QUANDO ENGEL ADORMECE
Trêmula Engel lentamente andava pela antiga casa,
Com olhos frágeis observava cada pequeno detalhe, os sinais..
A cada sinal a pele clara do seu rosto se avermelhava, e seu corpo mais fraco ficava.
A barra dos seus longos vestidos arrastava os papéis espalhados pelo chão da casa.
Engel passa as mãos pelos cabelos para retirar as telhas de aranha que se mistura nos seus cumpridos fios dourados.
De cima da escada vê os cristais nas prateleiras, com aspecto fosco e sem brilho, faltando lustrar.
Os móveis empoeirados ainda estavam com os rastros das duas letras que antes ficavam juntas em cima dos móveis, por todos os cantos da casa.
A cada degrau que desce ouve lamurias nas paredes, do vazio que implora com palavras desconexas. Sente ares de culto secreto misturado com uma fragrância mística ao mesmo tempo íntima que as vezes reflete nos espelhos.
Conforme Engel muda os passos tudo vai girando ao seu redor, zonza, perdida, não sabe se fica ou se vai, o que faz, queria alguém para dar a mão, nem que fosse um olhar pela fresta.
Logo encontra uma porta nos fundos, que dá de frente para o jardim. Jardim que um dia foi perfeito sem defeito, que agora é um paraíso onde o cultivo foi podado.
No enorme jardim cheio de folhas secas Engel caminha com olhos baixos, ouve um suave som distante que parece típico, mas não entende, porque é suave e baixo demais para ouvir.
Quando fixa seus olhos para frente, entre meio as árvores distantes, tem a impressão de ver o monstro que zomba, o monstro que ri, que assombra, que inverteu as coisas e poluiu o universo. Momento que Engel se assusta e perde o ar, e não consegue sair do lugar, sozinha sem ninguém para lhe ajudar, para esclarecer o que se passa, sem um apoio para acalmar seu universo, seu medo, só sente indiferença de todos os lados, .. Seu mundo confuso escurece.
Engel cai no chão sobre as folhas e adormece.
E assim adormecida no jardim da casa permanece.