Vida em solução de continuidade

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Vida em solução de continuidade — CXLI

18JANEIRO2013— SEXTA-FEIRA.

(continuação de 11 de janeiro 2013).

Vida que segue

XLI

“Muitos homens, quanto mais honrados pela suma generosidade dos benfeitores, mais se ensoberbecem e procuram não só prejudicar os nossos súbditos, mas, incapazes de moderar a própria soberba, tramam armadilhas contra os seus próprios benfeitores.” (Ester 8,12)

— Por isso a madrinha e o padrinho disseram que a gente vai se mudar pra outro lugar, porque ela tem medo que a mamãe queira me trazer de volta, e ela não vai ficar dando dinheiro à mamãe sempre.

— Dinheiro à mamãe?! Ela não dá nenhum dinheiro pra mamãe, seu bobão!

— Ah, não sei. Ela me disse. Eu vou morar muito longe, e vocês não vão mais me zoar, pronto!

Após a conversação, Anabela, desconfiada, vai perguntar a sua mãe se a Rosinha lhe dá algum dinheiro para ficar com o Jaques. Pega de surpresa, pelo que considerava segredo, Cleópatra fica indignada e começa a conversar sozinha em seu linguajar idiossincrásico: — “Que sujeita indigna! Há, ela vai ver só uma coisa! O que ela tá pensando da vida? Eu pari o menino, senti dores horríveis pra ter esse que era gordo, amamentei, cuido dessa coisa, e ela que é uma figueira do diabo, não dá fruto de jeito nenhum, quer levar esse sem me dá nada! Agora, veja só: esse menino sendo bem criado, sim, porque será filho único, vai estudar, se formar, certamente, e não vai me valorizar: eu, que pari, sofri e criei até agora! Ah! Isso não mesmo! Pois vai ser nada! mas vai ficar aqui junto dos outros!

Jaques empalidece e queda-se paralisado com o que acaba de compreender, ao escutar o discurso solitário da mãe. Volta a si quando sente seus braços presos pelas garras dela, que diz: — Vamos lá, Jaques! Você vai dizer para aquela traste que não quer morar com ela, viu, meu filho?

— mas mamãe, eu quero! — Diz Jaques quase chorando. Cleópatra sacode o menino, segurando-o pelos dois braços, e diz autoritária: — Não! Ouviu? — E com a voz falseada, diz para o filho que vai sentir saudade dele, já que a madrinha quer levá-lo para longe dos pais. Jaques, no entanto, não se convence, e continua firme em seu propósito de ir morar com a madrinha. Cleópatra sai, deixando o menino em casa, não sem antes ameaçar surrá-lo caso insista naquela história.

Ao chegar à casa de Rosinha, Cleópatra bate forte na porta, e a comadre vem atender estranhando o barulho. Nem bem abre a porta, escuta uma proliferação de impropérios com ameaças e detrações.

(Lere)

—Continua em 25 de janeiro de 2013 sexta-feira.

Lere
Enviado por Lere em 18/01/2013
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