SEMPRE TEU
Billy Brasil – 30-11-2012 – 11,00 hs - sexta-feira
Vila Norma – SP
Parece mentira. Depois de vários anos estudando, finalmente ganhei uma bolsa de estudo para poder desenvolver melhor minha profissão. Valeram os anos de sacrifício, de angustia, desespero, pouca grana e às vezes o velho e surrado churrasco grego, acompanhado de suco com bastante água e pouco açúcar, que encarei na esquina da rua 7 de abril, centro velho de São Paulo. Sou formado em engenharia mecânica. Meus pais muito pobres não puderam pagar faculdade. Acionei minha garra estudei nos colégios e faculdade do governo. Tudo era extremamente difícil. Enquanto os garotos de minha época tinham calçados e roupas de marca, eu tinha minhas velhas alpargatas, e as roupas surradas que minha mãe reformava quando ganhava de alguém que não mais a usaria. Meu nome é Paulo Santos Silva, mas na escola todos me chamavam de Chico. Não sabem o motivo? Explico: devido minha humildade e pobreza faziam chacotas em minhas costas me chamando de São Francisco, no inicio não entendi bem, e foi estopim até hoje me chamam de Chico. Minha mãe chorava escondida e disfarçava quando a flagrava com lagrimas em seu rosto, dizia que era um cisco. Quantos ciscos não é minha mãe? Meu pai trabalhava de sol a sol, batendo a enxada na lavoura, pra não faltar comida. Ô vida dura. Namoradas? Nem pensar. Parecia que olhavam para mim como se eu tivesse doença contagiosa. Só teve uma menina que um dia sorriu pra mim, e quando estava no caminho de uma amizade, seus pais mudaram-se para outro estado. Meu caminho era solitário. Em casa minha felicidade era encontrar meus pais e meus irmãos o Tonho e Maria, mais novos. Tinha o cachorro Baltazar, nome que meu pai dera. Homenagem ao jogador do Corinthians cabecinha de ouro. Meus irmãos não brincavam com ninguém, morávamos longe do bairro, era uma propriedade rural. Graças as mãos calejadas de meu velho pai. Um dia no mês de julho ele olhou para mim cansado, e disse: meu filho breve vou partir. Vou morar lá em cima com Jesus. Você será o homem da casa. Jamais deixe faltar o pão para sua mãe e irmãos. Que é isso pai? O senhor vai viver muitos anos, vou me formar e mudaremos de vida, vai ter tudo quanto é mordomia. Ele sorriu, abaixou a cabeça, sentou-se no sofá onde ouvia ao pé da orelha seu radinho, e calmamente fechou os olhos. Meu pai partiu com o semblante leve, daquelas pessoas que sabem que seu dever foi cumprido. Minha mãe acabadinha com o sofrimento da vida apenas disse: esse homem que acaba de partir, deixou um legado importante. Honestidade, caráter, humildade e vontade em ver as coisas melhorarem. Cumpriu sua missão, honre teu pai meu filho, ele merece. Doeu a ausência de meu pai. As dificuldades com ele eram muitas, sem ele dobraram. Finalmente tirei meu diploma de engenheiro mecânico. Hoje estou aqui no sul da França, hospedado no castelo que idealizei tantas vezes em meus sonhos. Ganho bem, meus irmãos todos se formaram, mamãe está bem velhinha, cuido dela afinal é meu bem mais valioso. Casei-me com Maria Lucia, tenho dois filhos Agnaldo e Roberta, meus tesouros. A vida de dificuldades ficou para trás. A lição que fica é que: Quando temos uma meta, devemos focar nela, e aconteça o que acontecer temos que seguir em frente, desistir nunca. Minha esposa e filhos ficaram no Brasil, logo voltarei para continuar nossa vida. Resolvi fazer um poema para minha esposa, mas explico não sou poeta, não nasci com o dom da escrita, são palavras que brotam do coração.
Sempre teu
Amor,
- ontem fui a um castelo no sul da França.
Confesso que é diferente de quando menino
- correr descalço pelas ruas de Franca.
As pessoas bem cuidadas, bonitas, o governo faz
- sua parte, educação um primor, fazem reverencia.
Não sei porque lembrei uma vez que fui ao circo Garcia,
- mas isso não serve de referencia.
A cama é coisa de outro mundo, o colchão em nada lembra
- o colchão de palha de minha infância, colcha macia.
Amor,
Hoje bateu saudades demais de você.
Então é o seguinte estou voltando ao Brasil.
Aí o povo com certeza é mais feliz.
Ah! Quando chegar, te mostro os versos que fiz.
Nada de muito poético, pois não sou poeta.
Apenas relatei o que sinto por nós dois.
Querida, o resto te mostro depois.
Abraço nas crianças, e a ternura de um beijo meu.
Meu coração está aqui, mas nunca te esqueceu.
Beijos do sempre teu...
Paulo.
Te amo.
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BILLY BRASIL