NUNCA É TARDE PARA DIZER... EU TE AMO!
Sr. Ozil Steel, o senhor está preso pelo assassinato da Senhora Maggie Lancaster. Tem direito a ficar calado e dar um telefonema para seu advogado. Infelizmente teremos de algemá-lo.
Defensoria pública. O jovem advogado Oscar Gutenberg, sentado em sua cadeira aguarda pacientemente seu primeiro cliente. Anthony Steel, irmão mais moço de Ozil, tem como profissão: Pescador, não se incomoda tanto com o irmão mais velho, pouco se falam, mas da forma deles se entendem e se amam. Valery, Luc, Edward e William Steel, são filhos de Ozil mães diferentes, herança deixada pelo pai boêmio, e músico. Obviamente todos o amam, mas com certeza o acham maluco. Sempre se discutiu o fator em ser considerado um pai ausente, devido aos compromissos com a música. Praticamente não viu seus filhos crescerem, pai carinhoso e risonho. Nascido em uma pequena cidade do interior, mudaram-se para a capital de São Paulo. A descendência de Ozil é alemã ocidental, alguns anos radicados no Brasil adquiriram a cidadania brasileira. Nunca teve estabilidade econômica devido aos arroubos românticos. Próximo de completar setenta anos de idade enfartou a dois anos, duas safenas, descobre que além da cirurgia encontra-se impotente sexualmente falando, e que deverá ter uma prótese peniana, fato que o desagrada demasiadamente, pois adora sexo. Ainda do tempo dos “machões” esconde o fato de amigos e parentes. Tenta em vão namorar três mulheres diferentes, mas não se dá bem, aonde chega à conclusão sobre a necessidade da cirurgia. Entra em depressão, não consegue entender porque a vida foi tão cruel com ele.
Maggie Lancaster, americana, também radicada no Brasil há muitos anos, foi casada trinta anos com pequeno empresário, enviuvou, e aos sessenta anos sofreu um AVC. Teve os movimentos retidos onde ficaram mais lentos, e a perda parcial de memória. Mora no litoral sul em casa pequena, confortável, boa pensão que a sustenta sem luxo, e um carro. Quis o destino que uma bela tarde os dois estando sem nada para fazer, entraram em um site de relacionamentos, onde a foto de Maggie chamou a atenção de Ozil. Ele escreveu elogiando o sorriso, onde recebeu o agradecimento no dia seguinte. A partir desse episódio, todos os dias conversavam pontualmente às 17 horas. As conversas foram tomando sentido mais informal e carinhoso. Passado dois meses, tinham acumulado bons momentos nas conversações, onde ficou evidente a vontade de conhecerem-se. Maggie após o acidente vascular desinteressara-se pôr completo em acompanhar o cotidiano geral. Apreciava apenas três novelas e parecia que o mundo não existia mais para ela. A necessidade e carência de ambos, em confiar em alguém aumentavam à medida que passava o tempo. Curiosamente nada comentaram com amigos e parentes. Romperam a desconfiança natural, e marcaram encontro na cidade em que Maggie morava. Ozil era uma pessoa que vivia em apenas um cômodo e banheiro, mas não se incomodava, vivia sua vida. O importante no momento é que ambos moravam sozinhos e eram livres e desimpedidos. Ozil desceu para o litoral encontraram-se e foram para a casa dela. Pouco a vontade e tímidos conversaram comedidamente e em seguida almoçaram, aliás, comida sem sal, seguindo a dieta dele que fora proibido pelo médico. Aos poucos relaxaram e já se permitiam sorrir e até contar alguma piada. Sem a premeditação acontece o primeiro beijo. Não foi arrebatador, digamos até meio chocho. Ela oferece um café imediatamente aceito por ele, e saboreiam sem nada dizer ao outro. O tempo voa, quando perceberam a noite bate na cidade, e chega o horário das novelas. Segurando nas mãos, sentam-se no mesmo sofá, onde as cenas das novelas fazem-na refém de tal forma que nem pisca. Vez por outra se lembra de sua companhia devido ao som peculiar de ronco. Ela acorda-o e complementa dizendo que está perdendo cenas incríveis. Educado apenas concorda fazendo aceno com a cabeça e volta a cochilar.
A janta segundo ela mais leve para não pesar no estômago, e para não proporcionar pesadelos, além logicamente do fatídico ronco. Após a janta passada uns vinte minutos ela desliga o televisor e sentencia: Vamos dormir, estou cansada. O cavalheiro sentiu-se desconfortável com a forma da dama, afinal pensara em algo mais romântico. Acontece um selinho e uma boa noite acompanhada de até amanhã. Ele demora um pouco para dormir, afinal iniciava um relacionamento exatamente pelo fim. E principalmente na primeira noite. Tentou discretamente passear com suas mãos pelo corpo dela, mas sempre tiradas delicadamente. Cansou-se e dormiu. Passava das 9 horas da manhã, quando ouve uma voz chamando-.. Ozil, acorde preguiçoso, vamos tomar café. Abriu lentamente os olhos e percebe parada ao lado da cama, a mulher com qual se deitara aquela noite em que ficaram brancas as nuvens. Levantou-se a cumprimentou com beijo no rosto dirigiu-se ao banheiro tomou sua ducha e voltou para tomar o café com torradas. Conversam sobre alguns assuntos, mas não tocam uma linha sobre o que acontecera na noite anterior. Ela pega seu carro, onde resolve mostrar a cidade para ele. Divertem-se e percebe-se claramente que o passeio fizera bem ao casal. Voltam para casa, tentam por duas vezes fazer amor, ele com sua dificuldade de ereção resolveu temporariamente fazendo sexo oral, na qual ela adorou. Ninguém chega ao orgasmo, mas deram um grande passo para o entendimento futuro. Voltaram para outro canto da cidade após as novelas, andaram de barquinhas, passearam descontraidamente de mãos dadas, e foi um dia feliz. E assim de quinze em quinze dias, durante os três meses seguintes seguiram a rotina quietos na deles.
A carência e confiança de ambos faziam com que não se importassem com detalhes maiores e nem complicações. Apesar do AVC ela dirigia bem, totalmente liberada pelo médico e continuaram tendo os momentos felizes. Ozil apesar de suas limitações, fazia sua companheira feliz, afinal era dotado de um bom humor que se estendia desde a hora do amanhecer ao anoitecer, ela adorava isso. Ela falava pouco, às vezes até parecia perdida em pensamentos que ninguém podia imaginar. Faz cópias das chaves de sua casa e as oferta ao companheiro para que ele não fique na rua aguardando-a quando de suas visitas às amigas, e nem tão pouco sentar-se nos botecos do bairro. Ozil começa a impacientar-se com a queda de seus cabelos, como pode um ex-roqueiro ficar careca? Apesar da idade, ele apresenta traços de beleza, passa a usar boina o qual até dá certo clima. A principio não quis aceitar as chaves, depois na insistência dela aceitou. Várias vezes chegara de surpresa e assustava sua namorada, fato que adorava acompanhado de suas gargalhadas. Percebia-se nos dois a tranqüilidade e porque não felicidade.
Os olhos do mal encontram senhora sozinha, que namora alguém que não é tão freqüente, possui bela casa, carro, e certamente com dinheiro fácil esperando para ser roubado. Arquitetaram o plano para assaltar a casa. Sondagens e marcam finalmente o dia para executarem o plano. Naquele inicio de semana, Ozil despede-se da namorada na pequena rodoviária da cidade. Lembra a ela que esquecera um par de sapatos e que guardasse para ele. Beijam-se, ele entra no ônibus e segue para sua casa. Antes acena para sua amada, que responde e segue cada um seu rumo. Ela ao abrir o portão de sua garagem, é abordada pelos meliantes. Colocaram sacos plásticos nos sapatos e usavam luvas, para não terem marcas de suas impressões digitais. Empurram-na para dentro da casa, agridem-na conseguem obter a senha do cartão de banco, assustada e sem defesa não tinha para quem apelar muito menos gritar. Um deles pega o cartão e vai sacar com sua moto, colocada dois quarteirões antes. O outro fica com ela aguardando a chegada com o dinheiro. Saca todo o dinheiro, apenas deixa alguns centavos, 4.200 reais. Volta para a casa, e agride-na novamente pensando ter dinheiro na casa, como ela não tinha, um deles pegou uma enxada num dos compartimentos da casa, e golpeou-a fortemente e varias vezes com o cabo, até ela cair ao chão já morta. Com cuidado para não deixarem impressões digitais, retiraram-se da casa levando, DVD, algumas jóias e subiram na moto deixando covardemente uma senhora sem vida no chão.
No dia seguinte Ozil no horário acostumado liga seu computador para conversar com sua amada. Às 17 horas em ponto, estava impacientemente aguardando, mas não ocorreu triste ele desliga o aparelho, liga para a casa dela e obviamente não obtêm sucesso. A irmã de Maggie após várias tentativas resolve ir à casa da irmã para saber o que está acontecendo. Encontra a irmã sem vida em estado de putrefação. Chama a polícia, que aciona a perícia, encontram vários tufos de cabelos pela casa, e inicia-se a investigação. Após a autopsia o corpo de Maggie é liberado para o sepultamento. Ozil desapontado com a atitude da namorada resolve fazer uma surpresa para ela, pois desconfia que esse silencio tem nome, traição. Resolvido, apronta a pequena bolsa com roupas e escova de dente, e sem avisar desce para a casa da namorada. Chegando ao cair da noite, não liga vai direto para a casa. Entra acomoda-se no quarto, a espera dela. Adormece. Acorda com alguém o sacudindo e apontando um revolver para sua cabeça. O que está fazendo aqui vagabundo? Sou o namorado de Maggie. Como entrou aqui. Ela me emprestou suas chaves, pergunte a ela. Afinal o que está acontecendo? Levou uma bofetada no rosto. Aqui quem faz as perguntas somos nós, perdeu vovô, está preso. Em seguida chega o delegado e diz: Caso encerrado matou a namorada pra roubar uma merreca, o Senhor Está preso pelo assassinato de Maggie Lancaster. Tem o direito de permanecer calado, e efetuar uma ligação para seu advogado. Aturdido não podia acreditar que sua Maggie estivesse morta, e que a vida havia armado essa cilada, a essa altura de sua vida. Interrogado e torturado, confessou tranquilamente um crime que não cometera. O advogado Dr. Gutenberg, é procurado por Valery filha mais velha de Ozil, explica que seu pai é enrolado na vida, e tem certeza que jamais cometeria um assassinato, muito menos para roubar, era pobre, mas tinha índole, e não tem recursos para a custa do processo. O advogado visita Ozil e de bate pronto pergunta: Porque o Senhor matou sua namorada? Pelo dinheiro? Para roubar o carro? Afinal o que aconteceu, mas fale a verdade, só assim poderei te defender. Sou inocente doutor, jamais mataria alguém, principalmente por motivo fútil. Porque confessou o crime? Fui torturado. Conte os detalhes, como a conheceu, como e porque está de posse das chaves, e porque ninguém sabia do namoro de vocês? Ozil, explicou os detalhes para o advogado, que saiu convencido de sua inocência, teriam que provar para o juiz, advogados e jurados. No dia seguinte, reportou todos os detalhes a Valery, que também saiu esperançosa. Ozil passa horrores na prisão, muitos detentos na mesma cela o ameaçam de morte, não dormia direito com medo de matarem-no. Os mais jovens não o respeitavam, talvez pela idade, ou talvez quem sabe pela maldade. Depois de um longo e tenebroso inverno, chega finalmente o dia do julgamento. Ozil entra algemado no fórum, altivo, encara seus filhos que não sustentam o olhar do pai. Emociona-se, mas contém as lágrimas. Em instantes a batalha inicia-se. O advogado de acusação após mostrar as possíveis provas encerra mais ou menos dessa forma: Senhoras e senhores, após todas essas provas contundentes, estamos convictos que este homem frio, calculista, mórbido, vil, cruel e covarde. É o assassino de Maggie Lancaster, que cometeu um terrível engano, ao apaixonar-se, e abrir a porta de sua casa para um desconhecido. Nesse instante, há um burburinho e a juíza pede silêncio para o prosseguimento do processo. Por favor, Senhor advogado de defesa, suas considerações.
Senhoras e senhores. O amor na terceira idade infelizmente para um novo recomeço, é considerado um tabu. Principalmente quando se conhecem pela internet. Onde alguns sites de relacionamento escondem bandidos, aproveitadores, pedófilos, traficantes à espreita, assassinos cruéis e covardes, aguardando o vacilo da próxima vítima. Porém, não é só de pessoas desse nível que dispõe a internet. Temos pessoas de boa fé, carentes, ingênuas, sonhadoras, que esquecem os perigos por conta da carência, e atiram-se sem direção. Temos nesse caso, duas pessoas da chamada terceira idade, que resolvem assumir um romance. Não importava quanto tempo ainda restava, o que realmente importava, era apenas por um curto espaço de tempo ser felizes. Qual o crime em questão, o lapso de não terem informado suas respectivas famílias sobre o romance. Apenas isso senhores, nada fizeram de errado, queriam apenas e tão somente a companhia do outro. Meu cliente, um senhor de quase setenta anos de idade, não teria motivos para praticar tal crime, e a bem da verdade, nem força. É verdade que tinha acesso a casa de sua namorada, tinha a posse das chaves, mas com o total consentimento dela. Esse homem infartado e ainda doente, desde cedo conquistou a confiança de sua namorada. A terceira idade às vezes se despe da ingenuidade, não enxergam que os tempos mudaram hoje o perigo nos espreita em qualquer tempo de nossas vidas. Às vezes até são contemplados com alguma intuição, mas no fundo são pessoas ingênuas. É verdade. A polícia encontrou um par de tênis no quarto, esse calçado é do senhor Ozil, pergunto o que exatamente isso prova? Apenas que goza de liberdade dentro da casa. Encontraram tufos de cabelos. Ora senhores, ele vai chegar aos setenta anos e logicamente aproxima-se da calvície. A perícia não encontrou impressões digitais no cabo de enxada, que foi a arma do crime. Foram roubados pequenos objetos e algumas jóias, além de $ 4.200,00 – quatro mil e duzentos reais. O meu cliente tem apenas uma conta na caixa econômica federal, onde recebe mensalmente sua aposentadoria. O dinheiro foi sacado da conta da senhora Maggie, em horários diferentes, portanto impossível para um senhor dessa idade ter tanta agilidade, comparando-se a diferença de horários e saques, conclui-se que o assassino ou assassinos estavam de moto ou motos. No presente momento, não há provas que absolvam meu cliente, mas não há provas que o culpem. Por isso peço a... Nesse instante, entra um dos auxiliares do advogado, cochicha em seu ouvido e entrega um envelope. A juíza pede a conclusão, o advogado pede licença para aproximar-se da mesa, na qual a juíza concede. Pediu um recesso por conta da chegada de provas da inocência de seu cliente, imediatamente ela concede o recesso por três horas. Havia 6 fotos no envelope. Mesma data, horários diferentes, dois rapazes e uma das fotos um numero de placa de moto. Um deles foi preso por assalto, o outro a justiça ainda não sabe o paradeiro. O advogado corre até a delegacia, apresenta-se ao delegado (o mesmo que prendeu Ozil), parabéns doutor, o meliante confessou roubo seguido de morte. Seu cliente é inocente. Um agradecimento e um aperto de mão selam um caso com perfeita justiça. Passaram-se alguns dias, e Ozil é finalmente solto. Sua vida ganhou manchetes de quase todos os jornais e revistas além de ter sido amplamente divulgado pela internet, além de TV aberta. Voltou para seu cômodo, onde espera ter a devida paz, que por muito pouco o abandonara. Senta-se no degrau da porta, pensativo percebe-se que a tristeza invade sua alma, lembra Maggie. Não se recorda de ter dito que a amava, levanta-se e diz: Maggie eu te amo, obrigado por existir. Sempre te amarei. Uma pequena luminosidade vinda de um abajur ilumina o rosto de Ozil em seguida ouve em claro e bom tom, obrigada querido! Eu também nunca te disse: Amo você e sempre te amarei. Ozil espantado levanta-se e vê Maggie à sua frente, feliz estendendo a mão para ele, ele pede para não tocá-lo, pois está morta. Oh! Querido acorda, estou aqui em casa perto de você, teve um pesadelo. Ozil não acredita, realmente tivera um terrível pesadelo, parecia tão real. As chaves caem do bolso de Ozil, imediatamente ele as devolve para a namorada, ela sorri sem nada entender. Ele pede que jogue um copo d’água em seu rosto, pra ver se realmente não é sonho. Maggie atendeu. Ozil ajoelha-se e diz: Obrigado Senhor, tudo não passou de um sonho. Levantou-se se aproximou de Maggie e pela primeira vez se beijaram apaixonadamente. Aprenderam que: Nunca é tarde para dizer... Eu te amo.
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Billy Brasil – 24-10-2012 – 18,20 hs. quarta-feira
25-10-2012 - 17,30 hs quinta-feira.
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