A TRAGÉDIA DE SERRA AZUL

Serra Azul foi uma daquelas cidades surgidas quando da passagem das velhas caravanas dos Bandeirantes, à procura de suas pedras preciosas, e que se ajeitaram por aquelas bandas por mais de um ano.Neste período, foi surgindo uma igrejinha de pau a pique feitas a barro,e mais umas seis ou sete casas no mesmo formato,as quais foram surgindo com a aproximação de várias famílias advindas de outras localidades, motivadas pelas vinda dos Bandeirantes as quais ficaram e foram construindo as suas casinhas de pau a pique.

Com a ida dos Bandeirantes,as famílias permaneceram, e fincaram as suas vidas e as suas casinhas naquele lugar ermo.Umas sobrevivendo das pescas,e outras de suas pequenas lavouras, as quais lhes davam os seus sustentos necessários. Dentre todas estas gente,existiam:Sr.José do boteco,dona Sebastiana,parteira,Sr. Rafael raizeiro,dona Maria benzedeira.Não somente tirava o mal olhado, como também as vezes ate curava os males, com as suas raizadas, aquele povo desprovido de um amparo médico.Mas havia também o Sr.Zequinha que trazia na ponta de seu queixo, uma barba rala,o que lhe dava as característica e a aparência de uma barba de um Bode velho.Onde advinha o seu apelido, de Sr.Zequinha do Bode, do qual o mesmo repugnava.Ao seu lado, trazia a mãe de seus três filhos.Dona Jandira,lavadeira exímia de roupa daquele lugar,e seus três filhos: Joãozinho,Manesinho, e Jussara.Os três viviam das divertidas brincadeiras com outros rebentos do lugar. Entre uma nanada no rio,ou no correr de pega pega,ou as vezes uma uma laranja que lhes serviam de bola para uma pelada, vez ou outra, pelas ruas daquela viela, a qual contava agora, com várias famílias e várias casas de ribeirinhos,que vieram de vários lugares,pela fama da nova metrópole.

O vilarejo,hoje,contava com uma igreja mais imponente.Feita com alvenarias,construída proveniente das arrecadações dos fieis com a suas fé inquebrantáveis, de ver uma nave bem maior,onde acomodariam todos os fieis daquele lugar.Sua inauguração foi feita pelo padre João,que conseguiu a proeza de andar no lombo de seu burro mais ou menos oitenta quilômetros, para chegar aquele vilarejo.Em sua inauguração, houvera uma festa de causar inveja às grandes cidades. Primeiramente tiveram a missa, e após, a grande comilança.Pipocas, Broas de milho,Biscoitos de goma,e outros tantos confeccionados pelos vilarejos do lugar.Mas que foi uma festa e tanto,isto la foi!

O vilarejo de Serra Azul,agora contava com esta igreja imponente situada no largo de Nossa Senhora da Aparecida a qual lhe emprestara o seu nome a grande nave.

Os anos se passaram naquela vila,fazendo com que Joãozinho,Manesinho e Jussara,se transformassem em jovens mancebos.

Manesinho, se deslocou para uma cidade próxima, para dar a seus estudos uma melhor colocação em seu padrão de vida.Joãozinho se mandou para São Paulo a cata de um trabalho.Jussara se transformara em uma linda rapariga brejeira, de um morenado doce,que por sua vez se encantara por Antonio da dona Fia, que por conseguinte, era filho de Gumercino,um desafeto do Sr.Zequinha do bode, que vinha ser pai de Jussara.Este desafeto, era de uma diferença feita entre Sr.Zequinha do Bode e o Sr.Gumercino, no boteco do Sr. José, por conta de uma pingaiada. Haviam juras de morte entre os dois desafetos.Jussara, encontravam-se com Antonio as escondidas.Ate a sacristia da igreja serviam como pontos de encontro entre ambos.As vezes se furtavam ate a beira do rio,embaixo das árvores, como refúgio para os dois.

Certa feita,Sr.Zequinha do bode, desconfiado da trama entre os dois,encontrara com Antonio quando vinha de sua lida em sua rocinha,encostou-o na parede,e prometeu furar-lhe o bucho caso o pegassem com Jussara.

O amor de Jussara,como o passar dos dias,foram tomando forma e tamanho. Quanto a Antonio,da mesma forma,iam se transformando em uma coisa sem igual.Os dois quase já não se viam.O lugar alem de pequeno,ainda tinham as más línguas,as fofocas que impediam este afronto de dois grandes amores,e a qualquer deslize,a vaca ia pro brejo.

Seu Zequinha do Bode quando via Gumercino na rua,transpunha a mesma, e passava para o outro lado,ou até mesmo voltava atras no seu destino para não encontrar o seu desafeto.

Nas missas domingueiras,uma vez por mês,já que padre João não tinha o seu traseiro de ferro, para as devidas cavalgadas nos domingos,os quais seriam oitenta quilômetros no lombo do aqui citado burro,la dentro Jussara e Antonio,se abraçavam apenas pelos seus olhares coloquiais.

Em um dia destes raros encontros,Antonio ponderou a Jussara:

-Jussara,assim não da mais,não suporto mais este distanciamento entre nós.Ou agente foge,ou você tem uma ideia melhor?!

-Antonio,meu querido,se fugirmos você bem conhece o meu pai.Ele vai nos caçar como caça um veado em suas costumeiras caçadas.Ele vai nos achar,e sabe-se la o que ele pode fazer.

-Mas nos temos que dar um jeito Jussara.

-Só se fizermos tal qual Romeu e Julieta:-Disse Jussara meio que rindo.

-Agente vai dar um jeito Jussara,pode esperar que vamos!

Os meses se foram, arrastando os seus dias.Naquele vilarejo,tudo permanecia como antes no quartel de Abrantes.Carroças passando nas ruas,cavaleiros chegando e saindo para as suas labutas,e Antonio e Jussara raramente se encontravam.Estes desencontros efetivava mais ainda o amor entre os dois. Gumercino, por sua vez,atarefava mais ainda Antonio em suas lidas para que não lhe sobrassem tempo para Jussara. Sr.Zequinha do Bode,segurava mais ainda Jussara nos afazeres da casa,não lhe dando tempo para sair as ruas.As coisas já se tornaram praticamente insuportável para os dois quando em um repente, ouve um destes raro encontro.Foi quando Antonio falou a Jussara!

-Jussara,eu a amo como nunca, e não saberia ficar sem você por um instante se quer.

-Eu também o amo meu bem,mas o que poderemos fazer?!

Antonio de pronto lhe respondeu:-Jussara,há um lugar onde possamos viver tranquilamente na paz,sem vigias,sem nossos pais a nos atormentar,sem obstáculos algum para nos afugentar um do outro.

-Mas que lugar tão belo é este meu bem?!-Antonio logo lhe responde:

-Na paz do nosso Pai Maior.No Céu.

Tirando dois vidrinhos de seu bolso,de um liquido venoso,e passando um dos vidros para Jussara,lhe disse:

-Eu a amo demais,e ficarmos aqui a sofrer deste jeito,é a única forma de vivermos eternamente juntinhos.

Jussara pega o vidro de sua mão e lhe pergunta:-De que forma faremos?!

-Hoje,a meia noite em ponto,assim que estivermos em nossos quartos,

faremos da seguinte forma;Eu em minha casa bebo este veneno,e você em sua casa faz da mesma forma e em seguida viveremos juntos a Deus na paz de nosso amor.

Assim,feito e combinado,cada um foi para a sua casa,sem antes darem um longo e apertado abraço,por longos segundos beijando ou ao outro.

O dia raiou como os demais dias com o cantar dos galos.Homens passando pelas ruas com as suas enxadas nas costas em direção às suas rocinhas.

O Sr. José abria a sua primeira folha de porta de seu boteco,quando a gritaria na rua se anunciou.Gente correndo de um lado e para o outro sem direção. Sr.Gumercino,desesperado,corria gritando:-Pelo amor de Deus, chamem um médico,e do outro lado da pracinha Nossa Senhora da Aparecida,Sr.Zequinha do Bode gritava desesperado:-Por misericórdia Jussara não quer acordar,Jussara não acorda,acudam gente!

Quando o sino da igreja batiam cinco baladas da tarde,pelo corredor de uma das ruas daquela viela,la iam dois caixões em direção ao cemitério, um lado do outro, com quase a totalidade da população do vilarejo seguindo atras.

Alguns lamentavam:-Porque fizeram esta desgraça como os pobres moços?!Outros da mesma forma:-É muita ruindade destes pais sem alma.:-Vão sofrer pro resto de suas vidas para pagarem os pecados cometidos.

Neste meio tempo,já se encontrara duas covas profundas, abertas no centro do cemitério,e em em volta,várias pessoas chorando e lamentando o fato ocorrido.Ali,foram foram depositados os dois corpos dos jovens,Antonio e Jussara.

Um monte de terra jogado sobre ambos, selariam assim para o todo sempre, um verdadeiro e inexorável amor de dois seres que simplesmente só queriam amar.