Vida em solução de continuidade

Vida em solução de continuidade — CXXX

14DEZEMBRO2012—SEXTA-FEIRA.

(continuação de 13de dezembro 2012).

Vida que segue

Blog da Lere

“Ao examinarmos os erros de um homem, conhecemos o seu caráter.” (Confúcio).

Após beber água, Cleópatra ficou satisfeita por ter constatado o que já sabia — o filho era de uma inteligência ímpar, mas sua satisfação era maior ao ver, após seu discurso, todos os filhos a olharem para ela admirados e respeitosos, inclusive o introspectivo Jaques. Perscrutava a fisionomia do mais velho, e percebia que suas palavras já não surtiam o mesmo efeito de antes nele, especificamente. Se continuasse assim, o menino iria querer mudar todos os seus planos, pois quase não tinha sonhos, era muito prática para sonhar, sua vida era dedicada a planejar apenas. As novas ideias de Jéferson a faziam estremecer, pois se considerava diferente de todo mundo, sabia que um dia ia ter dinheiro suficiente para privar de uma vida de conforto, e ele com conceitos filosóficos de igualdade e humildade, que não concatenavam com os dela. Cleópatra soube da possibilidade de o enviar para as forças armadas, onde poderia desenvolver e aplicar todo seu talento de líder intelectual, e o que mais fosse, além de poder bancar todos os seus gastos, pois soube que uma vez militar, a nação não deixava faltar comida, roupa, e teria melhor conforto que ali naquela pobre casa. Sabia, entretanto, que o filho rejeitava a ideia de ser militar, embora ela lhe mostrasse todas as vantagens, inclusive a de poder estudar, coisa que ele mais gostava de fazer na vida. Jéferson, por outro lado, sabendo que não tinha como se opor definitivamente, tentou seu melhor discurso, dizendo o que sabia sobre os chefes, e como usavam os homens engajados naquelas empresas beligerantes para, muitas vezes, executarem suas metas megalômanas e restritas a seus desejos, em nome da nação. Se ao menos entrasse como oficial, seria pouco mais que um fantoche. Prometeu não mais participar de nenhum evento de rebeldia, ainda que concordasse. Que se dedicaria exclusivamente aos estudos e seria um grande engenheiro, poderia até ser um médico se ela concordasse em deixá-lo ficar. Que passaria para uma faculdade pública e seria, garantia, se não o primeiro, um do primeiros colocados. Cleópatra abraçou e beijou — coisa que não gostava de fazer — o filho, satisfeita e emocionada, mas sabia que eram apenas palavras de um adolescente inteligente, sem noção da dificuldade que havia para se conseguir, com pouco dinheiro, o alimento de cada dia, e o mínimo necessário, inclusive, para ele estudar.

(Lere)

(continua amanhã,15dezembro2012).

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Lere
Enviado por Lere em 14/12/2012
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