Capítulo 4

Que de resto o tempo apaga o fulgor das palavras. Outras palavras jamais, são clarões... Nelas uma pedra preciosa cai do céu enquanto a mão mendiga. Pois seu pai havia lhe dado um arco-íris de presente e ninguém por isso deixou de sentir por ele a mais natural humildade. Exalto-lhe a humanidade. Principalmente aquela que se junta a lugares ausentes de trivialidade. Mente fascinante conhecedora de abismos, novos caminhos, novas respostas. Pronta para ler qualquer ser humano pelos olhos, tanto que sabia que havia enriquecido comprando objetos confiscados com seu todo diáfano e brumoso. Ao passo que ensinava concórdia ao discordante particularmente engordava para depois os vender. Por isso sorria diante da acrobacia das andorinhas nos telhados do casario. De possuir muito o ouro o ouro nada era para ele. Mitigada a fome de bens materiais sobre a confusa revelação do sem fim, primeiro desprezou o infinito, em seguida declarou: o infinito é inútil. Estava velho na mesma acrobacia dos passos lentos observando miríades de borboletas abandonando o vaso virado sem excessivo dano.

Quanto custa a maravilhosa felicidade? Onde se encontra? Quem tem pistas da existência senão perto do abandono amigo do esquecimento. Imagem, ser que se move... Invente sereia. Rabiscara desde cedo a sua imagem, ouvira seu canto no silêncio das escuridões... Agora compreendia o quanto a imaginação move a inércia às vezes por caminhos movediços.

Neste ponto caminhava este século obcecado pela condição irreal desse mito decifrado. Veja o espetáculo: temos uma sereia tocando a mais bela canção na sua lira triangular. Tem conhecimento desse instrumento romano chamado de sambuca, lira triangular. Corre aqui e observa mansamente esse espetáculo raríssimo. São escamas plumitivas que lembram pedras preciosas ainda úmidas do mar imenso. Cambaleantes de ilusões quando da ilusão nasce a divindade. Da escuridão do mar ancoram as negras sereias com magistral destreza executando a mais bela lira triangular. Escute.

Após tamanha felicidade elas acabam por chorar o adeus para voltar ao mar. Choram diante do esquife de peixes abandonado temporariamente pelo cansaço dos pescadores. Lutam pelo mar.

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