Aventureira
Aventureira, ela desembarcou na cidade trazendo na bagagem um amor que ela esperava um dia ser seu.
Ela se entregara totalmente àquele amor, mesmo sabendo que ele estava noivo e com casamento já marcado.
Deixou trabalho e uma família entristecida pela sua falta de juízo.
Foi morar em pequeno apartamento que dividia com conhecidas, e logo começou a trabalhar para pagar suas despesas.
Encontrava-se todos os dias com sua paixão, ou mesmo visitava-o em seu pequeno apartamento no centro da cidade.
Ela marcava ponto diariamente e ele foi ficando cada vez mais envolvido. Sem saída terminou o noivado, que lhe rendeu inúmeros inimigos.
Casaram-se e não tardou tiveram tres meninas, criadas cheias de cuidados e mimos.
Ela deixou o emprego e foi cuidar das filhas.
Mesmo tendo seu sonho realizado, a insatisfação a perseguia. Sua alma estava infeliz.
Sem aparentes motivos, sucumbiu a uma crise depressiva, não mais saindo da cama por longos meses.
Após período de tratamento, e sentindo-se melhor, voltou a fazer pequenos trabalhos, mesmo que não mais precisasse, pois o marido conseguira altos ganhos, enquanto as duas empregadas cuidavam das filhas e da casa.
O tempo parecia nada ter ensinado a ela. Tratava a todos com insolente desprezo. A indelicadeza com os amigos, vizinhos, acabaram por findar amizades construídas durante anos.
Tinha atitude grosseira com suas ajudantes, e não raro as humilhava.
Achava que o marido por ter conquistado tantas coisas, bons apartamento de frente ao mar, carros do melhor modelo, jantares e viagens, não mais precisava descer do seu trono, mas não lembrou que a vida é muito mais que isto.
Agora com a vida tranqüila financeiramente, seria ela uma pessoa tão mais digna, sê generosa, humilde, delicada e tolerante com seu próximo.
A intolerância e o preconceito, presentes em sua vida, ainda que iludida julgando-se virtuosa, gentil e nobre, não acalentava sua alma inquieta.
As filhas casaram-se, e sua infelicidade tornou-se mais intensa.
O marido trabalhava como alucinado, para não dar trégua, e ter que conviver com assuntos domésticos.
Subitamente, ela foi acometida por uma doença grave, sendo o tratamento penoso e duradouro.
Enquanto internada, ela não viu amigos, parentes ou vizinhos. Ninguém se dispôs a visitá-la. Uma indizível tristeza açoitou-lhe a alma. Esta particularidade fê-la repensar sobre a vida que é tão fugaz.
Tomou uma atitude logo que ficou boa. O orgulho e a prepotência ficaram para trás, e ela passou a viver em harmonia respeitando e amando o próximo, independente de raça, religião e posição social.
Passou a ajudar na igreja próxima de sua casa, ensinando crianças especiais, e seu bem estar era notável até aos mais distraídos.
Ela finalmente resgatou sua auto-estima, e seu coração se tranqüilizou!