CAMPEÃO

Durante os anos de 1960 a 1962, dos quatorze aos dezesseis anos de idade, eu estudei no colégio salesiano Ginásio Cristo Rei, em Uberlândia(MG), naturalmente pertencente à Igreja Católica, quando então cursei da segunda à quarta série ginasial. Era uma escola exclusivamente para meninos e a disciplina era rigorosíssima. Os padres eram muito severos e impunham castigos hoje inadmissíveis, senão inimagináveis em se tratando de religiosos.

Eu sempre fui "cdf". Para se ter uma ideia estive durante os três anos entre os cinco melhores alunos da classe, situação esta divulgada mensalmente no "Quadro de Honra", que tinha ao centro uma gravura linda de Nossa Senhora Auxiliadora. Havia até uma disputa entre nós alunos como se fosse um campeonato. Além disso ainda ganhei três prêmios de frequência dado ao fato de nunca ter faltado sequer um dia às aulas, apesar de trabalhar na parte da tarde na tipografia na qual meu pai era o gerente.

Tudo isso, porém, não interessa quanto ao caso que passo a narrar. O xodó dos padres eram os chamados "Certames de Religião", quando cada classe fazia uma confrontação entre os alunos para saber quem sabia mais a respeito da religião, mormente aquilo que teria sido ensinado em aula. Eu já havia conquistado um primeiro lugar na terceira série quando, no ano seguinte, os padres decidiram por um confronto entre os primeiros alunos de cada classe. E isso aconteceu no palco do salão paroquial, com direito a microfone e com a presença de todos os alunos. E eu estava lá, novamente primeiro lugar da classe, agora da quarta série. A competição consistia primeiro numa rodada de perguntas e respostas - num total de setenta e quatro - decoradas mesmo. Era uma questão de memória. As respostas tinham que ser dadas exatamente como constava do livro de religião, como por exemplo: "Primeira pergunta: Quem é Deus? - Resposta: Deus é um Espiríto Perfeitíssimo, Eterno, Criador do Céu e da Terra"; Segunda pergunta: Por Deus é Eterno? - Resposta: Deus é Eterno porque sempre existiu, não teve princípio e não terá fim"; e por aí vai. E era eliminatória. Segunda parte: responder sobre dogmas da Igreja, mandamentos e outros assuntos afins que teria sido aplicados durante as aulas. No final ficamos o João Batista - cara muito inteligente - e eu. Tanta pergunta difícil de ser respondida e o padre pergunta ao João Batista, postado bem à minha frente, uma facílima (acho que o padre quis protegê-lo, sei não?):

-Quais são os Sete Sacramentos?

João pensou...pensou...tartamudeou:

-Não me lembro.

Quase "soprei-lhe a resposta.

-Sabe a resposta, menino? - perguntou-me o padre com forte sotaque italiano.

-Sim! Sei: "Primeiro Batismo; Segundo Confirmação ou Crisma; Terceiro..e fui até o fim.

Puxa! Ganhei! O padre podia até ter tentado ajudar o João, mas Deus ajudou foi a mim. Obrigado, Senhor! E recebi além do comprovante de praxe um lindo relógio de pulso.

Conto isso sem vaidade, porém com muito orgulho. Afinal fui ou não fui um campeão?

AGOSTINHO PAGANINI
Enviado por AGOSTINHO PAGANINI em 21/11/2012
Reeditado em 21/11/2012
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