ABELHAS PERSEGUEM POLICIAIS. LIA LÚCIA A. DE SÁ LEITÃO - 14/ 10/2012

Tenho acompanhado com muito apreço jornais sensacionalistas do Recife e Olinda. Não tenho interesse em responsabilizar ninguém pela divulgação, pelo apontamento das matérias, ao contrário, aqui as emissoras de televisão que trabalham com essa comunicação de massas é confiável e séria.

Apelativa é fato!

Mas o povo gosta da sangueira em minúcias.

Descobri nesses dias que alguns intelectuais renomados, doutores, mestres, misturam entre jornais de circulação normal, natural, tabloides sensacionalistas de vinte e cinco centavos.

O mais divertido que fui suficientemente indiscreta para puxar da mão de um querido arqueólogo, um desses tabloides.

Afirmei: que gostava de saber sobre a produção diária da máquina de fazer defuntos. Ele olhou sério e disse assim: eu não! Apenas estudo o evento. Esqueceu que sou antropólogo e preciso de dados para estudar algumas mudanças comportamentais da sociedade?

Retruquei, hum! Que tolice negando a miséria humana pela miséria humana!

O olhar do saber versus a realidade incluta e nada bela. Assumo! Eu não perco um exemplar, coleciono-os!

Sirvo de mau exemplo, mas cada um tem um vexame no juízo e esse é o meu o inusitado da barbárie humana, nomes, atos, fatos e destino final.

Pois bem, já estendi demais o que não interessa, agora vamos ao fato.

A periferia de Olinda é composta por uma população humilde, beira a miséria, beira rio, maré, ou canais fétidos. Tem também outros bolsões que inspira alguns cuidados sociais, e o fato da colmeia, bandidos e polícia aconteceu na comunidade do V8, nunca entendi porque V8, nunca ninguém me explicou certinho o que é V8.

A polícia pernambucana é eficiente. Ouço críticas de um e de outro, mas as vezes que necessitei de apoio encontrei homens sérios, robustos e fiéis ao trabalho. São homens destemidos que saem pelas vielas e ruas de peito aberto, homens que enfrentam o perigo com a mesma coragem que sustentam a família com um salário vergonhoso para tamanha dignidade e risco. Defendo o policial pernambucano pela bravura.

Se não me falha a memória, são os policiais militares que saem em busca de traficantes, assassinos, toda corja meliante, o policial civil exerce o poder de prisão e iniciam as investigações criminais e encaminham depois de concluidas para a justiça. É uma dinâmica!

Certo dia, uma guarnição militar recebeu ordem de averiguar suspeitos de tráfico de drogas naquela comunidade do V8. A imprensa sedenta de furo de reportagem seguiu atrás das várias viaturas, o barulho da sirenes, policias com os canos das armas aparecendo por fora das janelas dos carros, velocidade! Entraram numa viela, entupiram o beco de carro que mal dava para passar de um lado para o outro. Fazia tempos que não saiam tantos policiais juntos, quase um batalhão. Pularam poças de lama, regos de água podre e esgoto a céu aberto, descuido da prefeitura.

Passaram suando de armas em punho! Aquele suor não era medo e sim o calor de quarenta graus sme esquecer o colete com prazo de validade vencido, isso também existe!

Lá longe um grupo de rapazes reunidos ao redor de um sofá velho.

Os policiais deram voz de prisão, os rapazes riram.

Os policiais avançaram, os rapazes nem se mexeram, os policiais apontaram armas, os rapazes não fizeram nada, apenas ficaram um pouco mais sérios, os policiais em passos firmes chegaram ainda mais próximos e os rapazes se protegiam atrás daquele velho sofá velho para três pessoas.

Os policias começaram a revirar lixo, apalpar moradores homens que desavisados passavam pelo local, uma ação para ser filmada.

Os jornalistas corriam agachados e arfando com receio de um desencadeamento de violência e tiroteio.

As mulheres assustadas puxavam crianças para dentro das casas e fechavam as portas.

Os menores, maiores que as crianças e menores que os adultos, corriam em disparada pelas vielas.

Os rapazes do sofá mais sérios, o clima ficou denso e tenso, a poeira da rua colava na pele, o suor, o coração disparado, armas, gritos, choros, algum insulto de uma mãe desesperada.

Os policiais finalmente chegaram frente a frente dos rapazes.

Houve aquele momento que dá um calor nas orelhas e um frio que sobre do coccix ao pescoço, os dentes rangem numa contração e o coração acelera. Chegou aquele momento que se começa rezar e não se sabe o nome do Santo de devoção.

Quando a polícia apertou o cerco aos rapazes e eles se entrincheiravam ainda mais atrás daquele sofá, um policial pede pelas drogas embutidas no sofá, os rapazes mais sérios gritam, se tem drogas venham buscar!

Os policiais investem, os rapazes chutam e rolam o sofá na direção dos policiais que incrivelmente rola e cai em pé e aos pés dos policiais.

O susto do pelotão de frente, sem ordem para agir com violência estancam diante do sofá.

Olham para aquele objeto velho e furado, os rapazes batem em retirada por canais e vielas, e os policiais ávidos para encontrar as drogas do capeta, metem a mão no buraco do sofá e agitam ainda mais uma colmeia de abelhas africanas ali instaladas.

As abelhas revoltadas daquela quebra de paz, voam em enxames que mais pareciam a força aérea para cima dos policias que rolavam no barro daquele largo que seria uma praça, promessa de um ex prefeito.

Outros policiais corriam em retirada pelas vielas, os jornalistas se entalaram entre as paredes das casas e as viaturas que interrompiam a passagem.

E assim um dia de horror se instalou na localidade, ninguém foi preso, não se encontrou a pedra do cão. Embora não haja registros de consumos de drogas naquele instante, algumas pessoas ficaram intoxicadas pelos ferrões das abelhas e assim o rabecão do IML deu lugar para as ambulâncias do SAMU e as viaturas carcerárias aos carros do Corpo de Bambeiros. O hospital da Restauração no Recife não recebeu corpos perfurados por chumbo mas furos de ferroadas, e assim entre ferros e ferrões nada como algumas pomadas anestésicas para curar os caroços na pele.

Lia Lúcia de Sá Leitão
Enviado por Lia Lúcia de Sá Leitão em 14/10/2012
Código do texto: T3932027
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