O homem de chapeu branco
durante duas horas a gente esperou o homem chegar...meu pai jurou que ele não demoraria. o Tonho já estava morrendo de fome, só abrindo a boca numa bocejação de doido, me chamando pra ir embora..e eu dizia que nao podiamos deixar o pai na mão. So de olhar pro tonho ja dava pra ver
a vontade dele de sumir dali...fazia as coisas pro meu pai
a contragosto... dar dó. "levanta tonho, essa cabeça". uma cara de enfesado. tonho vivia com raiva da vida, nem parecia que tinha oito anos...os dedos saindo da sadália de couro, sendado no meio fio de cabeça baixo...de vez quando levanava a cabeça e olhava feio uma galinha driste pro olho da gente...
e o homem não chegava. uma "omem de chapéu de couro e brusa branca". assim meu pai falou nem mesmo disse o nome..."Ele vai conversar com vocês" e na rua de trás longe de nossa mãe, ele ainda empurrou que a gente não abrisse o pacote...pois era coisa de gente grande...
tonho achava perda de tempo pensar nessas coisas, essas coisas de gente grande... so falava de ir embora pra fazenda da Dona Adeza e ficar perto dos cabritos e nas beiradas de rio..."levanta essa cabeça tonho!" parece que ele não sabia
que era criança e que não podia deixar nossa mãe e nosso
pai..."tonho é estranho" eu não consigo ver as coisas do jeito dele, todo escuro e desajeitado no meio da vida.
gosto daqui da rua, do mercado e das missas do padre solano...
o homem de chapeu de couro nao chegava e agora até eu já
estava com raiva. tonho, você podia ir na venda de seu lica
e pegar água pra gente...eu fico esperando...tonho olhava como se fosse desaforo pedir isso pra ele...agora era eu que
ficava pra lá e pra cá. fiquei pensando porque meu pai mesmo não resolve essas coisa. Pegar pacote de gente desconhecida
e fez ainda a gente jurar que não contasse nada pra minha mãe...
meu pai era assi, vivia no segredo, como se não tivesse compromisso com nada, preso na mesa de jogo e na cachaça...
nem pensa muito em nossa mãe que vive nessa tristeza de cortar nossa carne...
tem que mandar na gente logo hoje que era dia da missa...nem ligo muio pra essa coisa de igreja, mas goso de ir, as meninas
ficam olhando pra gente, fico sem jeito...o tonho também vai,
mas não presta atenção em nada, leva papel e fica rabiscando coisas. tonho parece de outro planeta, nem tem jeito de nossa
familia, fica mais nas coisas dele do que nos assuntos da casa...
até quando minha mãe puxa ele pelo braço pra dar uma carinho
ele foge com a cabeça como se fosse levar um cascudo, deve
ser medo de quando era mais menino. "tonho ficou revoltado".
depois dessas duas horas, apareceu o homem de chapeu. era muito feio, com a cara ressecada de sol e a boca queimada
da lavoura...e perguntou se a gente era filho de Mané das Oliveira. quando dissemos que sim, abriu o embornal e nos
deu o pacote. quando foi embora eu e tonho ficamos nos olhando sem saber direito o que fazer. "vamos logo tonho, to morrendo de sede. "
Uma coisa era certa, tanto eu quanto o tonho, queria
saber o que tinha no pacote...