O casamento da amada

 
 
      Muitos estranharam a presença do homem de meia-idade que assistia ao casamento de uma linda moça com um rapaz nem tanto.
      Finamente trajado, demonstrando educação esmerada, o homem claramente demonstrava não ser qualquer mortal desconhecido, embora seja isto, na realidade, o que somos.
      Prestava atenção na elegância e requintada beleza da noiva.  Vez por outra, uma lágrima corria dos seus olhos.
      Explica-se: durante dois anos, foram apaixonados.  Paixão que não se concretizou, não namoraram, não ficaram juntos.  Mas nem por isso deixou de ser muito intensa.
      O encantamento da noiva causava inveja aos magoados pela vida.  Nosso homem, não.  Exibia um sorriso de contentamento.  Seu convite, por especial delicadeza, partiu da própria noiva.  Na cerimônia, só ela o conhecia.
      Podemos dizer que aos olhos dos presentes, era um intruso.  Mas com compostura que ninguém se atrevia de perguntar quem era ele, e o que fazia ali. 
      A dignidade da sua aparência não autorizava tal medida.
      Ele sorria.  As lágrimas de amor que rolaram na sua face foram de contentamento.  Ele jamais poderia casar-se com a bela e delicada jovem que recebia as benções do matrimônio dadas pelo celebrante.
      Estranho mundo!  Quando muitos se odeiam por razões insignificantes, o nosso homem encontrava-se calmo e feliz.  Era isto que o seu rosto demonstrava.
      Foi abordado por um parente da noiva, com discrição.
      Perguntado quem era, uma falha terrível de quem se presta a estes papéis, mostrou o convite tirado do bolso interno do paletó, que dava direito a participar da cerimônia e da festa.
      Muitas questões são misteriosas, nesta vida.  Neste exato momento, talvez pressentindo que havia algo a ser resolvido, a noiva virou um pouca a cabeça e viu a cena.  Lançou um belo sorriso.  Seu tio, sem mais o que fazer, apenas perguntou ao homem que se mantinha inabalável, pelos menos externamente.
      — Estou vendo que é conhecido da sobrinha, e sua fisionomia demonstra ao mesmo tempo alegria e tristeza.  Posso saber o que se passa, senhor?
      — Pode sim.  Fomos apaixonados.  A felicidade dela é a minha felicidade.
      Terminada a cerimônia, a noiva ao passar por ele deu um olhar, como que de respeito e agradecimento.
      Os olhos brilhando do nosso homem responderam, com carinho e amor.
      A felicidade dela era sua também, é bom repetir.  São coisas da alma, coisas da vida...