Conto

Ele saía caminhando pelas ruas com os passos apressados de quem finge o mínimo de serviço. Olhou para o lado esquerdo, onde havia, em ordem, o café, a padaria, a loja de doces, a loja de roupas e o açougue, e acima deles cresciam prédios entulhados de pessoas disputando por espaço, por uns poucos metros a mais de cozinha ou banheiro, por um lugar a mais na consideração de uma outra pessoa ou por um pão a mais no café-da-manhã. Olhou para a direita e viu a farmácia, cheia de pessoas doentes por pensarem que estavam doentes, a locadora, a tabacaria e um modesto cinema.

Ignorou a maioria das lojinhas, parou por instantes, pensativo, enquanto os outros transeuntes continuavam suas vidas, vez ou outra batendo ombro com o ombro dele. Enfim, seus pensamentos voaram de sua cabeça, como é de costume, e não conseguiu lembrar de uma

palavra do que havia pensado. E logo, maquinalmente, dirigiu-se à tabacaria. Olhos firmes no homem grisalho à sua frente e as palavras - que para ele saíam vomitadas, mas para o homem grisalho saíam completamente normais - finalmente saíram de sua boca: "Dê-me um cigarro". Parou, hesitou, limpou o suor da testa com a manga de seu paletó, admirou a simplicidade do vendedor e conseguiu esboçar um leve sorriso. Pagou e saiu.

Deu alguns passos difíceis em direção ao banco de madeira na pequena praça daquele bairro. O banco situava-se logo abaixo de uma grande árvore verde com algumas folhas amarelas. Alguns pássaros cantavam e seguiam livremente seus instintos, não se importando com a situação das pessoas que estavam grudadas pela força da gravidade no chão ali embaixo e nem com as nuvens escuras que se antecipam às chuvas. Sentou-se àquele banco e acendeu um cigarro. Primeiramente, olhou para o isqueiro em sua mão direita. Conseguia visualizar o cigarro em sua boca, a mão esquerda repousando sobre a sua perna esquerda, que por sua vez estava em cima da perna direita, e só então percebeu que estava de pernas cruzadas. Tragou, coçou a barba e olhou para seus pés, enfiados em meias e sapatos, que pisavam a grama. Não se contentou em apenas pisar a grama, então inclinou-se e passou a mão direita pela grama que exalava seu cheiro próprio de relva úmida. Como nunca havia prestado a devida atenção nessa relva úmida? Recostou-se no banco, olhou por sobre os ombros e viu um jovem casal de namorados em um piquenique à francesa: pão, queijo, vinho. Acendeu outro cigarro. Ficou atordoado com o pensamento de que a relva crescia ali, sob seus pés, enquanto ele estava ocupado demais para perceber que a vida alheia a si também existia, mesmo que ele não percebesse o quanto a simplicidade de alguns metros de grama influencia na complexidade de todo um globo girando. Um globo cheio de pessoas atarefadas cujos trabalhos são demasiados exigentes com elas próprias, assim impossibilitando-as de parar alguns segundos para contemplar a relva que cresce sob seus sapatos de couro.