Diga-me seu nome que lhe direi quem és
- Acorde jovem. Um lindo sol já raia lá fora...
A Irmã Maria estava preocupada. Na noite anterior, quando voltava ao convento, encontrara esse tal rapaz. Estava atirado, adormecido em um banco. No momento, o padre Morales logo ordenou:
- Tire esse jovem filho de Deus das ruas, Maria. Dê-lhe uma roupa limpa e uma boa cama para dormir.
Ele só acordou no dia seguinte.
- Acorde jovem, o café está servido.
Aos poucos ele foi abrindo os olhos.
- Está tudo bem? – perguntou a irmã Norma.
- Onde estou? – retrucou o visitante.
- Você está em boas mãos, sob os cuidados do Nosso Pai, no Convento de Santa Clara, em Milão. Qual o seu nome?
- Não sei, quer dizer, não lembro... Raios! Quem sou eu?
As irmãs perceberam que se tratava de um caso raro de amnésia. Trataram de acalmá-lo, pois tinham muito a descobrir.
- Seu nome é Hans Desgarred, moço. – afirmou a irmã Norma, com uma carteira de identidade em suas mãos. Você nasceu em Modellin, na Alemanha.
- É? Eu não consigo lembrar...
- É uma cidade linda, com uma cultura maravilhosa, afirmou o padre Morales. Lá todos são cordiais, cultivam lindas famílias e, sempre, sempre, são muito trabalhadores. Tenho certeza que você é um ótimo rapaz e que recebeste uma ótima educação.
- Como sabes que não sou um grosseiro?
- Impossível filho. Você fala um italiano perfeitamente fluente, se não fora pelo suave sotaque germânico, duvidaríamos de sua descendência tão aparente. O sangue alemão corre em suas veias. Ou seja, você foi bem educado, e provavelmente sabe falar outra língua como o inglês. Em Modellin, a educação é extremamente eficiente e da maior qualidade. Os melhores professores, formados nas mais renomadas universidades, são portadores dos maiores acervos científicos, e transmitem a seus alunos todos os saberes ao alcance do homem. Por mais que pouco se lembre agora, filho, vejo que tens uma mente iluminada, libertada dos maus pensamentos, focada no que é certo para você e para o mundo. Você é um homem justo, um homem correto, Hans: você é livre.
- Livre? Como sabes que não sou um foragido, um criminoso, um bandido?
- Não és Hans. És um menino de Jesus. Assim que te vi, pude perceber que carrega em seu peito um lindo crucifixo, ornado em um esbelto e refinado material. Você é crente nas palavras do Senhor, e por virtude e essência, não deixar-se-ia levar pelos caminhos da violência, do medo e do outro lado da força.
- Obrigado senhor, já me sinto melhor. Mas você me disse que sou um rapaz trabalhador, qual será o meu ofício?
- Você é professor de biologia. – afirmou uma das irmãs, mostrando os livros de botânica encontrados em sua mochila.
- Isso mesmo, comadre. Hans é um grande professor. Por sua facilidade retórica, percebemos ter um grande potencial. Tem em si o poder da curiosidade, de buscar o conhecimento em todos os livros que esse mundo dispuser. Pela facilidade de aprender novas línguas, podemos dizer que você é um homem muito sábio, um sujeito dos mais evoluídos.
- E também um grande pai – disse uma das irmãs, mostrando as fotos de dois meninos encontradas em sua carteira.
- Os homens de Modellin carregam uma das tradições mais belas de nosso cristianismo: a paternidade. Você ama seus filhos, Hans, olhe para eles! Você não os ama? Você lembra deles?
- Não com clareza, mas já sinto! Sinto que os amo! Já não basta sentir?
- Com certeza Hans! Agora vamos comer, o café está servido. Tenho certeza que, com nossa intervenção, logo logo vai recuperar sua identidade.