O Adevogado Barqueiro

Ele, homem de meia idade. Se achava idoso. Barriga protuberante. Não consegui ver o próprio pênis (usava um espelhinho). Cabelos maioria grisalhos. Bigode manchado de nicotina. amarelos. Sedentário, era advogado. Estava entediado. Papéis, papéis, papéis. Clientes chatos, gostavam de brigar. Tinham excitação pela CORTE. Ali estava ele. Como entrei nessa? pensou. Se olhava no espelho e não se reconhecia. Que sujeito estranho. sentiu. Dor no peito. tinha que se cuidar mais. Lembrou que quando criança o sonho do Pai era ser Adevogado. Profissão respeitada que nunca cai de moda. Queria agradar o pai. Queria ser amado. coitado. Esse amor nunca chegou. Tudo que fazia, o pai não via. O pai: Estava cego. Melhor, morto. Estava no automático. Seu coração estava dormindo. Ele desceu as escadas. Correndo. Tinha prazo para entregar a petição. Seu melhor cliente. O sugava tanto. Nem era pela grana, mas pelo status. Não via que status era uma prisão. Prisão do olhar do outro. Agora buscava amor em qualquer um. Todos eram seu pai. Coitado. Perdido. Seu dinheiro gastava com prostitutas e cocaína, apesar de casado. sem filhos. Sua vista embaçou, tropeçou, bateu a cabeça. Morreu. Que alívio, pensou. Tu.tu.tu. ouviu. Estava no hospital. Ma não era um hospital comum. Estava no céu. Anjos o curavam com doses cavalares de AMOR. Surpresa. Também era anjo. Tinha despencado do Céu. Foi parar na Terra. não sabia porque havia despencado. Aí lhe contaram que havia revoltado. Estava muito monótomo. Um tédio. Arpas tocando, anjinhos desnudos, gordinhos, sem genitais. Nuvenzinhas fofas e macias. Eca: quanto conforto. Dava um sono aquele lugar. Tinha olhado para baixo. Aquela farra, aquele movimento, aquela agitação. Nossa: parecia tentador. Tropeçou sem querer querendo. Se enganou. Esborrachou. Caiu nos infernos. Putz, como era quente. Esqueceu que estava no inferno e tocou o barco. só que o barco nunca chegara `a outra margem. O barco não tinha piloto. Perdido. Rezou, arrependeu, implorou para Deus. Aí veio um sujeitinho no meio do mato e lhe disse: quem vc está chamando? Quem é Deus? Se quiser posso pilotar esse barco para vc. Para isso, preciso ficar apenas no MEIO do barco. só assim terei equilíbrio o suficiente. me observe e aprenda comigo. Assim o fez. Gostou daquela vidinha simples, mas feliz. não era inferno, nem o Céu. Virou barqueiro. Atravessou vários seres e ensinou tantos outros a pilotar no caminho do Meio. assim, um dia, veio o senhor que o ensinou. Estava radiante, algo estava diferente naquele senhor. Sua presença o tocava profundamente. Era puro Amor. Se apresentou: Sou Bhuda, o Desperto. mas alguns me chamam de Deus, outros me chamam de Cristo. outros de Alá, outros não me chamam. Gargalhou. Agora aquele barqueiro conhecera Bhuda. Assim, naquele exato momento, Despertou. A compaixão floresceu em seu coração. Não havia ego, apenas compaixão. Transmutou em AMOR. Virou Bhuda. Fim.

Raphael Prisma Celeste
Enviado por Raphael Prisma Celeste em 26/11/2012
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