A vida eterna
Havia um homem, que pelo medo de morrer, e pelo egoísmo de querer viver mais que as outras pessoas, trocou uma vida de conforto, por uma vida a vagar sozinho sem uma mulher a lhe dar filhos e carinho. Sua ideia tornou-se uma terrível obsessão, o fazendo gastar tudo que seu pai lhe dera, para seguir um sonho que todos julgavam ser absurdo. Sem muito dinheiro ou posses, sempre estudando todo tipo de ciência, alquimia, bruxaria. Visitando todos os tipos de pessoas que se diziam sábios, curandeiros, e até frequentando diferentes religiões, em todos os cantos do mundo. O homem andava frustrado, pois nenhuma ciência ou religião lhe havia dado a resposta que queria. Carregava com ele dois cavalos, um que montava e outro que carregava suas coisas, nada de muito valor, porém alguns artefatos que se diziam mágicos, que talvez pudesse valer alguma coisa. Por sua frustração vivia a maior parte do tempo recluso, extremamente sozinho, viajando por todos os lados atrás de descobrir o elixir da longevidade que muitos alquimistas pregavam, mas que nenhum deles havia lhe provado a existência. Cansado de tanto fazer rituais para deuses e demônios de todos os tipos, pensava em talvez parar finalmente suas buscas e conformar-se com a frustração de não ter conseguido. Talvez em uma cidade próxima pudesse se estabilizar com o pouco que lhe sobrara. No outro dia chegou a um pequeno vilarejo onde havia uma tenda de um senhor que se dizia comprador de antiguidades e objetos mágicos, o homem entrou, e se deparou com um senhor que aparentava ter pelo menos uns cem anos, cabelos e barbas brancas, sorridente magro e alto. Tinha uma alegria em si que contagiava a todos, então o homem indignado com seu fracasso lhe indagou:
— O senhor pode me responder de onde vem tanta alegria? Se seus dias não são muitos!
— Há muitos anos em uma de minhas viagens, eu encontrei o segredo da vida eterna! — Respondeu o simpático senhor.
Mesmo após ter vendido todos os seus artefatos e pensando em se fixar naquele lugar, o brilho nos olhos do homem se acendeu novamente, e segurando a mão do velho negociante, implorou:
— Em nome de todos os deuses, lhe pagarei o preço que for por tal segredo.
— Tal segredo não pode ser comprado, muito menos contado, ele deve ser descoberto. — Respondeu novamente aquele senhor.
— E onde devo procurá-lo? — Perguntou o homem aflito. — O senhor tem um mapa? Juro que não contarei a ninguém!
— Este segredo deve ser descoberto por todos, porém depende da vontade de cada um para descobri-lo, pois ele pode estar na sua frente e você não o reconhecer. Ele é maltratado e ignorado por muitos e seguido por poucos, mestre para uns a ameaçador para outros. Por tanto só descobrirá se realmente estiver preparado para entendê-lo e aceitá-lo. — Respondeu o sábio senhor lhe entregando um pergaminho fechado, com um selo conhecido ao homem, e lhe pediu que só abrisse quando estivesse preparado. O selo da carta era da cidade de Ur, onde já havia passado atrás de respostas para seu conflito pessoal. A carta dizia: “Basta querer se aventurar”
O homem furioso com o pergaminho que julgava ser inútil a sua busca, o amassou e jogou no chão, e em seguida retornou no local onde estava armada a tenda do velho, porém a tenda já havia sido desmontada e não havia mais ninguém por ali. O homem pegou seu cavalo e o que sobrou de sua esperança e continuou viagem, e como estava próximo ao mar, resolveu ir até uma cidade portuária que havia ali perto. Chegando à cidade dirigiu-se até o porto, ao se aproximar viu um garoto gritando aos sete cantos, oferecendo aos viajantes que quisessem cruzar o mar mediterrâneo, uma viagem segura, e a sua última frase dizia: “Basta querer se aventurar”. O homem assustado aproximou-se do garoto e pediu que ele repetisse a última frase, o garoto então repetiu. E mais do que de pressa o homem comprou uma vaga no tal barco que cruzaria até a cidade de Asquelom. Chegando a Asquelom o homem ficou surpreso ao ver o tamanho daquela cidade, andava para todos os lados vendo as grandes tendas de comerciantes que vendiam de tudo. Em meio a total desordem o homem teve suas poucas moedas roubadas e em um impulso correu atrás dos garotos que lhe roubaram, quando deu por si estava em um lugar totalmente estranho e cercado por homens encapuzados, armados por espadas enormes. Com um só golpe apagou-se e acordou já dentro de uma jaula ao lado de outro homem, era um jovem que ao vê-lo acordar o cumprimentou com uma calma invejável:
— Olá viajante, seja bem vindo a Asquelom!
— Para onde estão nos levando? Quem são eles? — perguntou o homem.
— Tenha calma, estão nos levando para os Romanos, são mercadores de escravos.
— E como pode ter tanta calma em tais circunstâncias?
— Hora! E adianta ficar nervoso? — Respondeu o jovem que continuou a falar sobre sua vontade de conhecer os grandes gladiadores romanos. Foram meses de viagem até próximo à cidade de Caná, onde os mercadores passaram a noite. Nesta noite os mercadores foram atacados por homens encapuzados, e entre a sangrenta luta de espadas deixaram que a jaula se abrisse e aproveitando a oportunidade os dois prisioneiros fugiram para o deserto se escondendo onde passaram a noite, para no outro dia seguirem em direção à cidade mais próxima, Caná. Nesta cidade corria um boato de que havia um homem que podia transformar as coisas e curar as pessoas. Parecia que tudo estava lhe dando sinais sobre o que o velho havia dito. O homem perguntou às pessoas sobre o poderoso alquimista que transformava as coisas, pois ele poderia saber o segredo. As poucas pessoas que sabiam lhe disseram para seguir até Jerusalém, pois o tal homem era de lá. Depois de meses viajando como escravo acabou aprendendo a andar pelo deserto, juntou-se a alguns viajantes que seguiam até Hebrom, que se situava duas cidades à frente de Jerusalém, e em alguns meses de viagem de volta ele se encontrava na cidade de Jerusalém, onde ouviu falar de certo homem que multiplicava, transformava as coisas, curava as pessoas, e fazia coisas que todos admiravam. Mas este homem era odiado por muitos, principalmente os governantes. Lembrando-se das palavras do velho sábio, pensou ele que aquele homem pudesse lhe mostrar o caminho para a vida eterna, ou ao menos lhe dizer qual era o segredo. Em um sábado ele foi até um tanque que havia em Jerusalém, onde ficavam os doentes de todos os tipos de enfermidades. Este local havia sido transformado num grande centro de peregrinação para pessoas que pretendiam obter cura através dos alegados poderes curativos das suas águas. Neste dia havia um homem deitado ao lado deste tanque e não conseguia descer até a água, pois sempre descia um antes dele, então se aproximou um homem com uma pequena multidão a lhe seguir, todos o adoravam, mas uma multidão ainda maior o apontava, e o subjulgava. Este homem perguntou ao doente:
— Queres ficar são? — O enfermo lhe explicou sua terrível situação então o tal homem lhe disse:
— levanta-te, tome o teu leito e anda!
Todos ao redor olhavam-se, alguns com o olhar irônico, outros com olhares duvidosos, alguns maravilhados. Após tantos rituais, estudos das ciências e da alquimia, ele nunca havia visto tamanho feito. O tal alquimista tinha a capacidade de curar enfermos que se arrastavam há tempos pelas ruas da cidade, e mesmo mostrando tais poderes divinos, muitos o criticavam. Muitos o perseguiam por ele fazer tais coisas no dia de sábado, que era da lei que não se podia fazer nada. Mas um dia este homem os respondeu:
— Em verdade vos digo que quem ouve a minha palavra, e crê naquele que me enviou, tem a vida eterna e não entra em juízo, mas já passou da morte para a vida.
Ouvindo isso o homem nunca mais deixou de seguir o profeta que se chamava Jesus, que mudou sua vida, o fez se tornar um homem bom de coração, desistindo assim de toda magia, bruxaria, alquimia, e seguindo os ensinamentos de Jesus e seu Deus, Abdicou de toda a sua obseção, e egoísmo e aprendeu o verdadeiro significado da vida eterna.