Capítulo 3
Por alguns dias no verão passado comentou sobre o fabuloso sentimento de superioridade mágica que o atingiu durante uma visita ao secreto leito de morte de uma fêmea estranha da espécie. Seus olhos eram grandes e a cada movimento de cauda emitia sons adoráveis por entre dentes fatais. A cauda inegável e inonfundível das sereias. Tal lampejo de sonho produziu certa quantidade indefinida de sensações internas. Ilusão sublime, portanto de material insuspeito. Havia compreendido partindo de eruditos estudos: todo espermatozóide é um peixinho. Primeira evidência de origem marinha. Sim! Viemos do mar. O mar que acalmou a fúria quente dos horrores primitivos da natureza.
Tempos mais tarde comprovaria a existência da sereia terrestre que conhecera no velho sonho naquele acidente de maré nas noites de verão na praia gelada. Belíssima criatura expulsa do mar semiviva... A mais bela anfíbia que havia capturado em seus jovens quarenta anos de delírio marinho. Essa impressionante certeza havia lhe afastado dos amigos... Temiam afinal pela sua lucidez. Nessa arqueologia das origens ele havia ido longe demais.
De fato, dizia, rindo, cruze as pernas... Observe deitado... Cruze as pernas unindo-as através dos dedos mínimos dos pés... Formam uma nadadeira caudal completa. Milenarmente a vida humana havia se adaptado ao estreito sentimento do fator limitante do infinito mágico, ocupando a liberdade que só a mudança de mito poderia admitir. Agora havia mudado: a vida humana havia nascido da transformação desse animal marinho inteligente em ser humano bipede devido ao processo alimentar típico dos onívoros. Que resposta tería para essa aceleração evolutiva? Simples: o consumo externo de determinada e ainda desconhecida planta terrestre, inicialmente do mar, teria se readaptado ao alimento da primeira sereia anfíbia, produzindo então um desvio da conduta genética.
Alma que hospedava um hotel voltado para a comédia, produzia brilho ascético, nestas risíveis questões. Muito embora coberto de simplicidade ele exultava produzindo novidades enquanto representava um alívio universal sobre o tema da criação.
Pois tudo resulta de simbiose... A árvore seca se parece com o raio imobilizado.
Todas essas coisas havia sonhado.
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