A CORTEZÃ VIRGEM - Cap. IV
A CORTEZÃ VIRGEM –IV
Ela tinha vontade de saltar daquele carro e sair correndo, mesmo por que não sabia aonde ia dar aquele passeio.
Aquela mulher de ar austero, a observá-la como se ela fosse algo do outro mundo, o que na realidade o era. Aquele não era o seu mundo. A sua vida não tinha semelhança nenhuma com aquilo. Ela era realmente uma estrangeira...
Mas a delicadeza daquela menina!... Claro que não podia ser coisa ruim! Ela mais parecia uma santa!
O passeio durou mais ou menos uma hora. Pararam diante de um elegante palacete, e com ar mimoso disse: - Chegamos!
O cocheiro desceu, e a ajudou descer e depois a ela. Por fim a senhora que desceu, e andou em direção a entrada do palacete, sem mesmo esperar pela Joice, entrou!
- Na porta da entrada da casa; duas moças bem vestidas; com uniforme azul e branco, esperavam.
Quando elas passaram as moças a cumprimentaram com um meneio apenas de cabeça, mas com respeito! Joice brincou com uma delas. Deu a perceber que tinha muita intimidade com as criadas; porque uma delas puxou-lhe os cabelos carinhosamente é claro!
Então Joice disse-lhe: - Desmancha, por que o trabalho vai ser seu de recompor o meu cabelo.
- Você precisa é cortar esta coisa feia!
- Feio o meu cabelo? Você tem é inveja, por que o seu não cresce!
- Este cabelão. Mais curto ficaria mais bonito!
- Envolva-se com a sua vida. O que você tem é preguiça de penteá-lo, cumprido. Agora deixa de conversa, e acompanhe a Jessika aos seus aposentos!
- Está bem sua chata, disse a garota brincando!
Então Joice disse para ela. Depois que descansarmos, tomaremos o chá.
Jessika quis protestar, quanto ir para um quarto de hóspede...
Eu não entendi; você disse: seus aposentos? Aqui na sua casa?!
- Sim, querida. Você não está com presa de ir embora, está?
- Não. Claro que não. Principalmente estar aqui na sua companhia, mas a madama, ela não vai se aborrecer com a minha demora, eu vim apenas para um chá, eu já deveria estar de volta...
- Mas o que importa é o que você está sentindo. Gosta daqui?
- Muito! Primeiro estar com a senhorita!
- Obrigada pelo elogio, posso assim considerar!
- Sabe senhorita, desculpe-me, mas está sendo difícil chamá-la pelo nome!
- Pôr que? Não gosta do meu nome, ou está me achando muito velha?
- Não, não é isso!
- Escute Jessika, não precisa se desculpar. Eu sei como é difícil; eu já passei por isso! - Já? Onde?
- Aqui mesmo, por muito tempo. E creia que não foi nada fácil!... Mas com você vai ser diferente; eu lhe prometo!
Joice disse aquilo quase murmurando que a Jessika nem entendeu direito o que ela disse!
Você disse diferente Joice? Você tem alguma coisa para me dizer? Por que não tenta me explicar o que está acontecendo? Por que estou aqui, quem é você, e o que deseja realmente de mim. Sabe Joice; eu estou a sua disposição, mas apenas quero saber tudo. Eu gostei de você, mas não quero ser enganada. Quero ter o direito de resolver a minha vida, aceitar ou não um serviço, seja aonde for, por que foi para isso que vim para aqui. Preciso trabalhar. Vim a convite daquela madama, e nem mesmo sei por que e como. E não entendi o interesse dela me trazer para aqui. Por isso você há de convir de que eu tenho direito de saber, o que vou fazer não os outros decidirem a minha vida. Eu gosto de você, mas devo ser fiel á madama. Pelo menos até eu saber realmente o que ela deseja de mim; e qual vai ser o trabalho que vou fazer.
Se eu não gostar do trabalho da casa dela, e se a senhorita quiser que eu trabalhe aqui, será para mim muito bom por que na realidade eu gostei mais da senhorita do que da madama; apesar de ela ter sido muito boa comigo, o que lhe sou grata; mas quero resolver se aceito ou não. Como você já deve ter percebido, eu sou uma moça simples e necessitada de trabalho, por que ajudo os meus pais naquilo que posso. Desculpe-me se estou sendo grosseira, mas...
- Mais uma vez eu lhe pergunto: você está com pressa de ir embora?
- Claro que não, desde que você se entenda com a madame!
- Não se preocupe, podemos deixar nossa conversa para outro dia. Quanto Dez, eu me encarrego de lhe avisar que você ficará aqui comigo uns dias!
- Sabe Joice, eu venho de uma situação muito delicada; sem entender até agora muita coisa, e que me perturba muito. E aqui continua da mesma forma. Parece que estou tendo um pesadelo, e este está demorando muito terminar. Os meus nervos já estão chegando ao seu limite máximo. Parece que estão escondendo alguma coisa muito importante; que pode dar um destino a minha vida; não sei se bom ou mau!
Eu venho de uma desilusão muito forte com a minha família. Então eu vim para cá para refazer a minha vida, mas parece que o pesadelo continua!
- Que tipo de vida, Jessika?
- Não sei! Nem quero pensar o que passou pela minha cabeça. Ganhar dinheiro! Ser famosa! Conquistar a vida!... Como você vê; sonho de uma pobre jovem do interior!...
- E você pretende conquistar tudo isso junto com a Zuleika. (Dez)?
- Não sei. Eu estou apavorada. Nem sei o que seria de mim se não tivesse encontrado você; que eu espero que ajude me orientar! E foi por isso que aceitei o seu convite para vir aqui. Eu confiei em você, e gostaria que você me aconselhasse se devo voltar imediatamente para minha casa, para São Paulo, ou para qualquer lugar longe daqui!
- Não gostou da minha casa?
- Não sei dizer direito o que estou sentindo. Só sei que estou desesperada...
Ajude-me, senhorita resolver este problema. Sabe? Eu não quero dinheiro. Eu tenho guardado um dinheirinho. Não o gasto nem que tenha que passar fome, por que é para minha passagem de volta para minha casa. Desculpe-me, mas eu conto com a senhorita para me ajudar sair desta enrascada que me meti!
- Não sei querida, se sou a pessoa certa para ajudá-la; pensaremos numa saída!
- Olha Joice, eu não devo nada para esta mulher. Não me comprometi com ela. Não tem nada que me obrigue a ficar com ela aqui em Salvador!
- Está bem, Jessika; agora descanse um pouco, é o que vou fazer também.
Jessika foi levada pela criada para um aposento muito lindo. Todo estufado de verde água. Cortinas finíssimas, que flutuavam com a leve brisa que soprava da baía. Móveis talhados a gosto. Lençóis bordados, imitação da madeira, mas muito mais lindos por que eram de natureza pura brasileira; da baixa do sapateiro ou da Rua do Chile, pensou Jessika. Não sabia ela que era tudo original!
Tirou os sapatos e deixou roçar os pés levemente no macio tapete.
No teto um desenho lindo. Parecendo um grande dragão acariciando uma moça seminua; que pendia gostosamente a cabeça para traz com um leve sorriso, deixando aparecer matreiramente os lindos seios arrebitados, excessivamente sensuais. No fundo do aposento um cortinado que protegia uma pequena cama de solteiro.
Jessika ficou intrigada! Por que aquela cama ali, e tão protegida com aquele cortinado?
Aproximou-se mais da cama e percebeu algo ainda mais estranho. Uma linda boneca bem vestida. Tinha ela o rosto de madrepérola. O resto do corpo de pano.
Quando Jessika ia afastar o cortinado para melhor admirar aquela boneca, ouviu um leve toque na porta; seguida com uma pergunta: - Posso entrar Jessika?
- Claro; Joice; estou aqui. Estava meio penumbra onde ela estava. Por isso precisou acostumar á vista com o ambiente!
- Por que não acendeu a luz?
- Não era necessário. Está bem assim!
Uma vós vindo da porta assustou Jessika, o que não aconteceu com a Joice... Talvez o costume!
- A merenda, Joice, aonde quer que a sirva?
- Ponha na varanda. Aproveitaremos para admirar a Baía, não é mesmo Jessika? Eu nunca me canso de admirar esta paisagem!
Disse isso se dirigindo á companheira que também, por sua vez estava encantada com a cordilheira de montanha que como um lindo quadro estava ali na sua frente.
- Realmente deslumbrante: digna de quem a criou!
- Crer nisso mesmo, Jessika?
- Em que senhorita? No Criador da Natureza?
- Sim! Você crer mesmo que haja um criador desta maravilha?
- Claro! Eu acredito realmente!
Um tossido forte interrompeu aquele diálogo.
- A merenda vai esquentar, comam logo!
Jessika não entendia o aparente domínio que aquela senhora exercia sobre Joice.
Mesmo por que ela não sabia quem era ela, e o que era da Joice.
Filha, ela sabia que não era. Uma governanta? Talvez com muito prestígio até o domínio.
As duas moças se assentaram na varanda e comeram a merenda alegremente.
Jessika parecia mais calma, começava ter confiança na moça, mas percebeu que ela não gostou muito de vê-la perto daquela cama, e pensou: “Se ela não queria que eu me aproximasse da boneca, por que permitiu que eu ficasse naquele aposento quando tinha outros vazios na casa?” Devo estar enganada, pensou: Tinha vontade de perguntar, mais teve receio. Deveria ser algum segredo, ou algo que recordasse alguma coisa muito importante.
Comeu calada, mas observando todos os movimentos da companheira. Percebia que ela procurava iniciar um diálogo com ela, mas não sabia como, ou não encontrava as palavras. Não parecia coisa muito simples, e por isso esperou calmamente.
Jessika percebeu que uma angústia dominava a moça. Mesmo ela se esforçando para não deixar transparecer!
Ela não é feliz, pensou:
“Mas o homem que ela amar; será muito feliz, por que ela é maravilhosa! Como eu gostaria de ajudá-la! Mas como meu Deus? Se é exatamente eu quem precisa de ajuda neste momento! Então rompeu o silêncio que envolvia as duas: - Joice você tem um lindo jardim. Se eu morasse num lugar como este seria o meu lugar preferido para passar os momentos tristes e alegres também.
- Você gosta?
- Muito, é maravilhoso. E transmite muita calma!
Jessika colocou naquela exclamação todo o seu estado d’alma. O que foi percebido pela Joice.
- Por que você não vem morar aqui? Assim poderá usufruir dele. Vamos, venha vê-lo de perto.
As duas moças saíram a passeio, mas sempre observada pela senhora. Jessika quase não continha a vontade de perguntar por que aquela senhora estava sempre ao seu lado. Por que não a deixava sozinha, mas se conteve e esperou uma hora mais oportuna.
No jardim, cercada pêlos mais raros e estranhos tipos de flores, e o que mais sobressaia era os Odontoglossos. Planta rara de uma beleza estonteante, incomum! Joice colheu uma e deu para Jessika sentir o cheiro. Mas ao invés de uma suave fragrância, sentiu o cheiro repulsivo de um inseto. Mas Joice não a atirou com desprezo, mas colocou no chão com carinho, como se tivesse colocando um filhote de passarinho, ou algo tanto delicado.
Jessika não entendeu a atitude da companheira e continuou andando como se nada tivesse observado, mas pensou: “Que moça estranha! Que sensibilidade!” Mas o que se passará no seu íntimo? Acredito que coisa boa não é!
De certa forma, Jessika ficou assustada. Como poderia viver com uma pessoa assim! Principalmente se esta amizade entre elas continuasse!
O silêncio era sempre rompido pela Jessika. Olhava para aquela senhora de fisionomia tão austera de uma delicadeza incomum. Como pode ser isso. Ela não sabia o que fazer; o que dizer. Precisava conversar com Joice nem que fosse pela última vez. Ela não queria deixar uma má impressão!
- Vamos senhorita, disse Amelia. Mas Jessika não a estava escutando!
Então ela chegou mais perto e tocou-lhe o braço, e disse: O carro está pronto vamos?
Jessika olhou novamente para aquela mulher e disse: Por favor, a senhora pode dispensar o carro, eu vou a pé para casa!
- Como? A pé?
- Sim senhora, eu vou a pé. - Preciso meditar, e não existe nada melhor de que uma boa caminhada!
- Mas é muito longe. É do outro lado da cidade!
- Não faz mal. Agradeça á senhorita Joice por mim!
Jessika, antes que a senhora dissesse alguma coisa ela foi embora. Então Amelia comunicou o fato a Joice.
- Como Amelia você permitiu uma coisa desta. Esta menina nem é daqui, ela não conhece nada, nem como voltar para casa!
Vamos, chame o carro!
Mas foi inútil. Mesmo por que Jessica imaginando que ela mandasse alguém procurá-la, ela desviou por outras ruas, onde não passava carruagem.
Sabendo que era inútil procurá-la, Joice foi para casa de Dez esperá-la, mas Jessica não foi para casa. Vagou pela cidade, mas como não conhecia a cidade, e não sabia o nome da rua que estava hospedada, não tinha como perguntar alguém. Então ela teve uma idéia. Foi para a estação de trem. Pelo menos estaria abrigada e tem sempre alguém; Funcionários! Se alguém perguntar ela conta que se perdeu e que alguém a procurará no dia seguinte. Assim ela ficou protegida. Enquanto isso Joice e Dez se preocupava com o paradeiro dela.
A noite foi para elas pior de que para Jessika que estava dormindo calmamente na estação. Apenas enquanto não conciliava o sono pensava o que fazer da vida; e o melhor era voltar para casa ou para São Paulo. Mas não parava de pensar na Joice, por que gostou muito dela, e principalmente sabia que Joice apesar de ter tudo, ser rica era demais carente, e não era feliz. E percebeu também que Joice gostou dela. Foi como costumamos dizer um amor mútuo a primeira vista. Mas aconteceu aquilo. Alguma coisa que ela não consegue entender; prende-a aquela mulher. O que será? Não pode ser apenas autoridade de governanta. Existe alguma coisa maior. Aquela senhora: tão austera, mas tão boa, tão amorosa, que lhe tratou tão bem. E por que ela as policiava tanto? Estava sempre perto de nós; observando-nos. E por que daquela atitude da Joice quando eu disse aquilo? Eu não tive a intenção de ofendê-la; muito menos censurá-la. Era até admiração pelos cuidados como se fossemos criança. Protegendo-nos! Meu Deus, o que fazer? Amanhã vou á casa da madama, apanho as minhas coisas e volto par casa. Para casa não, Para São Paulo, é o melhor que tenho a fazer.
A pessoa que cuida deste jardim deve ter um bom gosto e muita sensibilidade, não é Joice?