Dois olhos
Essa foi uma noite com muitos sonhos e lembranças. Foram pensamentos alheios que pulularam essa mente que vos fala, que escutava: “Eu tenho algo que é dela”. Era o que um rapaz falava sobre uma antiga namorada. Ele queria revê-la como quem quer se redimir de alguma mágoa que causou. Mas nada disso fazia mais sentido, pois muitos anos se passaram desde aquele dado fim. E o término deles foi o começo do choque causado pela atração desse rapaz com outra moça, dois jovens tão distintos como os polos negativo e positivo de dois imãs.
Lembrança de abraços, de confissões ditas tardiamente a terceiros, de uma vontade contida de se expressar. Recordações de beijos ardentes, de provocações movidas por uma paixão juvenil. Memórias interrompidas pelas visões do presente que apontavam algo incerto no futuro, mas que no passado foi real. Dois olhos, fixamente hipnóticos, faziam um filme passar na mente de quem os fitavam. Surgiram imagens dessa vida e de vidas passadas, projetadas das retinas dele para as córneas dela. Quem as olhava é quem vos fala, que ficou por segundos paralisada e boquiaberta com aquela sensação, uma mistura de hipnose e reconhecimento.
Foi preciso tirar os pés do chão para entender o significado de toda aquela atitude mística. Aquelas duas almas estavam entrelaçadas desde os primórdios da existência. Mas, aos poucos, a vivência no mundo terreno foi apagando os vestígios da consciência que as guiava a permanecerem juntas. Agora não se sabe o que virá pela frente, mas aquela sensação de transe dificilmente será esquecida.