Fragmentos de um livro perdido

CAPÍTULO I - UM PASSADO PRÓXIMO

E então, o capitalismo e a globalização bateram na porta, com smartphones, notebooks e toda essa parafernália eletrônica que já não era ferramenta de trabalho, mas de alienação. Redes sociais, e uma vida virtual; É tão bom ser algo que você não aparenta... No fundo muitos possuíam um forte receio do medo e da solidão, ninguém mais conseguia ficar “sozinho” por muito tempo. A família já não existia, pouca conversa, sem diálogos, os amigos virtuais ocuparam esse espaço. Os jovens foram abduzidos. Aos poucos todos se envolveram num mundo de mentiras. A necessidade de mostrar-se presente à rede era intensa. Uma ilusão, válvula de escape, jogo pragmático de ostentação e criatividade. Queriam ser “Cult”, mal sabiam que estavam se transformando em arrogância pura. Era incrível que até os mais bem conceituados, os que se diziam contra o sistema, participavam fervorosamente dele, necessitavam dele para fortalecer seu ego, um ego uma vez machucado pela incompreensão pela desilusão, pelo amor mau cuidado. Poucos lutavam contra a maquina, porem a repressão era forte, o mal encobria tudo com um pano escuro onde a luz não penetrava.

Rotina, medo, cansaço, falta de expectativa, um mundo doente porem tão belo. Ainda existia esperança em alguns. Salvar o mundo era idéia daqueles que lutavam. Coisa de jovem. Eles olhavam para o passado e tinham medo do futuro, combatiam o sistema de dentro para fora, utilizavam-se da rede e da informação para multiplicar esperanças. Alguns se perdiam pelo caminho. No fim uma teia de mentiras. Consumir era a morfina daquele tempo, o gozo de uns em detrimento da escravidão de outros. Até que as mascara caíram, o sistema parou, muitos adoeceram. Muitos se calaram para sempre. Poucos mudaram o mundo.

CAPÍTULO XXVl - HOJE

Os costumes daquela época já não são os de agora, tudo mudou, a rotina mudou, o romance mudou, travamos uma batalha individual com nós mesmos: - “Ser ou não ser, eis a questão”. Já não podemos nos tocar, os bebes já nascem plugados, a inteligência é estimulada para a sobrevivência, sobraram poucos de nós. Em livros são contadas as festas em castelos, bailes de mascaras, encontros em praças, suspiros de amor e beijos, céu e sol, mar e areia, isso tudo já não existe, nosso conforto são os livros, essas histórias magníficas... Sacrificaríamos tudo para poder ter o mundo que um dia matamos. Esse mundo das histórias. Mantermos a espécie humana se transformou em um fardo e muitos preferem o silêncio da morte. Poucos destruíram o nosso mundo e só esses poucos podem desfrutar do ínfimo que restou.