Primeira Habilitação
Papai eu quero tirar a minha carteira de motorista - dizia a filha mais velha do senhor Alberto.
Marina e Marília, como se fosse hoje, assentadas no sofá da sala, em plena noite de lua cheia riam sem parar da cara que o “poi” delas fez.
Vale lembra que “poi” era o nome carinhoso que elas puseram naquele viúvo de cabelos grisalhos.
Do nada o sr. Alberto disse: Luísa, eu pensando como vou colocar gasolina no carro para leva-las a escola durante a semana e você falando em carteira. Você ainda nem sabe dirigir direito.
Poxa poi- retrucou a menina.
Depois de um sorriso largo, em par com Marina e Marília. O Sr. Alberto falou:
- filha faça a sua inscrição na escola e vá as aulas. Deixe que o resto a gente dá um jeito.
Depois de quase um mês de curso, veio a prova teórica, que Maira passou errando duas questões. Mais dois meses e meio de aula e Mairinha estava pronta para fazer a tão temida prática.
Os dias andaram tão depressa que quando se percebeu já era outubro. E no dia 03 de outubro de 2012 lá estava outra vez a menina Maira, passando por uma prova de fogo.
Já passava do meio dia e a prova estava tão quente quanto a tarde do norte. Maira, Marina, Marília e o Sr. Alberto estavam lá naquele momento, que marca qualquer família. A fome logo foi esquecida, por causa do nervosismo que o local emite.
A pensar, não é fácil. Mais de cinquenta candidatos, oito monitores com a cara de mau e a fama de lobo.
Durante a prova prática de inicio dez pessoas foram eliminadas. Uma senhora ao fazer a baliza encostou no protótipo do carro e foi reprovada; um rapaz, no mesmo carro que Luisa iria fazer a sua prática, ao sair da baliza, antes da placa “Pare” esqueceu de ligar o pisca para direita e dobrou. O coitado, pai de família, necessitando para emprego, foi reprovado.
Estefani, filha de um amigo do Sr. Alberto arranhou a marcha na baliza e perdeu dois pontos; Dona Maria, já com os fiscais dentro do carro, ia saindo de ré, para a sua prova de percurso, quando alguém por trás dela passava. Ela freou bruscamente para não bater. O Fiscal a mandou estacionar o carro. Dois segundos depois ela saiu do carro chorando copiosamente. Tinha sido reprovada...
Assim foi pela tarde toda, uns aprovados outros reprovados até que chegou a hora da Maira.
Nervosa aos montes, pois já havia ido ao banheiro umas seis vezes, comprado bombons umas três e tomando suco de maracujá, quando o seu nome foi, enfim, gritado.
Antes de dar os passos em direção ao carro o seu “poi” fez umas recomendações acerca das observações dele e ela seguiu cheia de boa sorte bradado por suas irmãs.
Dezessete horas ela entrou no carro e foi fazer a baliza. Saiu de lá vitoriosa e foi direto ao estacionamento esperando ser chamada para o percurso.
Trinta e cinco minutos depois da primeira vitória ela recebeu no carro um senhor de chapéu de vaqueiro e um rapaz moreno alto. Eram os fiscais, que ia julgá-la no percurso. Saíram e o coração do senhor Alberto, de Marina e Marília batiam na intensidade do silêncio e do avançar das horas.
No primeiro obstáculo ela ao aproximar da placa de sinalização, ligou o pisca para a direita. Em seguida parou e depois dobrou seguindo o seu destino com o conhecimento adquirido.
A torcida não sabia se seguia ou se ficava. O senhor Alberto dizia:
- Vamos ficar atentos, se ela vir dirigindo ela passou, mas se o fiscal vier dirigindo ela ficou reprovada.
As meninas faziam as suas apostas, quando exatamente as dezessete e cinquenta e cinco chegava Maira desfilando com se tivesse vencido a formula um.
Todos se abraçaram e festejaram. Ela havia sido aprovada.
Que felicidade.
No outro dia, depois de ir ao hospital com a sua tia e Marina. Maira foi posta a prova por sua tia Tereza, que ao se despedir das duas meninas disse a Maira: filha eu vou acompanhar a tua avó aqui e tu leva o carro para casa!
A menina até entendeu, mas quis dar ênfase, fazer um pouco de charme, e disse: - Como assim levar o carro.
Ora, levar o carro para casa, dirigi-lo até em casa! Sentenciou a tia.
Só que ao chegarem na frente do hospital o carro estava entre dois outros veículos. No entanto, olhando para Marina, apesar do frio na barriga, a menina não se fez de rogada. Assentou-se no local da condução e autoritariamente disse a Marina:
- Vai me guiando ai!
No alto da janela do hospital estavam conversando, observando duas senhoras. Quando Marina guiando disse: - Vai Maira! Vai. Tá bom, tá bom...
E bum!
Bateu Maira!... bateu. E mesmo Marina gritando Maira não ouvia. E só percebeu, quando abriu a janela e viu que o carro não ia mais para trás.
Lá do alto as senhoras gritavam, dando alarde do acontecido, para ver se o dono chegava, mas Maira, mesmo com as pernas tremendo, conseguiu chamar Marina para dentro do veiculo. E mais do que depressa se arrancou, rindo para não chorar. Deixando para trás apenas a lembrança da prova de fogo nas ruas da cidade de Macapá.
Sai da frente que tem mais um novo motorista nas ruas.