Sonho ao entardecer
As tardes de primavera eram sempre assim. A pequena cadeira a balançar-se preguiçosamente. Como companhia, um livro. E lá ficou, alheia ao mundo à sua volta. Mergulhada na trama da história. A personagem, desta vez, era uma bonita jovem. Talvez em seus recém chegados 18 anos. Morava na pequenina cidade. E ela sonhava, tinha planos. Desejava estudar na capital. Seus pais, amorosos, apoiavam. E assim, num dia chuvoso , partiu. Na mão, a bagagem e a pequena flor vermelha. O carro que a levaria até a estação, avançou devagar pelo chão de terra molhada.A última visão foi a dos pais, acenando, até sumirem na curva da estrada. Era noitinha quando o trem deixou para trás sua vida de menina. O embalo cadenciado do vagão a fez adormecer. Foi acordada pelo bilheteiro, um senhor de olhar bondoso e sorridente. Não mais conseguiu dormir. Fixou o olhar na escuridão. Acompanhava os desenhos dos pingos, escorrendo pela janela. A chuva parou pela manhã. Num apito, que mais parecia um lamento, o trem chegou na cidade grande. Saltou, apressada, na plataforma. Levando apenas a bagagem, perdeu-se na multidão.
O toque suave no ombro, a fez acordar. As folhas do livro caído aos seus pés, esvoaçavam. A família a esperava para o jantar. Caminhando devagar, sorriu. Tinha sido um belo sonho. Nem se deu conta da pequena flor vermelha, levada pelo vento.