O DOCE ENCANTO DE MORRER

O DOCE ENCANTO DE MORRER

Um monge me disse: Oh! Mocidade, és relâmpago aos pés da eternidade, pense! O mundo anda sempre e não repousa; esta vida não vale grande coisa!

Eu comecei a ver dentro da própria vida o doce encanto de morrer!...

Um mendigo me disse: Para o pobre a vida é o pão, e o andrajo vil que o cobre.

Deus?! Eu não creio nesta fantasia: Ele nos dá a fome e a sede cada dia, mas nunca nos deu o pão, nunca! Deu-nos a infâmia, a vergonha de andar de porta em porta esfarrapado. Deu-nos esta vida, um pão envenenado!

E eu continuei a ver dentro da própria vida o encanto de morrer!...

Uma mulher me disse: Feche os olhos e sonhe meu amigo. Um lar, uma doce companheira; que queiras muito e que também te queira. Uma casinha... Em um canto, um penacho de fumaça, um canário que canta numa gaiola; e que uma linda vida lá por dentro role.

Pela primeira vez, eu quase que comecei a ver dentro da própria morte o encanto de viver!.

Um sábio me disse: Não se iluda meu amigo, olhe em volta, de você. Quantos anos batem em sua porta? Quanto tempo pensa que poderá viver?

Se pensa que a vida é um Dom de Deus, e a morte o que é?

Console-se meu amigo, pois quando entregares este corpo à terra fria; ninguém te olhará depois de morto..

E eu continuarei a ver dentro da própria vida o encanto de morrer!

Meu pai me disse: Andei lentamente pela vida, não que o fosse indolente, mas eu não queria que nada me passasse despercebido. Poderá perder muito mais do que ganha com a pressa. Observe os animais. Eles nunca se apressam.

Poderá perder a beleza, a magia de uma flor que desabrocha a margem do caminho que passa?...Não ouvir o canto dos pássaros e o murmurar das águas do ribeirão. Ouvir os seus próprios passos, muitas vezes incertos e rever sua própria vida como está.!!

E eu continuei a ver dentro da própria vida o encanto de morre!...

A própria vida me disse: A vida é um Dom de Deus; mas, efêmera e fugaz! Mas a morte não! Ela que nos proporciona a verdadeira vida. A vida eterna!

Só então comecei a ver dentro da própria morte o doce encanto de morrer para viver!!!

FIM

Lício Guimarães
Enviado por Lício Guimarães em 28/12/2012
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