Recomeço

Assim que chegou no novo endereço com os dois filhos, abriu a porta , jogou a bolsa no chão e abraçando-os chorou demoradamente.

A hora era de recomeçar. Acabara de se separar e tinha dois filhos de quatro e três anos para cuidar.

O desespero foi tomando corpo, pois saíra de uma casa confortável e agora estava naquela casa sem nenhum conforto, nem mesmo um chuveiro quente, para aquecer-lhe a alma.

Como tocar a vida naquele fim de mundo, se precisava trabalhar para pagar o aluguel e sustentar os filhos?

Tantas perguntas que fazia, mas sabia que tinha de ser pratica e arrumar uma ajudante que tomasse conta dos filhos, para que pudesse procurar um emprego.

Nos cinco anos que ficara casada, como estava terminando os estudos na Universidade, não trabalhava, porém agora o marido sumiu no mundo e ela precisava de atitude.

Os pequenos tentavam animá-la, mas o desespero a abatia a cada dia. Jamais se sentira tão solitária e abandonada. Nem mesmo seus cinco irmãos foram em seu socorro.

No novo emprego, o que ganhava, mal dava para pagar as despesas de casa.

Certa noite ao chegar em casa, encontrou os pequenos com uma bondosa vizinha, e um recado da ajudante, que não mais voltaria para trabalhar.

Pegou os pequenos pela mão, entrou em casa, e novamente o desespero tomou conta de si. Não tinha jantar para ela e nem para os pequenos.

Ela entrou para o quarto, jogou-se na cama e chorou copiosamente por muito tempo sem trégua.

A filha mais velha chegou perto dela e falando baixinho em seu ouvido disse para não chorar mais, enquanto o filho mais novo segurando sua mão conduziu-a à mesa.

Só então ela percebeu que a mesa estava arrumada para o jantar, e que algumas sobras que estavam na geladeira, tinham virado banquete.

Aquele gesto dos pequenos fê-la sentir-se tão especial, que jurou não mais ficar se lamentando, e encontrou toda força que precisava, para viver decentemente com os pequenos, grandes amores de sua vida.