Vida em solução de continuidade
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28DEZEMBRO2012— SEXTA-FEIRA.
(continuação de 24de dezembro 2012).
Vida que segue
XXXI
“A persistência é o menor caminho do êxito”. (Charles Chaplin).
Após entrarem em casa, os irmãos correram para constatar se Jaques não havia saído, mas ao verem seu corpo largado na cama, gritaram para a mãe que ele estava em casa, e o foram acordar balançando seu corpo de um lado para o outro, até quase derrubá-lo, tendo Cleópatra que intervir para que ele não caísse e quebrasse algum membro ou mesmo a cabeça. Nunca havia percebido que aquele filho tinha mais esse defeito. Cleópatra dizia que dormir era uma perda de tempo, era uma perda de vida, embora ela mesma dormisse assim que via os filhos dormindo, e não era tarde, mas tinha sono muito superficial, acordava com o mais leve barulho, e antes mesmo de o sol aparecer, se levantava e começava um novo dia. Jaques, observou Cleópatra, só deixava ali o corpo, com seus sinais vitais em perfeita sintonia, mas seu espírito não habitava aquela casa sempre que podia, e podia quando Jaques dormia, seu sono era profundo. A mãe se aproximou da cama onde Jaques parecia dormir, com os irmãos em volta, e disse com autoridade:
— Levanta, Jaques! Ainda tá cedo pra dormir, vai brincar com teus irmãos, vai menino!
Detinha o olhar no rosto do filho, que com sete anos sabia das artimanhas do disfarce, sempre sabia quando um irmão ou colega estava dissimulando e sempre rejeitava essa prática, a não ser em caso de vida ou morte como aquele. Acreditava que se ficasse exposto a toda sorte de zombaria orquestrada por sua mãe, acompanhada de seus irmãos, um dia, achava, morreria de tanto desgosto. Jaques deixava com esforço mental muito grande — porque ainda lhe era difícil controlar seus movimentos involuntários, tais como mexer as pestanas e abrir os olhos —, as pálpebras pesarem sobre os olhos sem apertá-las, diferentemente de seus irmãos que quando tentavam o mesmo ato, as deixava mexer denunciando assim a dissimulação. Entreabria os lábios e ressonava calmamente; não sem temor, antes em algum ponto de sua mente buscava força e determinação, pedindo proteção divina. Estava determinado a arriscar a integridade do corpo para conseguir seu intento. Era a luta entre sua paz por várias horas dentro do que ele considerava inferno, ou sua total derrocada, sem a menor ideia de como sobreviveria aos espíritos perniciosos que o cercavam, ainda que os amasse.
(Lere).
— continua em 31dezembro2012,segunda-feira—