Conto de Natal.
A árvore de natal daquela casa fica do lado de fora por falta de espaço interno.
A casa é um salão com pé direito bem alto, coberto com telhas de cimento.
Folhas de compensado caídas de branco separa a cozinha do salão.
O banheiro, localizado no quintal, é amplo com azulejos brancos revestindo apenas os pontos que recebe água. O chão de cimento é tão liso e limpo que parece um tapete.
Brancas também são as duas peças: vaso sanitário e pia.
Na bancada de concreto recoberta de cimento há caixas plásticas de sorvete que guardam material de higiene pessoal.
Tudo naquela casa é minuciosamente limpo.
Os móveis feitos com restos de madeira de construção, e bobinas de madeira grosseira rejeitada por homens que esticam fios de iluminação no bairro, servem de mesas e banquetas. Todas foram lixadas e impermeabilizadas com tinta a óleo.
Por instantes contemplei a arte presente nos detalhe.
A família é composta por mãe e quatro filhos. Todos trabalham e estudam.
O pai morreu atropelado há muito tempo, e ninguém mais fala dele. De silêncio O silêncio é feita a homenagem ao homem que sucumbiu ao álcool.
A árvore de natal do lado esquerdo da porta da casinha foi confeccionada com um único galho seco. Dezenas de tampinhas de cerveja e refrigerantes envolvidas em papel laminado dançam ao toque da brisa. Pedacinhos de espelhos colados nas tampinhas ao refletirem a luz dos faróis de carros que passavam na estrada, ganham vida.
A ceia de natal será servida no quintal tem aparência e aroma maravilhosos. Um banquete feito de arroz de forno com frango desfiado e legumes, salada de agrião, alface, tomates e cebolas fatiadas. Uma jarra de vidro com saboroso suco de mangas frescas e, de sobremesa manjar branco com calda de ameixas.
Por conta da tradição o pratão de rabanadas sequinhas e douradas ganha lugar de destaque.
Foi a ceia mais saborosa que eu saboreei na minha vida.
Não pude deixar de admirar a toalha de mesa, feita de saco muito alvo, caprichosamente bordado em vermelho e verde em toda a volta e no centro.
Presentes? Sim, cada um ganhou o seu calçado novo pra usar durante todo ano de trabalho e período escolar, e abraços. Muitos abraços e beijos emocionados em comemoração às vitórias conquistadas no ano: A filha mais velha se formou em Enfermagem, o segundo passou em concurso do Banco do Brasil, a mãe passou de faxineira a governanta na casa que trabalha há muitos anos, após concluir o segundo grau. O terceiro filho passou no vestibular de medicina, e a mais nova concluiu o segundo grau.
Aquela família com quem eu tive o privilégio de comemorar o Natal, certamente há de ter prósperos e Felizes Anos novos.