OLHAR PARA TRÁS
Mariana deitou-se no sofá perdendo-se em reminiscências de um passado que já ia longe. Ela rememorava cada detalhe de sua vida, de suas dores, de seu sofrimento silencioso de ver partir a esperança de um futuro pleno. Só lhe restaram as responsabilidades, a dor mascarada num sorriso, a ilusão de que tudo estava bem, a esperança de que tudo ficasse bem.
Mas ela se recordava de que, apesar de todo o seu esforço, nada mudava, só se agravava. Dentro dela sentia-se morrer dia a dia. Novos golpes lhe foram dados pela vida, a madrasta cruel de todos nós. Mas ela continuava a sorrir o sorriso triste dos que tem a alma em destroços.
Para que tanta lealdade? Tanta decência e dignidade. Dignidade por quê? Para quê? Por quem? Dignidade inútil, que nunca minimizou as chagas abertas em seu peito.
Nada mudou, nada melhorou. Restaram ela, a solidão, uma imensa tristeza e um sorriso sofrido e mentiroso.
Emar Vigneron – 22/10/2012 – 10:24