Uma “Pessoas”
Uma “Pessoas”
A vida é um sonho e o sonho é algo que se realiza quando a vontade suplanta os limites que a realidade impõe. Assim, é possível, o real e a divagação dialogarem.
- Quem é você?
- Eu?
-Sim! Você que me assusta; que me deixa sem ar; que me perturba... Quem é você?
- Por que me pergunta?
- Porque passo a vida e os sonhos tentando lhe conhecer!
- Pra quê?
- Para entender ou pelo menos amenizar as dúvidas que me povoam.
- Que dúvidas?
- O que é você afinal?
- Eu sou! Apenas sou!
- Esse sou é que me perturba.
- Por que quer respostas?
- Porque você me queima por dentro!
- Mas não sou fogo!
- É brasa que arde nas gavetas do meu coração. É uma vontade de não sei o quê, um desejo que não sacia, uma sede de beber até o último gole a sua vida.
- Por que me sorver?
- Você é bagunça e balburdia; é confusão e embate; você... Você é algo inefável!
- Explique-se!
- Quem tem que se explicar é você! Pois ao lhe descobrir, me perdi.
- E eu fiz o quê para mudar seu caminho?
- Você me conduziu por uma estrada, na qual, me perdi no labirinto das emoções.
- Você, apenas, me culpa!
- Eu lhe condeno!
- Que crime cometi?
- O de espalhar sentimentos.
- Isso, eu na sabia!
- Claro que sabia! Você premeditou cada pedaço de vida que iria oferecer.
- Não entendi!
- Quem até hoje não entendeu fui eu. Eu que passo a vida em busca de rascunhos que lhe defina. Mexo e remexo em um baú para encontrar pistas e rastros que me façam ir ao encontro das respostas.
- È obsessão?
- Talvez, seja! Atravessar o oceano a braçadas para apenas lhe conhecer... Realmente, pode ser!
- Vive a vida me perseguindo?
- Vivo a vida querendo entender a sua.
- Não procure entender!
- Por quê?
- Porque eu não tenho uma vida; tenho vidas!
- Vidas?
- Não sou um, sou tantos!
- Isso, eu sei!
- E por que quer me definir?
- Porque quero ir ao fundo do seu fundo e lá encontrar o fundo do fundo de onde vem a inspiração.
- Rsrsrsrsrrrsrrrrsrs...
- Por que riu?
-Porque jamais conseguirá entrar no abismo de meu coração.
- Será?
- Sou um mistério, um enigma indecifrável!
- Mas...
- Mas, não se condene!
- O que faço então?
- Como é seu nome, moça curiosa?
- Ana, Ana Joaquina!
- Ana, eu sou, apenas sou! Não busque uma única resposta para quem tem pessoas dentro de uma pessoa. Sou uma enxurrada de versos que deságuam no rio caudaloso das emoções. Sinta-me apenas. Finja e não finja, pois quem pensa que finjo, engana-se, mas se engana, também, quem pensa que não finjo. Busque a resposta que quiser, sorva como puder, mas, não me defina. Eu sou e só! Uma pessoa com pessoas transitando onde o único não era o bastante para dizer o tudo que foi dito. Você já respondeu, há muito tempo, a sua dúvida e nem se deu conta.
- Como eu respondi, se a toda hora desabotoou meu peito em uma forma de lhe entender.
- Minha cara, você já me definiu; sua resposta me alegrou. Será que terei que lhe rememorar?
- Então, Poeta, diga-me.
- Quanto mais você se aproxima de mim, mais distante eu estou!
E o sonho que não era sonho, pois o real não é, apenas, o tangível, despertou a vida em Ana. O Poeta partiu numa estrela e um verso de lá salpica toda vez que alguém quer encontrá-lo. Ana entendeu que a poesia e o Poeta andam de mãos dadas, mas mesmo casados, se separam para juntar emoções com corações, e assim, o verso pulsa pelo simples fato de se fazer poesia.
Mário Paternostro