você tem razão de uma coisa. Quando eu disse que gosto de você, estou falando a verdade, mas está muito longe de sermos amigas. Eu estou aqui para trabalhar, e como funcionaria, você terá todo o meu amor, atenção e carinho. Serei uma funcionária amiga, disso você pode ter certeza, e poderá dispor sempre.

- Mas eu prefiro uma amiga funcionária, e não uma funcionária amiga! Destas temos muitas!

- Se você prefere assim?

- Prefiro! Aquele diálogo terminou sem que fosse atingido o objetivo da Jessika, que era saber por que Joice a convidou para sua casa, e o que tinha de tanta importância para lhe falar. Mas Joice não falou nada, o que a deixou muito preocupada e curiosa!

Depois do passeio, voltaram para casa. Então Joice disse: - Você está curiosa para saber por que a convidei para vir para minha casa, não é mesmo? Pois bem!

Você não acredita que eu já a esperava? Eu sabia que viria aquela festa. Não entendo como você não percebeu o encaminhamento dos acontecimentos.

Acontecimentos?!

- Sim querida. Como você veio para esta festa! - Eu fui por que Jaade me convidou e a madama deixou eu ir. - Sabe? Eu nem conhecia ainda a Jaade.

- Pobre criança!

- Pobre criança? O que quer dizer com isso Joice, por acaso não foi por isso? Por acaso há alguma coisa que eu não sei, e que deveria saber?

- Não. Nada de importante. Apenas este encontro já estava programado.

Eu precisava de alguém, e você foi á escolhida!

- Por favor, Joice, você está me confundindo. Escolhida para que e por quem?

- Pela madama Dez, digamos por enquanto assim. E você agora me pertence. Está satisfeita?

- Não, não estou. Que brincadeira é esta de pertencer a você?

- Você pertence ao rol das minhas amizades. Está melhor assim?

- Não, Joice! Nada ficou explicado. Eu realmente estou perplexa com estes acontecimentos. O que você na realidade deseja de mim. Afinal quem é você, e de onde me conhece?

Você disse que me conhecia de algum lugar. De onde? Por que me escolheu?

- Calma minha querida, você faz muitas perguntas de uma só vez! Vamos por parte. Você não está gostando de estar aqui comigo?

- Isso eu já falei que sim, mas agora as coisas começam tomar rumos diferentes!

Eu lhe pertencer, ser escolhida! Parece que há algo de podre no reino da Dinamarca (Diz o ditado).

Joice sorriu. Gostou da colocação que Jessika fez.

- Não há nada de podre, minha querida. Diga-me o que você veio fazer na Bahia? Por que você procurou a casa de Dez? O que você pretende fazer aqui? Você sabe o que fazem as moças que moram na casa dela, não sabe? - Não, não sei!

- Não sabe? E como veio parar aqui? Quem a enviou?

- Ninguém me enviou. Eu conheci á senhora em São Paulo.

- Ela me disse que, se um dia eu viesse á Bahia, á procurasse. E foi o que fiz. Não sei qual o trabalho que ela irá dar para mim. Eu estou pronta para qualquer trabalho!

- Trabalho?!

Eu sei querida. Eu sei de tudo isso. Mas o que lhe perguntei, é o pôr que você veio para cá. Não notou nada de anormal na sua vida?

- Não. Não aconteceu nada que possa ter mudado a minha vida, e que tenha sofrido influência com a minha vinda para cá.

- Você tem certeza?

Jessika percebeu que ela sabia muito mais do que imaginava sobre a sua vida, e sobre sua vinda para Salvador.

- Diga-me Joice. O que você sabe realmente sobre mim?

- Tudo, querida! Muito antes de você voltar par casa dos seus pais, que eu sabia o que ia acontecer; o que aconteceu!

- Não entendi. O que você tem a ver com minha ida para minha casa, e a briga que tive com o meu povo? E a senhora, Dez, o que tem a ver com tudo isso? Aquele encontro em São Paulo, também faz parte desta trama?

- Também!

- As cartas, as acusações?

- Tudo foi muito bem tramado!

- Meu Deus, como vocês são diabólicas. Afinal o que vocês querem de mim?

- Nada, apenas que você seja feliz, e isso depende somente de você. Digamos; você foi á escolhida!

- Escolhida! E o que vocês querem que eu faça? - Nada! Eu principalmente, nada! Você está na casa de madame Dez. Eu a trouxe para cá, não sei se ela permitirá que você venha morar comigo.

Não sei se você quer. Mas farei tudo; se você quiser vir morar comigo. Você quer?

- Claro que quero. E a madama não manda em mim. Eu não lhe dei nenhuma despesa, por isso não tem por que ela permitir ou não!

- Eu vou consegui uma maneira, que não a aborreça; fique tranqüila. Como já disse: depende de você!

- Sim Joice, não depende só de mim. Depende do emprego que você vai me oferecer. O que vou fazer, isso é o mais importante. Quanto ao ordenado, eu não tenho muita pretensão. Dando para eu ajudar os meus pais, logo que aqui vou ter casa e comida, não é?

- É, Jessika, você terá muito mais!

Joice era isso que você queria falar comigo?

- Era isso! Você quer mesmo morar, trabalhar comigo?

- E qual será o meu serviço aqui na sua casa? Sabe Joice, eu preciso pensar muito. O que eu desejava mesmo era voltar.

- Para aonde Jessika, para a sua casa? Tem certeza de que quer voltar mesmo para sua casa?

- Não para minha casa, mas para São Paulo!

- Bem minha querida. A vontade é sua, a vida é sua! Você será minha hóspede enquanto desejar. Quando quiser ir embora é só dizer.

- A madamee permitirá que eu fique até quando aqui? Afinal eu vou ser empregada dela. Mas como lhe disse depende do trabalho que ela vai me dar!

- Não Jessika, você não é empregada dela, e sim minha!

- Eu não entendo!... Está muito complicado!

- Não é necessário entender. Não se preocupe, vou mandar buscar sua mala. Depois você resolve se deseja ficar ou não comigo. - Está bem, eu agradeço. Apenas eu gostaria de ir. Queria ver Jaade!

- Quando você quiser sair, visitar alguém, passear; fazer qualquer coisa pode sem mesmo me comunicar. Por que você por enquanto é apenas minha hóspede, e os hóspedes são livres para fazer o que quiserem.

- Sabe? Eu continuo não entendendo nada, e espero que me explique; por favor!

- Está bem. Oportunamente!

- Joice; posso lhe fazer uma pergunta? Indiscreta talvez? –

- As perguntas indiscretas correm o risco de não serem respondidas. Contudo faça!

- O que faz Jaade na casa da madama Dez?

- Ela é uma protegida dela!

- Protegida? É o que serei sua? Protegida?

- Talvez! Mas prefiro que você entenda que eu preciso mais de uma amiga, de que de uma protegida!

Jessika não estava gostando do rumo que estavam tomando os acontecimentos, mas era a sua intenção ir até o fim do seu intento vencer na vida, seja como for. E se tiver que ser assim, assim será!

- Voltaram para casa e Jessika foi para o seu quarto.

Quando entrou uma surpresa a esperava. O aposento estava completamente transformado. Não havia quase nada do que havia quando ela entrou pela primeira vez.

No lugar daquela cama que repousava uma boneca, estava agora uma linda cama de casal, protegida por um lindo reposteiro, de lindo cortinado azul celeste. No outro canto do aposento um divã bordado com as mesmas cores. Lençóis finíssimos enfeitavam aquela cama!

Era um aposento digno para uma pessoa muito importante, pensou: não para ela. Não ia aceitar. Havia algo errado!Chamou Joice e disse: - Eu não posso aceitar. Você me coloca num quarto qualquer, junto com as demais empregadas, se for possível!

Jessika, desde o início eu lhe disse que tudo depende de você. A sua vontade será satisfeita, em tudo o que desejar! Mas isso; eu penso que você pelo menos deveria tentar considerar. Eu não poderia colocar você junto aos criados, por que você não é uma criada, você é minha hóspede, e como tal devo tratá-la! Mas se for a sua vontade, poderemos pensar num meio termo. Está bem querida?

- Meio termo? Como assim Joice?

Lício Guimarães
Enviado por Lício Guimarães em 01/02/2013
Reeditado em 23/02/2013
Código do texto: T4117289
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