"O ALEIJADO NOJENTO" Conto de: Flávio Cavalcante
O ALEIJADO NOJENTO
Conto de:
Flávio Cavalcante
Existem fatos na vida que a gente só acredita se vir o fato acontecer diante de nossos olhos. Como é o caso dessa história que narro agora. Foi contada por um amigo que merece todo meu respeito e que se fosse outra pessoa que me falasse eu juro por tudo quanto é mais sagrado que eu não acreditaria.
Esse meu amigo é dono de um bar em Realengo e todos os domingos o forró é uma loucura. Tecladista de primeira qualidade. Dançarinos que nunca passaram na porta de uma academia nem pra dar uma boa noite. Mas estão lá mostrando seus passos desencontrado, achando que estão abalando bangu (Gíria).
Tem umas figuras que frequentam o bar, que não precisa ver programa de comédia em televisão, pois lá dá pra derramar lágrimas de tanta gargalhada. E esse fato que aqui estou narrando, foi com um desses frequentadores moribundos do bar do Barbudo, conhecido na região.
Em um determinado domingo, lá pelas tantas horas, um aleijado dançava com a sua muleta de forma estranha e engraçada. Mas até aí tudo bem, porque cada frequentador daquele ambiente tinha a sua particularidade e era uma comédia melhor que a outra.
Depois de se esbaldar de dançar com a muleta fazendo-a de uma dama das Carmélias, o forró foi se agitando cada vez mais e todos dançavam no salão que não cabia mais ninguém á ponto de afastarem as cadeiras na tentativa de arrumar um espaço para comportar mais dançarinos desajeitados. O aleijado ficou no meio do tumulto e a poeira começou a subir chegando a incomodar o dito portador de deficiência que já estava sendo levado á dança, mesmo sem querer, acompanhando o ritmo com a sua muleta. Devido o salão está empoeirado ele tentou se esquivar pois, carregava um problema de alergia crônica e depois de alguns empurrões conseguiu se safar, mas já com o nariz em coriza. Sentou num tronco bem próximo ao tecladista e por causa de sua alergia, suas ventosas foram o incomodando e daí não deu outra, teve que liberar aquele espirro que mais parecida uma bomba no Vietnã. Nesse inesperado espirro voou o restinho de dentes postiços que ele comportava dentro de sua boca que mais parecia um maracujá de gaveta. Mas quando a pessoa tá de azar tudo de ruim acontece e com ele não foi diferente. Aquela perereca faltando alguns dentes, caiu exatamente no lugar onde não devia. Dentro de um bueiro de esgoto. Segundo o Barbudo o mais engraçado foi a cara que ele fez com a boca murcha sem nenhum dente na boca. Não sabia ele que o Barbudo estava observando cada passo e cada gesto seu.
No meio daquele tumulto. Forró á toda prova, dançarinos nada convencionais, um cantor que tentava dar notas agudas e, no entanto se atrapalhava acabando em algumas desafinadas. Acho que por ele estar perto demais das caixas acústicas e já com o pote cheio de cachaça e sem um dente sequer na boca, ele resolveu criar uma situação inusitada. Conseguiu levantar a tampa do esgoto onde havia caído a sua dentadura. O Barbudo por sua vez não estava acreditando no que estava vendo e caiu em gargalhadas perdidas ao vendo com o barulho do som que estava nas alturas.
O Aleijado beberrão surpreendeu ainda mais entrando de cabeça no buraco do esgoto e o Barbudo só conseguia ver as pernas do homem pro alto. Ele conseguir mergulhar de cabeça no bueiro atrás de sua preciosa dentadura. E o pior é que fora o Barbudo ninguém mais viu essa façanha. O dito não sossegou enquanto não conseguiu realizar a sua façanha. Finalmente o dito cujo aleijado nojento conseguiu sair daquele bueiro ileso, mas a maldita dentadura estava suja de terra de esgoto. Mesmo sabendo que a dentadura estava fedendo a cocô, ele não conseguiu deixar transparecer a felicidade por ter a recuperado.
O barbudo disfarçou e ficou esperando qual seria a próxima façanha do aleijado. E mais uma vez ficou perplexo com a reação dele, que chegou ao balcão, pediu uma dose de cachaça 51, mergulhou a dentadura no copo tirando a terra do esgoto, fazendo uma espécie de lavagem e depois a enfiou na boca como se nada tivesse acontecido, segundo ele, a cachaça mata qualquer tipo de germe.
QUE ALEIJADO NOJENTO!!!
Flávio Cavalcante.