A menina que ria
Era uma vez uma menina que jamais pronunciara uma palavra. Sua boca desconhecia o sabor de uma lágrima. Mas, sua risada era encantadora. Espalhava-se no ar como um cheiro bom. Começava num sorriso, sua boca se alargava e, das entranhas de sua alma, brotava aquela risada que invadia todas as almas que a ouviam. Era impossível ficar inerte após ouvir aquela risada. Sem motivo aparente, ela surgia e contaminava a todos. Não demorava e todos riam. Os olhos se apertavam, o nariz dilatava e os lábios se abriam como se fossem colher um beijo. E, assim nascia aquela risada, sem pai nem mãe, mas com tantos irmãos que, como quem dividem brinquedos, dividiam aquela risada com todos que cruzassem seu caminho.
Certo dia, após rir tanto até a barriga doer,a menina desapareceu. Primeiro desapareceu sua risada, sem nenhum motivo aparente, foi diminuindo, diminuindo, até sumir completamente. E, então, a menina foi embora.
Muito tempo se passou e a menina não voltava. As pessoas se perguntavam por que, mas ninguém tinha uma resposta satisfatória. Alguém teria feito algo errado? Pouco a pouco, as pessoas também pararam de rir. Sem a menina, não havia motivo. Um a um, os habitantes adoeceram, primeiro a alma, depois o corpo. Envelheceram, sucumbiram à tristeza, ao desânimo e aquela doença se espalhou pela cidade como uma peste.
E, a cor da cidade sumiu, os sons sumiram. A vida acabou. Tudo acabou.