O VIAGEIRO (1a. PARTE)
Subindo pela estrada do Bracaiá, perto da curva ensombrada, onde os taquarais se encadeiam nas barrancas das margens, existia uma casinha. Paredes rebocadas com argila esbranquiçada, e teto de sapé, bem ajustado por onde nem um gotejamento nas fortes chuvas acontecia. Uma família vivia ali, em paz e calmaria quase que absoluta, perturbada apenas pelo latido do estimado vira-lata que atendia pelo nome de barão. À noite os bichinhos noturnos como raposas a procura de galinheiros, tatus a procura de comida, assim como as ratazanas vindas da lixeira municipal ali perto instalada por ser longe da cidade, vinham no terreiro vasculhar alimentos, e o barão desatava numa correria atrás dos invasores. Mas, durante o dia o silêncio era estonteante.
Agenor, o chefe da família fazia viagens para todos os lugares por puro divertimento e higiene mental longe de sua fazendola. Sua família, composta de três filhos e a esposa dona Cremilda, já estava acostumada a ficar sozinha; o lugar era agradável e tinha muita segurança. Agenor não fazia muita falta, a não ser no tocante à saudade. Assim, tudo contribuía para suas constantes fugidas.
Viviam do rendimento da lavoura no sítio. Plantavam feijão nas duas safras: das águas e da seca, abóbora, milho, mandioca e batata roxa que do plantio até a colheita leva apenas cento e vinte dias; sem falar das bananas que plantavam na mata densa onde o fruto sai com melhor aspecto, sem pragas e com grande produção. Eles viviam bem. Agenor ajudado pelos filhos: dois homens e uma moça muito forte para o trabalho pesado. Sempre que vendia alguma safra de feijão, milho ou mandioca que rendia bem, Agenor reservava uma boa soma de dinheiro para a sua próxima viagem.
Ele gostava tanto que não saberia viver sem as costumeiras viagens. Em suas andanças, ficava pelo menos quinze dias fora de casa e ninguém sabia aonde ele ia nem o dia da volta. No seu regresso, chamava esposa e filhos aos pés de si e então é que contava por aonde andou, o que fez, com quem esteve e tudo de interessante que viu. Era uma festa.
Respondia as inquirições dos familiares e sempre tinha escondido num dos bolsos algum mimo à esposa e aos filhos. Era o que se diziam: um homem que sabia viajar. Era o seu sonho e o fazia muito bem.
Uma vez foi até à Bahia, conheceu a capital Salvador, o elevador entre as cidades alta e baixa. Viu de perto “o que é que a baiana tem”: gentileza, carinho e beleza. Conheceu Marta Rocha, a eterna Miss Brasil e, não Miss Universo pela imposição politiqueira americanóide.
Foi ao Pará visitar a cidade de Belém, capital do Estado; viu mulheres lindas e homens inteligentes. Chegou, certa vez, a assistir à procissão dos Círios de Nazaré, a maior festa religiosa do Brasil e sentiu a elegância e o carisma do marajoara. Conheceu também a grande e linda poetisa Betha Mendonça Costa, um símbolo intelectual do Norte do País e leu seus lindos versos.
Foi também ao sul do país, exatamente a Porto Alegre, capital do Rio Grande do Sul. Lá se encontrou com a gauchinha loira e linda, Maysa, de quem recebeu versos da mais divina inspiração. Saboreou o churrasco gaúcho e tomou o chimarrão na cuia da amizade.