O Sogro
Enfim o fatídico dia havia chegado. Era o momento de Sidney conhecer o “sogrão”. Seu coração palpitava como uma britadeira. Ao chegar ao portão, suas pernas ficaram imóveis e um sentimento terror o tomou por completo. Respirou fundo, tirou o lenço do bolso e enxugou sua testa umedecida pelo excesso de suor. Sentiu uma vontade imensa em desistir e sair dali correndo, mas como era homem de palavra, não podia voltar atrás. Apertou o botão da campainha com seu dedo flácido e o som que a mesma emitiu foi tão fraco quanto seu desejo. Em segundos saiu Rosana, a responsável por tudo aquilo. Estava mais linda do que nunca e isso o encorajou um pouco. Ao adentrar a casa, passou a vista rapidamente pela espaçosa sala e de cara viu um porta retrato que ele presumiu ser seu sogro. Ele vestia uma farda camuflada e empunhava uma pistola nove milímetros. Petrificado, nem percebeu que por três vezes seguidas Rosana lhe pedia para sentar. De repente uma voz hostil veio surgindo da cozinha e uma enorme sombra antecedeu a chegada do falante. O Coronel tinha quase dois metros de altura e era dono de um corpo esguio. Sua expressão era dura e ele não conseguia disfarçar sua contrariedade:
- Então, você que é o tal Sidney?
- Sim, sim , sou eu sim. Muito prazer! – Esticando seu braço para cumprimentar o Coronel.
- Prazer, a tá , prazer. – O coronel o cumprimenta deixando sua mão completamente destroçada.
- Rosana, vá até minha adega e traga um Merlot. Não precisa ser de uma boa safra não.
Aproveitando a ausência momentânea da filha, o Coronel foi tratando logo de dar seu ultimato.
- Escuta aqui seu maloqueiro. Se você pensa que vai ficar só na curtição com a minha princesinha, você está muito enganado. Não fui com a sua cara e vou marcar cerrado. Não vou te dar sossego. Só aceito essa situação para não contrariar minha filha que já sofreu demais com a morte da mãe.
Nesse momento a filha retorna e nota que o clima entre os dois ainda não estava amistoso.
Com o vinho, Rosana trouxe também um dvd de um show que Sidney havia lhe emprestado. Enquanto o pai se encarregava de abrir a garrafa, Rosana colocou o dvd para rolar. Após o brinde o Coronel ficou olhando indiferente para a tv. De repente, após Bono Vox ter terminado sua parte na canção Miss Saravejo, surge Pavarotti com sua voz estupenda cantando a plenos pulmões. O pai repentinamente cai em pratos, deixando os dois presentes atônitos. O Coronel sem conseguir conter-se já em soluços confirma com Sidney:
- Esse dvd é seu mesmo?
Sidney responde relutante:
- Sim, é meu.
E o Coronel com um sorriso emocionado diz:
- Então me dá logo um abraço vai. Seja bem vindo meu filho!