MENINA E MENINO

Era uma vez uma menina. Ela tinha certeza de que era uma mulher, mas era uma menina. Até que apareceu um menino.

E ele acabou com todas as certezas dela. Seus milhares de planos de carreira, dinheiro, viagens, tudo adiado. Talvez perdido. Talvez para sempre.

Ela ficou triste, mas era uma tristeza sinceramente cercada de alegria. O problema é que era uma tristeza que só poderia existir para ela, para mais ninguém. E isso é o que doía. E muito. Mas ela respirava e continuava, velando a tristeza e exibindo a alegria. Porque o menino valia o esforço, merecia.

Afinal, como diz Dewey, as emoções não são tão simples e absolutas como somos levados a acreditar.

Quem diria que aquele menino, de traços e personalidade fortes transformaria tanto a menina? E que ela ficaria confusa, alegre, com medo, eufórica, deprimida, apaixonada. E se lembraria de tudo que perdeu, mas não gostaria, não saberia nunca mais passar um dia sem ele.

No início os dois pouco se falavam. A comunicação era difícil e o entendimento básico, quase precário. Aos poucos os contatos foram se estabelecendo, as linguagens se aprimorando e os medos, embora sempre ali, dividiam espaço com a iniciativa e a curiosidade.

E perceberam que o afeto supera as crises de choro, que a impaciência e a confusão estão mescladas ao amor e a tolerância, que a chateação e a admiração mútua andam juntas. As coisas vão caminhando.

A menina retomou alguns planos e criou outros, sempre pensando no menino. E conseguiu expressar um pouco da tristeza e diminuir a dor que sentia.

O menino a cada dia busca sua independência, mas sempre de olho na menina. Observando seus movimentos e buscando seu olhar e seu sorriso.

Pois é, as coisas vão caminhando...

A menina (mais mulher) e o menino (menos bebê) vão aprendendo um com o outro a ser mãe e filho.

Virginia Estrela
Enviado por Virginia Estrela em 02/11/2012
Código do texto: T3964986
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