Vida em solução de continuidade

31DEZEMBRO2012— SEGUNDA-FEIRA.

(continuação de 28 de dezembro 2012).

Vida que segue

XXXII

“O ódio é a vingança do covarde”.

(George Bernard Shaw).

Jaques, em seu pseudossono, aparentava a naturalidade de um sono profundo, tanto quanto quando realmente dormia; Cleópatra sabia, nessas ocasiões, impossível acordá-lo.

— Vamos meninos, deixem esse coitado dormir. Nem sei do que será feita a vida dele! Não brinca, não sabe brincar com os irmãos, é todo estranho, Deus me livre!

A mãe saía do quarto como se deixasse ali o maior de seus pecados, e não conseguia deixar de desejar que fortuitamente ele não mais acordasse.

— Boa tarde, comadre! Tudo bem com você e as crianças?

— “Ah!”, disse Cleópatra, com desdém, e para não ser de todo descortês completou: — Boa tarde, comadre. O compadre está melhor?

— Está sim, comadre. Você sabe, o Jaques tem sido um lenitivo para o Romualdo. Comadre, eu queria muito conversar com você sobre o Jaques.

Essa frase logo fez um efeito detonador em Cleópatra. Ao mesmo tempo que odiava quando falavam mal de seus filhos, pois isso a remetia a uma denúncia de sua capacidade de ser mãe; gostava da ideia de seu filho Jaques ser vilipendiado naquele momento, de modo a provar que era um ser desprezível, e não merecia melhor tratamento do que o que ela dispensava a ele. Ligeira perguntou: — O que ele fez? Pode ser franca, comadre; é meu filho, mas sou franca a dizer: esse menino tem uma coisa que acho não é boa, viu?

— Calma, comadre. O Jaques é a criança mais doce e inteligente que já conheci. Me desculpe, comadre, mas acho que você tem um tesouro em casa e não sabe.

Cleópatra sentiu as vísceras revirarem-se de raiva. Pensava que a comadre era uma mulher comum demais e ignorava com quem estava lidando. Se pudesse naquele momento sequer a deixaria continuar, sua vontade era que um raio fulminasse aquela pessoa boazinha demais. Desconhecendo os pensamentos macabros da outra, a madrinha de Jaques continuou:

(Lere).

—continua em 04janeiro2013,sexta-feira—

Lere
Enviado por Lere em 31/12/2012
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