O comando da carroça
Na fazenda, vendo e vivenciando as dificuldades diárias, na condução dos trabalhos e percebendo como o pessoal poderia resolver cada problema, sem a interferência da cúpula diretiva, o filho questiona: – Pai, por que é que nós não podemos dirigir a carroça do nosso jeito? Temos pessoas capacitadas para esses trabalhos e isso só vai trazer progresso à fazenda.
– A tarefa era transportar matéria-prima, mão-de-obra, produtos e os lucros de todas as atividades. Ao ouvir a pergunta, o pai parou por alguns segundos, franziu a testa, pensou e tentou responder com muita calma: – É porque os dirigentes da fazenda sempre quiseram manter o controle da carroça e dos animais em suas mãos. Assim eles conduzem para o lado que for mais conveniente e o lucro fica concentrado e seguro.
– E por que é que as coisas têm que ser do jeito que são? Nós podemos nos organizar pra estudar novas maneiras de aumentar a produção diminuindo o esforço e aumentando a produtividade. Por que, então, os donos da fazenda querem que as coisas sejam dessa forma? – Filho, eles querem que seja assim porque a fazenda é grande e os animais, que estão sob seus controles não podem ficar soltos. Têm que selar e movimentar a carroça.
– E se nós pensássemos num jeito de mudar e melhorar o trabalho e a vida de todos? – O pensamento dói e as mudanças incomodam; meu filho. – Verdade, pai? – Mas elas (as mudanças) incomodam a quem? – As mudanças incomodam pessoas que estão na zona de conforto. – E o que é zona de conforto? – É quando as coisas vão bem e quem manda não se esforça para melhorar e se prevenir contra eventuais dificuldades.
– E se juntarmos gente e unirmos as forças? Se fizermos assim, a história pode ser diferente. – Ao longo do tempo, meu filho, o dinheiro tem mudado a história e em muitos casos, muda as pessoas também. – Então não vale a pena lutar? – Claro que vale, filho, mas o grito é como um guizo que se coloca no gado mais forte. Ao mais ágil está reservado o ferrão e aos dianteiros, as algemas.
– Pai, do jeito que o senhor fala, não há esperança. – A vida, meu filho, é uma construção diária. É um templo que se erige para um encontro maior. Neste encontro, só logra êxito aqueles que constroem primeiro sua parte interior para depois, somente depois, buscar o crescimento exterior. Nesta construção, o silêncio encurta caminhos e poupa esforços. Portanto, fale pouco e aprenda. A Liberdade vem de dentro de cada um e quando ela alça voo, nada é capaz de detê-la. (Fiore)