FARRA DE GALINHAS
Seu Germano pai de cinco filhos; mãos bem calejadas pelo oficio de pedreiro, que antigamente pouco dinheiro valia. Unhas endurecidas pelo contato diário do cimento,que as cortava com o seu alicate de trabalho. Numa manhã de sábado levantou cedo e tomou o trem para ir a capital comprar material elétrico e instalar rede elétrica na sua casa simples de madeira com quatro cômodos sem banheiro.Chegou próximo ao meio dia; era dia de alegria para todos nós.Como não tinha dinheiro suficiente pra comprar um poste e pagar pela ligação, combinou com nosso vizinho,um abonado carroceiro,de fazer rede clandestina subterrânea com canos de ferro de sobras de obras. Enfiou os fios nos canos e enterreou-os numa valeta até a casa ao lado.Serrou o orifício na junção das quatro paredes colocando a lâmpada de forma a iluminar toda a casa,mas só ele poderia manipular a ligação."Aquela noite foi inesquecível".A luz forte refletia nas paredes pintadas de cal branca. Choveu muito de madrugada com fortes ventos,raios e trovões.A saudosa maloca tremia e gemia mas aguentava. Minha mãe benzia e rezava com uma vela à mão: Meu São Jorge filho de Maria virgem,leva pra bem longe esse temporal em seu cavalo branco.Eu contestador dizia-lhe: São Jorge não é filho de Maria,ela replicou:Cale a boca pois o teu pai não ensinou religião a vocês,Maria é a mãe de todos. Amanheceu um bonito domingo com sol de verão.Homens cavavam junto ao campinho procurando um raio que caiu,nosso pai disse está profundo! Durante o café,seu Germano alegre,com um pedaço de pão na bochecha esquerda falou-nos:Agora antes do natal eu e meu patrão iremos à Casa Victor comprar um rádio à prestações;quero ouvir o repórter Esso,Walter Broda e Pinguinho. Minha mana mais velha saiu da sala dizendo:Eu quero escutar a Edith Veiga Faz me rir e Sara Montiel La Violetera. Notamos os animais de casa muito agitados. As galinhas cacarejavam fora do normal, pareciam enlouquecidas.O cachorro sentinela corcoviava como uma Rã e uivava feito lobo,tia Rosa dizia que ele falava no alemão.Meu pai pensou tratar-se de cobra comendo pintos ou ovos.Pegou num porrete e entrou com cuidado no galinheiro porém rápido saiu gritando:"Ala mula,tá dando choques por tudo".Correu à casa do vizinho e desligou a tal Gambiarra.À tarde fomos ao mato,cortamos varas de bambus e trouxemos para fazer uma instalação aérea.Tudo pronto,papai colocou um trapo pendurado na rede fingindo o varal burlando a fiscalização da companhia de Luz.Coisas que criança nunca esquece! Aceito comentários