Relíquias de Roma

Em Roma tenho um tesouro formado por relíquias forjadas nos tempos do Olímpio. Estas relíquias são únicas em suas formas e nelas meu nome encontra-se cravado.

Um dia, adentrei a câmara mais protegida de Roma para retirar dela uma das relíquias. Havia alguém a quem gostaria de presentear. 

Ele prontamente a aceitou e, como num passe de mágica, na relíquia havia sido marcado o nome de seu novo dono. 

Marcas profundas. 

Lado a lado meu nome e o dele.

O estranho um dia se foi, levando com ele a relíquia.

Meu nome se apagou.

Aquela relíquia já não me pertencia. 

Não havia mais a mágica me ligando a ela.

Numa outra era, novamente adentrei àquela câmara e uma nova relíquia escolhi para presentear.

Aquele a quem escolhi presentear não acreditava nos deuses.

A tal mágica da relíquia, ele dizia com a certeza de um tolo ser facilmente explicada pela ciência. Nunca, no entanto, reservou um tempo para explicar-me.

Brincávamos com a relíquia dia após dia.

E seu nome ia sendo marcado. Levemente.

"É apenas reação química" ele dizia, sempre que me devolvia a relíquia no final do dia.

Nunca levou a relíquia para casa.

Tinha medo do que poderia acontecer quando seu nome ali fosse escrito com as marcas profundas que não se pode apagar.

O fato é que seu medo trouxe-me dúvidas.

Estaria eu sendo uma tola que acredita na mágica por não conseguir compreender o desconhecido?

Parti, levando comigo a relíquia.

Na estrada para Roma, as vezes seu nome brilhava na relíquia.

Nestes momentos, com a luz ofuscando minha visão, perdia um pouco do meu equilíbrio e acabava indo parar nas bordas da estrada.

Os sábios ensinam - aquilo que aprenderam daqueles que um dia habitaram o Olímpio - "As bordas das estradas são esburacadas e acumulam todo o tipo de sujeira, tornando nosso caminhar lento e tortuoso. Por isso, devemos sempre caminhar pelo meio da estrada..."

E assim foi meu caminhar até Roma.

Lento, 

Tortuoso e

Cheio de duvidas.

Cheguei a câmara e nenhuma das minha dúvidas haviam sido sanadas.

O nome daquele que deveria ter sido o novo dono dela, continuava escrito ao lado do meu. Levemente.

Como ele também nunca havia partido, o meu nome nunca foi apagado e a historia nunca findou.  Pelo contrário, agora tinha aquela relíquia que machucava os meus olhos.

Será que machucavam os dele também?

Decidi-me então por quebrar a relíquia.

Uma voz vindo da escuridão da câmara me fez interromper o que estava preste a fazer.

Era um velho.

Disse-me ser o guardião das relíquias especiais.Aquelas que a mágica ainda me ligava ao outro.

Disse-me que quebrar a relíquia traria consequências drásticas para mim e para o seu outro dono - apesar do nome fraco, ele já era seu dono também.

E, fazendo a relíquia desaparecer de sua mão, contou-me que a mágica agora estava adormecida e que o único que um dia poderia encontrar a relíquia e trazer de volta a sua mágica, seria o outro dono.

Voltei outras vezes a Roma para escolher outras relíquias a serem presenteadas a outros.

Ainda encontro aquele que um dia teve medo, mas que nunca conseguiu rejeitar aquela relíquia. 

As vezes, quando nossos olhares se cruzam, vejo um brilho refletindo em seus olhos. Sei que se trata da relíquia que foi escondida de mim.

kerexu
Enviado por kerexu em 05/01/2013
Reeditado em 06/01/2013
Código do texto: T4069127
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