Passageiros

Já estava lá, naquele trem, há muito tempo. Já havia passado por milhares de estações, conhecido muitas pessoas e paisagens. Algumas mantiveram-se junto a mim, no mesmo vagão, outras foram-se para outros assentos, em outros carros, mais à frente ou atrás do meu, não sei. Só sei que em um determinado momento alguém entrou no vagão, olhou para todos os passageiros e, depois de uma boa observação, veio sentar-se junto a mim.

- Posso sentar-me a seu lado? - perguntou.

Assenti e quando lhe dirigi o olhar tive a certeza de já tê-lo visto antes, muitas vezes. Não me lembrava quando, nem onde, mas a sensação foi a mesma, nem boa nem má.

Sentou-se ao meu lado e, instantaneamente, senti-me só. Totalmente só, inebriavelmente só.

Tomou minha mão, percorreu meu braço com seus dedos longos e frios e envolveu-me em um longo abraço.

Não relutei. Aceitei e, de certa forma, senti-me acalentada, embora o frio me percorresse de alto a baixo e sentisse uma proteção que me fazia vulnerável.

Assim fiquei por horas e cheguei até mesmo a adormecer, envolta por aquele frio manto.

Novamente as portas do trem se abriram e novos passageiros entraram no vagão. Ao meu outro lado sentou-se uma garotinha de pouco mais de cinco anos e pôs-se a me fitar, com seus olhinhos cheios de vida, convidando-me a participar de seu entusiasmo. Sorri-lhe. Ela retribuiu e, com suas mãozinhas estendeu-me uma flor, uma pequena flor, dessas que podem ser encontradas em qualquer terreno baldio.

Repentinamente, aquele alguém que me abraçava tão fortemente deixou-me sem se despedir, sem um único adeus. No assento que ocupara restara apenas seu cartão de visita. Seu nome? ... Solidão.