Quantas Chances Houver - Capitulo quatro: O recomeço?

Tudo voltava ao normal, a vida corria lenta e sossegada, de pouco em pouco fui voltando a escrever, porém, como fiquei muito tempo sem lançar nada estava difícil voltar a vender livros, então consegui um emprego em um pequeno jornal da cidade, O Noticiário urgente, que quase não tinha o que escrever, pois a cidade era muito pequena e além das notícias do campo e das lavouras não havia muito o que escrever. Sobravam-me apenas poucas matérias sobre culinária, histórias bizarras contadas pelos moradores, que por não terem muito que fazer, criavam lendas e mistérios a partir do nada, como a história da senhora que ligava para a polícia toda vez que ventava e a plantação ao redor de sua casa se mexia, ela dizia que estava sendo atacada! Ou a cozinheira mais famosa da cidade por fazer o maior biscoito de amendoins da região. Não era fácil aguentar este tipo de matéria, mas era o que me sustentava.

Algum tempo trabalhando no jornal e comecei a conhecer pessoas diferentes e até me relacionar melhor. Em uma das confraternizações do jornal, na verdade a primeira em que eu havia comparecido, eu conheci uma mulher, a secretária do editor do jornal, na verdade, não era uma mulher qualquer. Cabelos longos, castanhos e cheirosos, vestido longo mostrando seu estilo mais recatado, cachecol xadrez, coisa que eu achava um pouco estranho, olhos verdes, aparentava uns trinta anos, e não usava nenhum tipo de aliança ou anel de qualquer espécie.

Fiquei a noite toda olhando para ela, porém, me faltou coragem para iniciar a conversa, apesar de ela ter me notado, e respondido aos meus olhares, mas a preocupação com Benjamim era maior, pois havia o deixado com o padre, e já era muito tarde, deveria buscá-lo para que não atrapalhasse mais o padre. Passou-se uma semana e não a vi no trabalho, já estava conformado com a ideia de não a ver novamente, sem muitas esperanças me dediquei a levar Benjamim ao pequeno parque que havia na cidade, em certo momento sentado em um banco, olhei a diante e a vi, vindo em minha direção. Seus cabelos dançavam com o vento, o sol brilhava formando um contraste com a pele do seu rosto, seus olhos transmitiam certa calma, e eu me sentia um garoto novamente.

Peguei Benjamim pela mão e fui até ela, minhas pernas tremiam como se eu fosse à primeira vez com uma mulher, até pensei em desistir, mas ela já havia me visto, então aproveitei para me apresentar:

—Olá, tudo bom?

Maneira ótima de iniciar uma conversa!

—Olá, eu me Lembro de você! —Foi na festa do jornal semana passada, qual é o seu nome mesmo?

—Meu nome é Dimas, e o seu?

— Me chamo Maria.

— Lindo nome!

Ela soltou um lindo e luminoso sorriso, e perguntou:

—O garoto é seu filho?

—Sim, este é meu filho Benjamim!

—Nossa ele é lindo!

A conversa se estendeu a tarde toda, Benjamim e ela se deram muito bem, e eu estava achando tudo ótimo. A Convidei para o jantar em minha casa, e ela se ofereceu para ajudar no preparo, foi desse dia em diante que começamos a nos entender melhor, ela frequentava nossa casa toda semana, eu e Benjamim frequentávamos a casa dela, e a relação foi tomando forma. Quando menos percebi estava apaixonado cegamente. Realmente não sei quais eram as pretensões dela, mas as minhas eram cada vez mais sérias, pensava até em, quem sabe, um dia morarmos juntos como uma família. Eu tinha certo medo de estar indo rápido demais, porém, ela se mostrava tão interessada quanto eu.

Algum tempo depois ela começou a dormir em minha casa, estava tudo muito bem, até que um dia de manhã, levantei, fui até a cozinha procurando Maria, e só encontrei uma carta escrita à mão em um papel qualquer, com os dizeres:

Desculpe-me Dimas, mas a nossa relação estava ficando séria demais para mim, peço desculpas novamente se lhe dei esperanças, irá encontrar outra pessoa!

Maria.

Coloquei as roupas, e fui até ao jornal a procurando, porém, ela havia se demitido, fui até a sua casa e encontrei tudo vazio, perguntei aos vizinhos e a única coisa que descobri foi que ela havia acabado de se mudar, deixando até os móveis. Nunca entendi o que ocorreu, o porquê da mudança repentina, e por que a letra do bilhete estava tão tremida?

Voltei para casa, arrasado, deixei Benjamim na escola e não fui trabalhar, sentei na escada da frente de casa com uma garrafa de bebida nas mãos, e aquele foi meu primeiro porre depois de conhecer Benjamim. Pedi ao padre que buscasse o garoto na escola, porque só conseguia pensar no motivo de Maria me abandonar.

No outro dia resolvi que não iria me deixar abalar por isso, eu me aprontei, levei o Benjamim à escola, e fui trabalhar. Chegando ao jornal, me ocorreu de pesquisar os arquivos de adoção, não sei por quê. Mas isso talvez me dissesse algo. Fui até ao orfanato onde ficavam todos os arquivos de adoção, e com alguns minutos de pesquisa, descobri que tudo ficava ainda mais confuso. Encontrei uma foto de Maria que por acaso tinha o mesmo sobrenome que o pai de Benjamim, pelo que dizia a ficha, Maria era tia dele e provavelmente se aproximou de mim apenas para vê-lo, mas, com que intenção? E por que ela não adotou o garoto se era tia dele?

Continuei a ler sua ficha e mais a diante descobri a resposta de pelo menos uma pergunta, ela não conseguiu a guarda de Benjamim por ter passagens na polícia por porte de drogas, e por ter se envolvido com as mesmas pessoas que o pai dele. Como eu não havia notado nada diferente nela? Eu pensava se ela continuava a usar quando estava comigo, ou se estava tentando parar, pois eu podia ter ajudado mais se soubesse. E por que não falou que era tia de Benjamim? Tanta duvida estava me deixando louco. Voltei ao jornal, quando estava na portaria passei por um homem com uma jaqueta cinza, óculos estilo aviador e com um palito de dentes no canto direito da boca, ele chegou até a recepcionista, perguntou por Maria. Eu disfarcei e quando ele saiu, o segui. Ele foi até o seu carro a quase uma quadra do jornal, parou na porta do carro, disfarçou pegando suas chaves, e quando eu passei, em um movimento brusco, ele se virou para mim, e com sua mão fedendo a cigarro agarrou em meu pescoço, e perguntou:

—por que você está me seguindo cara?

Eu engoli seco, e respondi gaguejando:

—Não. —Não estou te seguindo senhor!

— está sim! —Agora entra no carro que vou te levar pra dar uma voltinha!

Entrei no carro a um empurrão só, fui levado até uma casa afastada da cidade, ele parou o carro, me puxou pela camisa para fora, e me jogou no chão de terra vermelha, e me perguntou:

— Onde está a Maria?

— Eu não sei! Eu não a vejo há quase dois dias!

—Eu sei que está dormindo com ela. —Agora me responda, onde ela está?

—Estou falando a verdade! —Não sei onde ela está! —Só te segui para tentar descobrir o paradeiro dela, pois ouvi você perguntando dela no jornal. —Por que está a procurando?

— Aquela vagabunda me deve muita grana, e você é quem vai pagar. – no mínimo á esta hora ela deve estar chapada com as minhas drogas, e sem pagar.

— Por favor! Deixe-me ir, não tenho nada a ver com seus negócios com Maria.

— lamento, mas agora tem sim! – e se não tiver o dinheiro, garanto que aquele garotinho vai ter.

Não sabia o que fazer, estava preocupado com Benjamim, será que o garoto estava bem? Notei que ele estava sozinho quando tentou chamar seu comparsa, e não teve respostas, em um segundo de bobeira ele entrou para procurá-lo, eu levantei rapidamente e notei que a chave do carro estava na ignição, entrei, dei a partida, e arranquei o mais rápido que pude, e fui deixando para trás o som dos tiros. Parei na frente do jornal, peguei o meu carro e deixei o dele ali estacionado, fui direto à escola de Benjamim que nesse momento já estava me esperando, ao chegar lá, perguntei por ele:

— Desculpe senhor, mas já vieram buscá-lo!

— quem o levou? Perguntei desesperado!

—não sei lhe dizer senhor!

Saí dali como louco, a procura do garoto, quando recebi uma ligação do padre Valentino que dizia:

— Não se preocupe, o Benjamim está aqui comigo, o pessoal da escola te ligou, mas você não atendeu então eles me ligaram, a pedido de Benjamim.

Cheguei aliviado a igreja, dei um apertado abraço em Benjamim, que não entendeu nada, e me sentei à mesa com o Padre Valentino e o expliquei a situação. Passamos a noite na igreja por precaução, para no outro dia pensar no que fazer.

Henrique Serafini
Enviado por Henrique Serafini em 10/12/2012
Código do texto: T4028508
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