Vida em solução de continuidade
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Vida em solução de continuidade — CXXXI
15DEZEMBRO2012—SÁBADO.
(continuação de 14de dezembro 2012).
Vida que segue
XXVI
“Aprenda com o ontem, viva o hoje, tenha esperança no amanhã. O importante é não parar de questionar”.
(Albert Einstein).
O dia da partida de Jéferson chegou nublado, e a tristeza era generalizada. Quando da despedida, Cleópatra não era dicotômica, era politômica. Estava dividida em muitas. O sorriso retratava a satisfação de ver o filho, único entre os amigos que se submeteram a fazer prova para servir àquela força armada, a sair vitorioso com excelentes notas, conforme informação dada a ela, quando foi saber o resultado do concurso. Jéferson havia se empenhado ao máximo para que a mãe visse do que era capaz, e com isso o deixasse ficar; ele daria um jeito de ser dispensado de servir à nação, caso ela o apoiasse. Em vão; Cleópatra já havia decidido e, via de regra, nunca voltava atrás em suas decisões. Os olhos expressavam apreensão em ver seu mais velho, o mais querido, saindo de baixo de suas asas; os pensamentos viajavam para um futuro de glória, pois já via seu filho como um oficial graduado daquela força. O coração de Cleópatra, residência principal do orgulho que desde sempre expulsara o amor de lá, batia num frêmito de vencedor da batalha travada com o filho, e ali ela mostrava seu escudo da vitória: ele partia, embora estivesse de posse de conhecimentos sobre comunicação, gramática, geometria, aritmética, comunismo, lar, amor, retidão, sociedade e outros seguimentos. Partia, e já levava na bagagem o conceito mais importante: pode mais quem decide, não quem mais sabe.
O único que chorou desbragadamente a sua partida foi Jaques, a quem Cleópatra mandou calar, com desprezo. Ele perguntou se a mãe não estava triste com a partida do Jéferson, de forma que ela percebeu a intenção sutil de repreendê-la. Perguntou por que ela não chorava, por que ninguém chorava, e por que ele não podia chorar se estava muito triste. A mãe se empertigou toda, por achar uma perda de tempo responder às malditas perguntas daquele menino perguntador, mas como ele além de fitá-la insolentemente, não largava seu braço, e ela queria se livrar das mãos e do olhar que a tolhiam, por que detestava ser tolhida; irritada tratou de responder, como sempre, forçando uma compreensão que não tinha. — “Eu não choro porque não sou de chorar mesmo, mas estou triste. Não quero que você chore, para ele não ficar triste nem preocupado, achando que você está passando mal; nem pensar que está indo para uma vida desgraçada, como ele já afirmou, entendeu, menino? também não devemos chorar à partida de uma pessoa, pois isso parece a quem parte, um adeus perpétuo, e ele vai voltar! Agora sorria pra ele, vamos, sorria!
(Lere).
(continua amanha,16dezembro2012—domingo).