O sol de Nice

Mais uma vez nasce o sol de um formato diferente, me ilumina com seus raios,porém sem muito me dar gosto...Quando tinha 11 anos minha avó materna Dona Nice me dizia: Filhinha,olhe para o sol quando se sentir triste o sol ilumina cada canto obscuro do seus caminhos.. Repetidamente quando estava triste com as brigas de mamãe e papai eu fazia o que vovó Nice me ensinou, olhava fixamente para o sol que me fazia chorar, talvez por arder minha íris, ou talvez por estar triste com a vida! Muito me alegrava quando vovó fazia bolo de milho quentinho e com aquele aroma que fazia as vizinhas comentarem os talentos culinários daquela doce senhora, seus cabelos brancos como algodão sempre presos com grampos fazendo uma espécie de coque,sem contar sua saia rodada de estampas floridas! Ai que saudade da minha vózinha,sempre disposta a me ajudar em qualquer que fosse os meus problemas,mesmo que eu estivesse errada, como hoje! Uma vez, vi uma boneca na feira e queria muito comprá-la,porém nas condições em que vivíamos no campo não tínhamos muito para futilidades como dizia minha mãe Doralice, que sempre almejava guardar dinheiro em busca de comprar algo que nunca era comprado, quando anoiteceu abri uma das latas que era guardado o feijão e lá tinha uma quantia grande em dinheiro, não me lembro o certo mas um pouquinho para comprar minha tão almejada boneca não iria fazer falta. Na tarde seguinte cheguei em casa com Tita (esse era o nome da boneca), e minha mãe já me esperava em casa segurando a cinta do meu pai na mão para me bater...

Vovó Nice tentou impedir mas mamãe não parava de me bater, depois de levar várias chibatadas como se fosse uma escrava no tronco minha querida dos cabelos de algodão lançou a sua falsa culpa e disse que ela teria pegado o dinheiro para comprar linhas de costura,depois desse dia vi que minha vozinha era sempre comigo apesar de eu ter feito algo de errado ela sempre me ajudava, e por de trás do ocorrido sempre me dava represálias e mandava eu jurar para não mais errar na vida! Que saudades que tenho da Dona Eunice, só nos veremos quando nos encontrarmos num outro plano existente de vida! Todos os dias choro a sua ausência de não mais poder ouvir seus conselhos e me arrependo por nunca tê-los ouvido, talvez hoje me daria prazer em olhar para o sol,sentiria saudades por vê-lo nascer de novo...

Mas hoje não sinto esse desejo quando o vejo me sinto mal,me sinto a pior pessoa do mundo, sua forma não é mais arredondada...Me parece ser meio quadrado,eu acho! Parei por alguns instantes e escuto barulho de chaves, eu pensei:” Deve ser a Casimira, droga!” Sim realmente era ela, gorducha e rabugenta se achava a melhor em tudo mandou-me levantar e disse que tinha visita! Com o jeito áspero que só ela sabia incorporar! Que felicidade, eu pensei... Quando sai de um cubículo para o outro vi os olhos cheios de lágrimas da minha filha, Eunice (mesmo nome da avó) com um presente na mão nem eu me lembrava mais que era dia de meu aniversário, com um abraço bem apertado ela me disse: Mãe feliz aniversário! Eu te perdoo por tudo e espero que a senhora sai logo daqui...Tenho certeza de que meu pai também já perdoou a senhora .... Chorei sem precisar olhar para o sol que eu via nascer quadrado a exatamente 8 anos desde que assassinei meu marido por brigas e ciúmes,daqui a 10 anos esperarei poder ver o sol nascer redondo como vovó Nice me ensinava!

Felipe Beckmann
Enviado por Felipe Beckmann em 17/11/2012
Código do texto: T3989976
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