O pássaro sem asas
João um menino de doze anos, comum, no seu jeito quieto de ser. O pai prefeito da cidade. A mãe psicóloga vivia fazendo obras sociais... Morava na cobertura do prédio mais chique da cidade, no vigésimo quinto andar.
A rotina da casa era monitorada pela empregada, que foi quem o criou. Os pais viajavam muito, ele ficava praticamente só... Sua irmã Glória, dois anos mais velha, tinha muitas amigas, ficava mais na casa delas. A mãe não se importava muito com os filhos, mas sempre procurava saber como estava à filha, por ele, nem perguntava! Quando chegavam das viagens traziam muitos presentes... Raramente trazia um especificamente para ele. A menina ficava com todos. Os presentes eram sempre: maquiagens, perfumes, e jogos eletrônicos. João poderia ficar com alguns jogos, mas nem sempre conseguia, a garota esperta pegava tudo... O pai já tinha o vestuário todo no escritório da prefeitura e nem passava em casa, dizia que não podia perder tempo.
Certo dia, João chegou à conclusão de que sua vida era vazia, não tinha uma história, como as pessoas normais... O dia estava começando e ele perguntou para a empregada que chamava desde criança de Bá. – Meus pais não gostam de mim, eu realmente sou filho deles? - Menino! Que pergunta é essa, claro que sim! Seus pais te amam, trabalham para dar conforto para você e sua irmã – falou indignada – retrucou enérgico o garoto! – Só quero ter um pai e uma mãe que me amem! Nem quando trazem presentes percebo que gostam de mim! Não vejo carinho no olhar deles e nem preocupação por mim, não sei nem onde estão hoje! Já tenho doze anos e não lembro quando foi à última festa! A única que se lembra do meu aniversário, é você! Bá ficou consternada ao ver que o menino sofria e que nada podia fazer, chorou! Mas logo disfarçou e disse! - Filho não fique assim, uma hora param de trabalhar tanto, ai tudo muda – ai já vai ser muito tarde! - Respondeu o menino. A mulher ficou preocupada, o abraçou, mas voltou aos afazeres...
Ele foi para o quarto, pegou um DVD e colocou no vídeo, eram filmagens do prefeito tomando posse, viu e reviu. Um dos poucos presentes que o garoto conseguiu de uma das viagens da mãe foi uma filmadora, da qual gostava muito. Ele a colocou para funcionar e posicionou-a em sua frente. Fez uma gravação, dele dizendo. – Pai! Não sei o porquê, mais você ama o povo, e não me ama! Não tenho seu carinho, não existo na sua vida... E você mãe, também não me ama, não sabe se me alimento, e nem se vou à escola... Mas amam a Glória, se importam com o jeito que ela se alimenta, e se está bem. Mesmo assim, amo vocês e também a Bá. Sou um ser ignorado e só! Vou voar como pássaro para buscar o meu destino! Adeus. Colocou o vídeo no site mais visto de todo o mundo. Com a chamada. O PREFEITO JORGE DE ALCÂNTARA DA CIDADE DE ITAIM AMA O POVO MAIS NÃO AMA O PRÓPRIO FILHO.
Ao meio dia, a campainha tocou e a notícia de que o corpo do menino estava inerte no pátio, em frente ao prédio, foi como uma bomba nos ouvidos de Bá, que desmaiou!