Foi Assim Que Acabou

“Paula estava com a cara de acabada típica de quem passara as últimas 12 horas sob o jugo dos destemperos da vida. Chegou a meu encontro praguejando a própria existência.

Interrompeu-se nas lamúrias ao perceber que sequer havia me cumprimentado. Me abraçou com força, com o corpo todo. Por mais que eu tentasse me manter impessoal - mesmo diante das circunstâncias -, o corpo dela fulgia algo de animalesco, almiscarado; um explosivo cio latente; como se carregasse no meio das pernas a cura para todos os males pela qual meu corpo ansiava – eu tremia em desconforto em sua presença.

Não tínhamos sobre o que falar e já sabíamos para onde, sem demora, deveríamos nos encaminhar - e assim, em silêncio e de braços dados, fizemos. Empurrei a porta do quarto e procurei os interruptores. O ritual era o mesmo: acender luzes e deixar os olhos absorverem a paisagem que serviria de palco para a doentia concupiscência humana. Larguei minha mochila no chão enquanto Paula se adiantava na direção do espelho. Olhou-se de cima a baixo; lançou uma mecha impertinente atrás da orelha e sorriu pra mim, através do reflexo. Devolvi o sorriso e dirigi-me até ela, agarrando-a por trás e beijando a nuca salgada. Seu corpo empertigou-se e logo em seguida deixou-se cair num lasso de luxúria complacente. Escorregou a mão por cima da minha calça e me beijou com um desespero fingido. Minhas mãos, ardilosas, se embrenharam por entre suas partes pudendas. O asseio trocado pela ansiedade. Pela urgência do refestelo. O banho tomado no raiar do dia olvidado pela pressa da foda. Quando dei por mim, por nós, eu esfregava a calcinha no nariz com uma tara demente; o cheiro, o cheiro de suor de virilha feminina queimando os pelos do meu nariz, erigindo, enrijecendo as cartilagens do meu pau. Paula, recostada no espaldar da cama, de pernas arreganhadas, com a ponta do dedo médio girando em cima do clitóris, se divertia em delícias com a minha idiotice. Joguei a calcinha por trás dos ombros, cuspi na cabeça do cidadão e me enfiei naquela gruta. Sem preliminares. Chupação nem punheteação mútua: apenas o que a natureza exige através de truques subliminares: a penetração, o mete-mete, o entra-e-sai.

Gozei rápido e sem entusiasmo. Rolei pro lado. Senti-me deveras entristecido. Paula caiu por cima de mim com meia dúzia de silêncios, pois seu olhar caído pra cima de mim já continha lá suas mil perguntas, perguntas das quais eu me esquivaria com maestria se sua boca as proferisse.

Acho que dormimos. Pela manhã a cama estava vazia. Tão vazia que eu não sabia se era ela quem estava deitada em mim ou vice-versa. As coisas acabam e a gente nem sabe explicar o por quê. Ou evita tentar saber. Deve ser porque acabam porque tem que acabar. Tem que acabar.”

Foi assim que acabou.

Quantic - Time Is The Enemy

23/10/2012.

Rafael P Abreu
Enviado por Rafael P Abreu em 10/01/2013
Reeditado em 11/01/2013
Código do texto: T4078235
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