(Des)pedaços de nós.

Ele estava a apenas dois metros longe de mim. Eu o olhava e pensava que não deveria estar olhando. Sentia seu cheiro e percebia que não devia estar sentindo. Então tentei me virar e dirigir-me até a porta da frente, mas ele me puxava. Não me tocava, não dizia uma palavra, talvez nem soubesse que estava lá. Mas ele me puxava e gritava meu nome. E eu tentava me soltar e falhava. Meu corpo suava, minha mente pesava uma tonelada e meus pés não saíam do lugar. De repente nossos olhares se encontraram e ele percebeu que eu chamava loucamente pelo seu nome e queria que me puxasse. Um passo, dois passos. Fechei meus olhos e minha mente não pesava mais nada. Meus pés flutuavam, meu corpo cambaleava, caía mas nunca chegava ao chão. Era como se possuísse asas e elas estivessem apenas esperando alguém que pudesse viajar comigo. Nós estávamos dançando no ar. Todos olhavam e dançavam como podiam. Meus lábios tocavam os seus de vez em quando, e eu pensava em todas aquelas coisas bonitas que havia lido mas nunca faziam sentido. E não dizia nada. Só encostava meu rosto no dele e dançava. Era como se seu corpo fizesse parte do meu corpo e eu pudesse sentir o sangue correndo pelas suas veias, as batidas do seu coração, o ritmo da sua respiração. Ele tinha uma vibração tão perfeita...

Foi quando, por um descuido, abri os olhos e caí de cara no chão. E o chão não teve pudor. De repente estava sozinha e seus olhos hazel não me enxergavam mais, nem mesmo pra rir. E não restava mais nada. Não haviam mais cartas, não haviam mais mensagens na geladeira pela manhã, não haviam mais danças, não haviam mais beijos. Minhas madrugadas estavam perdidas sem ninguém pra conversar ou discutir. E então pensava que talvez houvesse esperança, mas quem acredita nessa velha chata? Só restava um nariz quebrado e joelhos cambaleantes por causa da queda.

E eu queria lhe odiar. Tentava odiá-lo todo o tempo. Mas ele me puxava e gritava meu nome. Eu tentava me soltar e falhava. Então eu ia... Eu ia porque ele me chamava. E ele vinha porque eu o chamava. E nós íamos em frente, até que alguém quebrasse o nariz de novo.

Valentina Castillos
Enviado por Valentina Castillos em 10/11/2012
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