Vida em solução de continuidade

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24DEZEMBRO2012— SEGUNDA-FEIRA.

(continuação de 21de dezembro 2012).

Vida que segue

XXX

“Pois ainda um pouco, e o ímpio não existirá; olharás para o seu lugar, e não aparecerá. (Sl 37:10)

— Aqui em casa é: “Já comi, mamãe”; na casa da madrinha: “Já lanchei”.

Dava em seguida uma gargalhada, sendo imitada pelos filhos, que invejavam a sorte de Jaques. O menino era sempre tão feliz ao regressar da casa de sua madrinha, que a zombaria passava sem ter o mínimo valor, que os zombadores gostariam de ver imprimido em sua alma. Rindo, com os irmãos como se se tratasse de outra pessoa o objeto daquelas setas envenenadas, se retirava em direção ao quarto para deitar e dormir, o que há muito descobrira ser o melhor lugar para não sofrer naquela casa, e ainda não tinha anoitecido.

Quando deitava ninguém lembrava dele, como se um véu de proteção o desvinculasse do seio familiar. Mais tarde observando à mãe, percebeu que ela, não sabia a razão, respeitava esse momento como um ato solene. O sono, para Cleópatra, era algo que ela dizia ser sagrado, assim como seu marido dizia ser sagrado o momento das refeições. Nessas ocasiões ninguém podia ser atacado por nenhuma razão. Dessa forma, Jaques sabia estar a salvo em seu refúgio por muitas horas, além das normais, destinadas ao sono. Inicialmente Jaques percebera que sua mãe desconfiava que fosse estratégia e não sono de fato, o que ela não perdoaria, pois detestava que a ludibriassem. E se tratando de Jaques, que não era como seus outros filhos, submissos e coerentes, conforme seus conceitos do que era ser bom filho, o castigo haveria de fazê-lo se arrepender de tal manobra. Sabendo disso, Jaques, que por essas ironias da natureza, tinha em si a mesma determinação da mãe, escutava a voz que ecoava em seu cérebro, quando da proximidade de Cleópatra: “dorme! dorme para ela! faz que está dormindo, ainda que ela grite, ou o derrube da cama, mostra que seu sono é aquele que ela já denominou profundo!”. O sono profundo de Jaques foi constatado quando toda família saiu certa noite, e ele deixou de acompanhá-los; ao retornarem, tentaram de várias maneiras fazer Jaques acordar para abrir a porta, de forma que nada conseguindo, nem batidas, nem gritos, nem pontapés, Cleópatra se viu obrigada a pedir que arrombassem a porta, com o risco de ter que dormir fora de casa, se não o fizesse.

(Lere)

—continua em 28dezembro2012,segunda-feira—

Lere
Enviado por Lere em 28/12/2012
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